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Barqueiro e guardião do castelo

Barqueiro e guardião do castelo

João António do Carmo, 59 anos, passeia turistas no Tejo junto ao Almourol

João do Carmo é barqueiro. É ele quem passeia os turistas pelo Tejo e os leva a visitar o castelo de Almourol, junto a Tancos, Vila Nova da Barquinha. Uma actividade que exerce com gosto, ou não fosse um apaixonado pelo rio.

Nasceu no distrito de Castelo Branco, na primeira aldeia da Beira Baixa entre Ocreza e o Fratel, há 59 anos. O pai trabalhava na barragem do Fratel e João António do Carmo seguiu-lhe as pisadas do contacto com o rio, mas mais a jusante no concelho de Vila Nova da Barquinha para onde se mudou aos 13 anos. Arranjou emprego na hidraúlica, no posto de telemedidas junto ao castelo de Almourol, e aos 45 anos encetou uma nova fase da vida e passou a barqueiro.“Nasci entre o Tejo e o Ocreza e sempre gostei do rio”, confessa. Na sua vida activa foi funcionário da hidraúlica junto ao castelo de Almourol. Era ele que controlava a subida e descida das águas e alertava para a eminência de cheias. “A maior cheia que passei foi em 1979, a água aqui junto ao castelo subiu 11,66 metros. Esse número ficou bem marcado na memória, estive 45 dias e 45 noites de serviço, só dormia aos bocadinhos”, recordaMas apesar do susto a água nunca lhe meteu medo – “deve ter sido porque nasci entre dois rios” – e aos 45 anos aceitou ficar com quatro lanchas que fazem o transporte para o castelo e levam os turistas a passear no Tejo.“A bem da verdade o negócio foi oferecido ao meu filho, como ele não quis acabei por aceitar”, conta. Desde então, há 14 anos atrás, que os seus dias são passados junto às muralhas graníticas da fortaleza construída por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171.João Carmo além das lanchas, ou picaretos, é também responsável pela abertura e fecho do castelo. Abre as portas pelas 09h30 e encerra às 17h00, de Inverno, e cerca das 20h00, no Verão. Depois são horas de regressar a casa.Se o tempo está mau não vale a pena ir para o cais fronteiro ao castelo, ninguém aparece por lá. Mas mesmo no Inverno, se não chove, há sempre alguém que pede para dar uma volta à ilha. “Os melhores meses são Julho e Agosto. Nessa altura há muitos passageiros diariamente. O problema é que nem sempre se pode navegar, porque o Tejo não tem água”.Conhecedor dos caudais, João António do Carmo considera que seria preferível manter um caudal médio, do que abrir ocasionalmente as comportas das barragens. “O que fazem por duas vezes deviam distribuir pelos sete dias da semana e havia sempre água”.Esta circunstância faz com que, por vezes, os visitantes partam sem ser possível dar a volta à ilha e dantes só os estrangeiros mostravam curiosidade por fazer esse passeio. De há uns anos para cá a situação alterou-se e João do Carmo tem transportado muitos portugueses.Dos turistas estrangeiros os mais entusiastas pelo castelo são os norte-americanos. Ficam sempre deslumbrados com o estado selvagem de toda a envolvência. “Gostam muito e ficam admirados de nem um restaurante ter sido construído aqui perto”, continua o barqueiro.Para além dos turistas, as lanchas de João do Carmo – baptizadas com os nomes de Almourol, Castelo, Gualdim e Tejo – já têm sido contratadas para transportar actores, actrizes, realizadores e a enorme parafernália de coisas necessárias à rodagem de filmes, telenovelas ou video clips.Que se recorde já foram ali feitas filmagens de dois filmes franceses, um holandês, a telenovela brasileira “O Beijo do Vampiro”, uma outra portuguesa e muitos nomes da canção nacional têm passado por ali.Mas também políticos. Sousa Franco foi um deles, tal como António Gueterres - “Na campanha eleitoral em que ele foi eleito primeiro-ministro, fui eu que o levei na minha lancha do Almourol até Vila Nova da Barquinha.Um passeio mais longo do que os que faz habitualmente. Como é guardião do castelo nunca se afasta muito. Os passageiros dão a volta à ilha e regressam ao cais. O passeio custa 75 cêntimos por pessoa e se a volta incluir uma subida ao castelo, João do Carmo cobra o dobro.O dinheiro reverte directamente para si, uma vez que é ele o dono dos barcos, está colectado e explora o negócio. “Por enquanto é assim. Depois, quando fizerem o museu no castelo, logo de vê como será”.Nas horas mortas, enquanto espera pelos turistas, João do Carmo lê, cuida de uma pequena propriedade que tem junto à margem ou pesca à cana. Mas para isso é preciso que o peixe arribe e com a falta de água, principalmente este Inverno, a pescaria é muito fraca.Outro dos entreténs é dar comida às dezenas de patos que povoam o rio. O barqueiro – que não usa remos, porque as suas lanchas têm motor – diz que lhe ofereceram duas fêmeas e um macho de patos bravos. Para os fixar no local comprou 40 patos mansos, mas roubaram-lhos todos. “Só deixaram os bravos e por aqui ficaram”. Margarida Trincão
Barqueiro e guardião do castelo

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