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Trinta anos nos cornos do touro

José Eduardo Neto Ferreira é um símbolo dos Forcados Amadores da Chamusca

Durante 30 anos, José Eduardo Ferreira foi forcado dos Amadores da Chamusca. Nos últimos treze teve a responsabilidade acrescida de ser o cabo. Avesso a protagonismos e vaidades estéreis, condena as rivalidades existentes no meio taurino e orgulha-se por o grupo ter dado sempre tudo para dignificar a actividade e a terra que representa.

José Eduardo Neto Ferreira é um dos mais carismáticos forcados da Chamusca. Durante 30 anos vestiu a jaqueta das ramagens do Grupo de Forcados Amadores da Chamusca, 13 dos quais como cabo responsável pelo grupo. Viveu muitas tardes de glória e de angústia, mas recorda com saudade os tempos de convívio e camaradagem que se viveram, quer em Portugal quer no estrangeiro, onde houve sempre a responsabilidade de representar com dignidade a vila conhecida como Terra Branca.Retirado da vida activa como forcado, José Eduardo continua a viver intensamente a festa brava e o dia a dia do “seu” Grupo. “Por muito que o tentem apagar, o Grupo de Forcados Amadores da Chamusca tem um dos mais fortes historiais da festa brava, um historial de que me orgulho de ter ajudado a escrever”.José Eduardo garante que o que levou a vestir a jaqueta foi a sua grande aficcion, recusando sempre protagonismos. “Para mim ser forcado é gostar de touros, é lutar pela dignificação do grupo, da terra e sobretudo sair das praças com o sentimento do dever cumprido. Não é andar aí a pavonear-se só para se auto promover, ou disso tirar dividendos, como acontece muito hoje em dia”.Para José Eduardo, o cabo de um grupo de forcados tem que ser o primeiro a dar a cara dentro da praça, quer nas boas como nas más alturas. “Foi por física e profissionalmente já não poder fazer isso que me retirei e dei o lugar de cabo a quem o pudesse fazer”.E reconhece que hoje a vivência dos jovens forcados já não é o que era no seu tempo. “Os jovens hoje têm outras solicitações, e por isso menos responsabilidade. Em alguns casos vão para os forcados um pouco para se exibirem e isso tira alguma unidade aos grupos”, refere sem recriminação José Eduardo.Como chamusquense que é, José Eduardo vive intensamente a Ascensão e sobretudo a corrida de quinta-feira, uma das mais tradicionais do país. Uma corrida que foi conquistada pelo Grupo de Forcados Amadores da Chamusca, quando da sua formação. “Era uma corrida que geralmente era pegada pelo Grupo de Santarém, um grupo que me mereceu e continua a merecer a minha grande admiração. Mas quando o nosso grupo foi formado passámos a pegar essa corrida, que foi sempre motivo de grande orgulho para todos nós”.José Eduardo é também um crítico acérrimo da recém criada Associação de Forcados, não por ser contra a sua criação, mas sim devido à forma como ela está formada. O ex-cabo da Chamusca só admite uma associação que não vete ninguém, uma associação que defenda por igual todos os forcados. Que não esteja preocupada porque o grupo A ou B pegue aqui ou ali.“Penso que uma associação de forcados tem sim que se preocupar em que os forcados tenham condições para desenvolver a sua actividade, tenham seguros sérios, que suportem todos os prejuízos que possam ter com a sua actividade, que crie condições para que tenham uma assistência médica condigna. E não como acontece com a actual que apenas está preocupada em escolher as datas que os grupos com mais peso no seu interior querem e devem pegar e nada mais lhe interessa”, diz com alguma indignação.José Eduardo não compreende como é que uma associação pode vetar a entrada de grupos no seu seio e ao mesmo tempo vetar as empresas que queiram contratar esses grupos. “Isso é mais uma prova de que apenas foi criada para defender alguns grupos. Como é que uma associação veta grupos de forcados e não permite a entrada de toda a gente para o seu seio? Isso é incrível. E mais: parece-me que é inconstitucional”.Recusando haver qualquer guerra entre os dois grupos de forcados existentes na Chamusca, José Eduardo garante que nunca teve qualquer problema em pegar com o Grupo do Aposento, por isso também não compreende porque é que nas corridas da Chamusca os dois grupos não podem pegar juntos. “A rivalidade é salutar e pelo que parece as hipóteses dos dois grupos não pegarem juntos na nossa praça fica a dever-se apenas ao veto da associação e isso é muito mau. Penso também que em duas corridas fortemente apoiadas pela câmara deviam ser feitos maiores esforços para que os dois grupos pegassem”.Contudo, José Eduardo recusa a ideia de fazer parte de um hipotético grupo de aficcionados para promover a harmonia entre o Grupo de Forcados Amadores da Chamusca e o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca. “Nunca faria parte de um grupo desses, porque da forma como senti a festa enquanto lá andei digo redondamente que não”.

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