Magusto é prato do dia em Santarém
Campanha gastronómica visa recuperar prato tradicional da região
Durante o mês de Março, trinta restaurantes do concelho de Santarém vão ter nas suas ementas magusto, um prato de origem nortenha que há mais de um século faz parte da ementa regional ribatejana.
Entre o magusto tradicional do norte do país e o magusto que se faz na nossa região há muitas diferenças. Se no primeiro caso se usam castanhas, no Ribatejo o magusto é feito com couve, bacalhau, pão de milho e trigo e batatas.É pelo menos assim que o confecciona Joaquim Rum. Agricultor de profissão, agora com 75 anos e já reformado, este natural de Alcanhões, Santarém, caldeirou vezes sem conta magusto para ele, para a família e para os colegas de trabalho. Por isso foi o escolhido para confeccionar este prato na apresentação da mostra gastronómica promovida pela câmara.Aprendeu com o pai, também homem do campo, e a forma como prepara o magusto é a mesma de há um século atrás. Leva a caldeira ao lume com o bacalhau, água e sal até ferver, depois mistura as batatas, as couves, que são enroladas, torcidas e cortadas com a mão e não com uma faca, coloca o alho, o pão de milho e de trigo às fatias e deixa ferver uns minutos.Depois dessa primeira fervura, escorre a água da caldeira, tira o bacalhau para o lado e esborracha as couves e o pão com um garibaldi, uma espécie de colher achatada. Com tudo misturado rega com azeite e leva a cozer mais uns minutos. Depois é só passar tudo para um prato e matar a fome.Há também quem faça o magusto com bacalhau assado na brasa, que depois pode ser servido em posta ou desfiado em lascas, mas Joaquim Rum, prefere cozido. É uma questão de gosto e de poupar tempo. “Quando andávamos a trabalhar no campo tínhamos de cozer isto em 15 ou 20 minutos porque só tínhamos uma hora para almoçar. Às vezes nem isso”, recorda.Nesses tempos o bacalhau era quase só para dar o gosto porque a carteira não dava para mais e uma posta era dividida pois dois ou três homens. Joaquim Rum conta que o magusto era um prato confeccionado essencialmente no Inverno, altura em que as couves eram mais tenras.Ao magusto feito no Ribatejo também há quem chame couves a murro de Alcanhões. A preparação da comida, a que os antigos chamavam caldeirar, era um momento importante e que criava e reforçava amizades. Só depois de caldeirarem em conjunto é que os homens se começavam a tratar por tu. “Chegavam a comer vinte e tal da mesma caldeira”, recorda Joaquim Rum.Para recuperar este prato e reintroduzi-lo nas ementas dos restaurantes do concelho, a Câmara de Santarém lançou a campanha gastronómica “ O Magusto”, que vai decorrer durante todo o mês de Março. O presidente da autarquia, Rui Barreiro, salienta que a iniciativa é apenas um pequeno empurrão, porque o passo decisivo terá de ser dado pelos restaurantes, que terão de incluir estes pratos regionais no seu cardápio.Além desta campanha com o magusto, mais perto do Verão a câmara irá ainda lançar uma outra dedicada ao borrego e, no fim do tempo quente, regressará com a mostra gastronómica do tomate, azeite e alho, repetindo uma iniciativa que já se realizou em 2004.
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