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Uma terra entre a lezíria e a charneca

Quem visita a Chamusca pela primeira vez gosta da terra e das suas gentes hospitaleiras. Mas não sabe que o encanto da vila e das suas gentes nasce da proximidade com a lezíria e a charneca.Infelizmente o leito do Tejo já não é o que era dantes. O rio está assoreado e os areeiros encarregam-se de ir desviando o curso das águas conforme as suas conveniências. Mas o Tejo não perdeu o encanto por causa disso. E o seu extenso areal é uma maravilha da natureza. As marachas também deixaram de ser cuidadas e sofreram da gula dos proprietários das terras confinantes que aumentaram o seu património de terra de cultivo roubando espaço à maracha. Ainda não foi há muitos anos que as águas do rio em tempo de cheia galgaram as margens e levaram o areal para as terras de cultivo. Não parece que o desastre, que custou milhões de euros ao Estado, tenha servido de lição. Os proprietários continuam, cada um à sua vez, a desprezar o que deveria ser um trabalho diário e uma preocupação colectiva.Sobre as virtudes da lezíria e da charneca estamos conversados. Os chamusquenses não precisam de fazer o farnel para irem lanchar para o meio do campo, ou do mato, em convívio com a natureza. As portas das suas casas dão para a charneca e para a lezíria ao mesmo tempo.Quem mora na Chamusca todos os dias leva para casa nas solas dos sapatos a terra mais produtiva do país. A produção de um hectare de milho nas terras do campos da Chamusca não é comparável ao de outro concelho do país. E o exemplo serve para o milho e para o trigo, para a aveia e para o girassol, para os produtos da horta e do celeiro. O concelho da Chamusca é um dos maiores em área de charneca e tinha até há pouco tempo uma importância significativa na área da indústria da cortiça, o verdadeiro barómetro da qualidade de um espaço com micro clima próprio.Com o fogo de há dois anos ficamos reduzidos à miséria. O espaço continua lá e não perdeu a sua magia. Os animais estão de volta conforme o mato vai crescendo e as árvores vão ganhando ramos verdes. Mas a paisagem é desoladora. Perdemos o que de mais valioso tínhamos à porta de casa. Apetece escrever que a tragédia que se passou na charneca é equivalente à que se passaria na lezíria se no leito do rio, durante o Verão, a água deixasse de correr.Aparentemente parece que estamos a exagerar. A ideia com que ficamos é que alguém perdeu o seu património pessoal e agora ficou menos rico do que era dantes. Em parte é verdade. Mas quem já era pobre ficou irreme-diavelmente mais pobre. Ninguém muda de casa por ter ficado sem a floresta à porta. Ninguém muda de terra por ter deixado de usufruir de uma riqueza natural que gerava uma qualidade de vida que não tem preço por ter sido herdada. Para bom entendedor... !!!Há-de vir o dia de rejuvenescimento da charneca. Esta terra não é de preguiças nem de ausências. Mas haverá pelo menos duas ou três gerações de jovens que nunca poderão testemunhar o rosto de uma certa beleza.A Chamusca é a terra da Ascensão. Por mérito próprio o concelho conquistou a importância do dia feriado, que também é festejado por muitos outros concelhos do país, do Minho ao Algarve. Pelo menos nesta altura, no Ribatejo, não há festa como esta.Talvez por estarmos em época de eleições autárquicas o programa deste ano é um dos melhores de sempre no que respeita à animação. Pelo que se percebe vai continuar a faltar condições para as largadas de toiros que deveriam ser o prato forte da festa mas, em compensação, a praça de toiros da Chamusca será palco de duas corridas que prometem bons espectáculos.Espera-se da organização uma atenção redobrada ao policiamento da vila por causa do vandalismo, e um maior cuidado no prolongamento do horário de actividade das tasquinhas. Se conti-nuarem a funcionar pela noite dentro, como vem sendo hábito nos últimos anos, a Chamusca será uma festa durante o dia e um arraial de bebedeiras e de pancadaria pela madrugada fora. Uma última palavra para a largada de toiros em Quinta - feira de Ascensão. É o grande momento da festa. Ninguém sabe se a passagem dos touros é veloz como o vento ou se os animais se tresmalham e ficam na estrada a dar espectáculo enquanto os campinos não voltam atrás para acabar o trabalho. Mesmo com sangue a entrada de toiros é sempre uma grande festa. Porque no Ribatejo a tradição ainda é o que era dantes.JAE

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