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Curar bebedeiras com leite

Curar bebedeiras com leite

Um professor de ioga de Tomar aconselha a técnica mas só com um médico por perto

Um professor de ioga quis exemplificar como uma bebedeira se cura com leite, mas na quinta-feira nenhum ébrio se apresentou no auditório da biblioteca de Tomar para servir de cobaia.

É uma noite fria de Inverno. Um indivíduo entra num restaurante, aproxima-se do balcão e pede um copo de vinho. Um pedido que a empregada nega – “não lhe vendo nada, o senhor já vem tão bêbado”. Ele insiste, ela volta-lhe as costas. Alguém na sala diz a brincar - “bebe leite”. E o indivíduo não se faz rogado – “pagas-me uma selha que eu bebo”. Em cinco minutos o homem bebeu meio litro de leite frio e “apagou-se” – deitou a cabeça em cima do balcão e ali fica, imóvel, durante precisamente 21 minutos. Ao fim desse tempo levanta a cabeça, desencosta-se do balcão e, lúcido, começa a conversar como se nada se tivesse passado. Estava curado da bebedeira.O episódio levou um professor de ioga de Tomar a questionar o poder curativo do leite e a querer experimentá-lo junto da comunidade. Mas na quinta-feira, 17, ninguém alcoolicamente bem disposto apareceu no auditório da Biblioteca de Tomar para uma demonstração real.Os quatro homens que se encontravam na sala pareciam mais interessados em saber como mandar para trás das costas as dores de coluna, primeiro tema da conferência do professor de ioga.Na primeira hora falou-se do poder curativo do chá de aloé vera, das compressas de argila para os males da coluna e de banhos vegetais para rejuvenescimento geral. Informações preciosas para as cerca de duas dezenas de mulheres, quase todas de meia idade, que se encontravam na sala.Da famosa cura da bebedeira, João Antunes apenas pôde expor a sua tese, já que não havia matéria-prima para a experimentar. Não havia bêbados nem leite, o que leva a supor que o professor de ioga já deveria estar a contar com a ausência de “cobaias”. A meio da palestra, três homens assomam à porta do auditório. Têm ar de quem gosta de beber uns copitos mas não se perdem na sala. Cinco minutos de conversa basta-lhes para dar meia volta e saírem de fininho.Cá fora, no pátio da biblioteca, discutem o tema. A. M. Lopes, o mais novo, explica aos colegas que a técnica não é nova. O homem parece saber do que fala – “Há anos que sirvo às mesas e já vi utilizar muitas vezes o leite para curar uma bebedeira, até em noivos”, diz o senhor Lopes, que atesta a veracidade da teoria.“Não sei se a bebedeira desaparece em 21 minutos, não contei o tempo, mas que um homem fica fino outra vez, isso é verdade”, diz. Ele próprio só não fez já a experiência por uma razão muito simples – não gosta de leite.O companheiro do lado não parece muito contente por ter perdido o seu tempo. “Se sabias a técnica podias já ter dito, escusava de ter vindo aqui”, refila, enquanto A. M. Lopes o vai sossegando – “pensei que fosse uma técnica nova, se soubesse que era a velha teoria do leite não te tinha dito nada”.Com uma barriga proeminente, o reformado, que não quis pôr o seu nome na praça pública, fez um ar aborrecido e seguiu o seu caminho. Talvez até ao café mais próximo. “Ele gosta de entornar uns copos mas leite só bebe no dia seguinte, na ressaca”, confidencia o empregado de mesa a O MIRANTE.Seja nova ou velha, a teoria do leite para curar uma bebedeira parece dar resultado. Há no entanto que tomar algumas precauções. O melhor mesmo é ter um médico por perto já que nem todos poderão suportar leite em cima de tanto álcool, tornando a emenda pior que o soneto.“Eu, se bebesse álcool de qualquer espécie, teria sempre o cuidado de recorrer a este «medicamento» assim que sentisse o mais leve sinal de bebedeira”, afiança João Antunes no final da palestra. Margarida Cabeleira
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