uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Pedro Barroso e o “País bimbo”

Um olhar perplexo, irónico e amargurado sobre a ditosa Pátria
Foi editado um livro do cantor Pedro Barroso sobre Portugal e os portugueses. Chama-se “A história maravilhosa do País bimbo”. Ainda estamos na capa e já começamos a compreender o que nos espera. “Subsídios para uma melhor compreensão sócio-antropológica de um país inverosímil à face de qualquer lógica comum”, lê-se por baixo da foto de um cartaz que deveria estar em todas as entradas de Portugal: “ABERTO TODOS OS DIAS (Descanso semanal – Segunda-feira).É aconselhável não saltar o prefácio de António Vitorino d’Almeida, porque isso significa perder uma pequena pérola de “non-sense”, mas podemos ir num instantinho espreitar o final do livro antes de mergulharmos na leitura. Ficamos então a perceber o amor amargurado que o autor nutre por Portugal. “Compreendam esta Nação como um derrame excepcional no Mapa-mundo da arte de viver. Eis porque esta é uma ditosa Pátria. Minha amada.”O livro é da editora Calidum. A seguir fica um excerto desta estreia de Pedro Barroso em ficção que o próprio não sabe se deve classificar como “relato satírico do que nos rodeia”. “(...) as razões e medidas de distribuição de tarefas são um dos enigmas, pois elas nunca são, afinal, exactamente de ninguém. Nem dos superiores bimbos ordenantes.Vejamos alguns casosOperário - “Você, realmente, encomendou-me a janela e já veio cá mais de um quarteirão de vezes insistir mas, como eu não tenho podido ir e você desde ontem que não diz nada, eu sei lá se ainda quer que eu lá vá! Portantos, se eu não apareci, a culpa é toda sua!”Vigilante - “Eu realmente fui encarregado de vigiar aquilo mas, como nesse dia estava de folga, encarreguei outro tipo de o fazer - se o gajo adormeceu e lhe roubaram a loja já não é de minha responsabilidade...”Urbanista - “Em princípio, o Engenheiro fez o projecto correcto e se agora as medidas não batem certas, a culpa ou é do desenhador, do encarregado ou do pedreiro, ou, em última análise, da fábrica que alterou as dimensões dos materiais sem comunicação prévia. Mas a própria rua já foi construída torta, por isso...”(...)Parece, como se pode verificar, um mundo tenebroso em que a culpa se dilui e não se divisa nem alcança. Nem esclarece facilmente. E fica infinita, qual pêndulo eterno, balouçando entre esta e outra possibilidade, como num romance de Agatha Cristie, só que, neste caso, o culpado raramente vem no fim do livro, pois este remete-nos para um novo relatório que - inconclusivo após chatear noventa inquiridos - virá a ser arquivado, cinco anos mais tarde, de preferência durante o mês de Agosto, quando já não se falar mais disso e, de resto, no mínimo, três amnistias já tiverem saído, precatando a mais que improvável detecção de culpa”.

Mais Notícias

    A carregar...