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Trinta anos a tratar da roupa

Trinta anos a tratar da roupa

Desde os 16 anos que Maria Angélica é responsável por uma lavandaria em Almeirim

Há 34 anos que Maria Angélica Galão é o rosto da Lavandaria Jacto, em Almeirim. A mulher que aos 11 anos foi aprender costura com uma modista transformou-se numa exímia no tratamento da roupa.

Aos 11 anos foi aprender costura com uma modista e aos 14 aventurou-se sozinha. Dizem que era uma costureira exímia e até tinha muitos clientes, talvez porque não fazia da sua profissão um negócio.“Marcava um preço à peça que fazia, mas na hora de pedir o dinheiro à cliente baixava sempre o valor porque acabava por achá-lo demasiado caro”, diz Maria Angélica Galão.A mulher a que amigos e clientes tratam carinhosamente por “Geca” afirma que nunca soube ser patroa. Talvez por isso tenha desistido de ter um negócio só seu para passar a ser empregada de outrem.Tinha 16 anos quando a oportunidade surgiu. Estava em casa de uma senhora para quem a mãe trabalhava, quando um senhor disse que andavam à procura de uma pessoa para trabalhar numa lavandaria que ia abrir em Almeirim, na altura denominada Apolo.Maria Angélica não perdeu tempo e prontificou-se logo a fazer o serviço. Foi há 34 anos, um ano antes de casar e ter o seu filho.Desde essa altura que é o rosto da lavandaria. Com “Geca” por perto ninguém precisa de mais empregados. É ela que recebe a roupa dos clientes, que a põe na máquina de lavar, na máquina de secar e a passa, que a coloca em sacos ou no cabide, pronta para o cliente a vir buscar.É um dia a dia de azáfama, mas Maria Angélica não se queixa. Pelo contrário, sente-se bem a “trabucar” de um lado para o outro, tanto que nunca teve férias. “Nunca fui habituada a isso”, diz quem prefere estar a trabalhar do que ficar em casa. “Aqui sempre vou tendo contacto com as pessoas”.Pessoas que nutrem um especial carinho pela mulher que trata da sua roupa. Alguns até vão à lavandaria só para dar dois dedos de conversa. Maria Angélica gosta, mas não pára o trabalho por causa disso. A conversa faz-se enquanto ela passa a ferro camisas ou lençóis.É uma trabalhadora exigente consigo própria. Em mais de três décadas na lavandaria lembra-se apenas de ter estragado um cobertor. Era de pura lã e quando Maria Angélica o tirou da máquina quase que lhe ia dando uma coisa má. O dito saiu com metade do tamanho com que entrou para lá.O problema de “Geca” era como dizer à cliente que tinha estragado o cobertor. Resolveu o assunto comprando outro, com dinheiro do seu próprio bolso. “O erro foi meu”, diz encolhendo os ombros.A maioria dos clientes nem sequer olha para a etiqueta da peça que leva para a lavandaria. É “Geca” que muitas vezes tem de chamar a atenção da pessoa para o facto da peça não poder ser lavada a seco. “As pessoas nem reparam”.O que Maria Angélica mais gosta de fazer é passar a ferro bordados. E recorda com saudade o tempo em que os passava com um ferro mais rústico, que ainda não era a vapor. “Os bordados ficavam muito melhor, mais bonitos e vistosos”.Passa o dia de pé o que tem os seus custos ao fim de mais de 30 anos de trabalho. Ganhou varizes mas o que mais a incomoda são as dores nas costas. “Ás vezes a coluna ressente-se”, confessa, adiantando que as mãos também sofrem – há dias em que ficam dormentes. “Mas não é nada que não se aguente”.Maleitas que Maria Angélica cura com mais trabalho. Quando acaba o dia na lavandaria, às 19h00, ainda tem quase outro dia de trabalho pela frente. É o jantar, cuidar da roupa lá de casa, costurar alguma coisa.Sim, porque nunca pôs de lado a costura, embora agora só trabalhe para os de casa. “Ou para mim, ou para o filho, ou para a neta”, diz com um sorriso nos lábios. Quando nada tem para costurar não fica de braços cruzados em frente à televisão. Arranja sempre qualquer coisa para se entreter, nem que seja a fazer renda ou a pintar peças em gesso. “Só para me entreter”.Os homens são os principais clientes de Maria Angélica. Viúvos, divorciados ou solteiros procuram-na para tratar da roupa do dia a dia. “Trazem tudo, desde o lenço das mãos às toalhas de banho”.Antigamente os clientes pagavam o serviço só quando vinham buscar as peças de roupa, hoje Maria Angélica prefere que façam pré-pagamento, até porque beneficiam de um desconto. Pagar antecipadamente evita alguns problemas como o “esquecimento” da roupa na lavandaria. Há anos, por exemplo, que Maria Angélica tem guardados na lavandaria quatro casacos de pele que nunca foram reclamados.Margarida Cabeleira
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