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Ligação do distrito a Lisboa é fundamental

Governador Civil de Santarém quer a região unida e promete reverter decisão do anterior governo

A unidade do distrito e a continuação da sua ligação à Região de Lisboa e Vale do Tejo são duas causas que o actual Governador Civil de Santarém se propõe defender. Em entrevista ao nosso jornal, Paulo Fonseca explica porque aceitou o cargo e as razões para ter suspendido a liderança do PS distrital em vésperas de eleições autárquicas.

Acredita que a promessa deixada na campanha eleitoral pelo PS, de o distrito de Santarém continuar integrado na mesma região - e não dividido entre a Região Centro e o Alentejo como está previsto a partir de 2007 - pode ser cumprida?Isso é um ponto assente. Nós defendemos essa tese da unidade do distrito e o primeiro-ministro, na altura secretário-geral do PS, disse de imediato que essa era também uma das suas grandes bandeiras. Resta saber como é que a região consegue continuar a captar fundos comunitários no próximo Quadro Comunitário de Apoio, que parece ter garantido através dessa medida do governo de Durão Barroso.Basta voltarmos ao patamar que o distrito tinha há três anos. Como se sabe houve um primeiro programa lançado, o Valtejo, que já não pôde ser arrumado na gaveta pelo governo anterior, que garantiu fundos para determinadas intervenções. Basta voltarmos a esse tempo em que esse tipo de programas funciona como compensação financeira pela entrada da região em phasing out.E o distrito continuaria integrado na Região de Lisboa e Vale do Tejo?Isso para mim é absolutamente fundamental. Não tenho dúvidas nenhumas disso e gostava de dar uma grande ênfase a essa ideia. Essa divisão do distrito em dois, que o PSD fez quando estava no governo, tinha o argumento dos fundos comunitários e era para vigorar a partir de Janeiro de 2007. Nessa altura nem sequer se sabia se iria haver um quarto Quadro Comunitário de Apoio ou se, por exemplo, a Região Centro estaria também em phasing out quando chegássemos a 2007. O que é outro absurdo quando se tomou essa decisão.Entretanto esse cenário de dúvidas alterou-se… Sim. Neste momento estamos a preparar um quarto Quadro Comunitário de Apoio, sabendo que este vai ter como principal prioridade o investimento na competitividade da Europa. Isto significa uma interligação entre a sociedade e o conhecimento e que nós, distrito de Santarém, temos de estar hoje muito mais próximos dos centros de saber do país. E os centros de saber estão em Lisboa. É onde estão os turbos da nossa sociedade, onde estão as melhores universidades. E há uma proximidade geográfica, que é um factor com que nós estamos condenados, no bom sentido, a viver. Usando uma imagem futebolística, questiono: é melhor ser titular da União de Santarém ou jogar de vez em quando no Benfica ou no Sporting? Eu prefiro a segunda opção.É uma posição clara e inequívoca, apesar de ter havido na altura alguns presidentes de câmara do próprio PS que aplaudiram a solução encontrada pelo governo de Durão Barroso.Sim, mas compreendemos isso perfeitamente. Numa célebre tarde do início de Agosto de 2003 o na altura ministro Isaltino Morais chamou os presidentes de câmara e disse-lhes que no dia seguinte ia apresentar em Bruxelas a divisão do distrito em dois para garantir mais dinheiro para obras na região. E os presidentes de câmara, perante esse quadro, aceitaram. É a coisa mais natural do mundo. O que eu critico ao ministro é a falta de planeamento na sua acção e também alguma má fé. Porque convocou os autarcas no dia anterior para uma reunião em que eles próprios não sabiam o que iria ser tratado nela.Foram praticamente colocados perante um facto consumado?Evidentemente, até porque essa solução era apresentada no dia seguinte em Bruxelas. Não havia volta a dar.Não sente algum desconforto por ser Governador Civil do Distrito de Santarém e ser oriundo do único concelho do distrito – Ourém – que cortou os vínculos políticos com a região para integrar a comunidade urbana liderada por Leiria?Não, antes pelo contrário. Acho que é um grande desafio. Sou um ourense e também sou um dos maiores defensores desta ideia da unidade do distrito. Como presidente da Federação Distrital do PS organizei uma jornada de reflexão e debate aqui em Santarém a propósito dessa questão das comunidades urbanas. Para mim Ourém pertence ao distrito de Santarém e nada melhor que ser eu a protagonizar esta ideia para que as pessoas a compreendam com melhor clareza.Como viu a opção tomada pelos autarcas do seu concelho?É interessante que os actuais dirigentes políticos de Ourém não tenham percebido essa ideia e tenham provocado um imenso problema ao concelho.Classificou inclusivamente o seu concelho como uma ilha…Escrevi na altura um artigo muito claro num jornal de Ourém a dizer que se tivesse oportunidade de votar sobre esse propósito teria votado em sentido contrário. Votaria pela integração de Ourém no Médio Tejo.Foi essa a posição dos autarcas do PS em Ourém?O PS deu liberdade de voto aos deputados municipais. O facto é que com essa atitude Ourém é uma ilha porque não integra a Associação de Municípios do Médio Tejo, a que mudaram o nome para comunidade urbana por uma questão de ilusão pública. E portanto não pode ser a Associação de Municípios do Médio Tejo a defender o concelho de Ourém. Também não podem ser os deputados de Leiria em articulação com a asso-ciação de municípios daquela área a defender Ourém porque não foram eleitos com os votos de Ourém. Daí ser uma ilha que irá ter grandes dificuldades em fazer valer as suas ambições e em resolver os seus problemas.Defende também a existência de uma única área metropolitana no distrito em lugar das duas comunidades urbanas actuais?Defendo que para podermos ser competitivos temos de ter dimensão sob vários aspectos. Primeiro que tudo a dimensão quantitativa. Temos que congregar todos os esforços no mesmo sentido. Á escala de um concelho olharmos para a Europa é uma coisa absolutamente irrelevante. À escala de uma região como o distrito de Santarém já se pode ter algumas ambições. Mas a escala do distrito de Santarém ou de qualquer outro do país é insuficiente nalgumas situações para poder ter um protagonismo reconhecido no exterior que dê origem à captação de recursos. Por isso defendo a união com Lisboa e Vale do Tejo.Assume-se como um defensor das causas da região. Que causas são essas?Uma delas é a unidade do distrito, que acho fundamental, e a ligação a Lisboa. Outra é encontrar mecanismos de apoio imediatos para que as nossas empresas possam aceder ao mesmo que acedem as empresas do resto do país. Já estamos a trabalhar com o governo nesse aspecto com vista a encontrar uma solução. O Ribatejo é das regiões agrícolas mais férteis do país. Que atenção vai merecer a agricultura da sua parte?O distrito de Santarém é o celeiro do país, é aqui a capital da agricultura, e nesse sentido tem toda a lógica que a Direcção Regional de Agricultura tenha cada vez mais serviços implantados aqui em Santarém. Além disso, temos de ter noção que a agricultura é um bom exemplo de que tem de haver uma revolução de mentalidades para também sermos competitivos nessa área.E essa revolução passa por onde?Temos alguma tentação de conservadorismo no nosso país. É talvez o reflexo de 48 anos de ditadura que ainda anda por aí a pairar. Integramos um mundo em mudança, sem fronteira, onde tem de se ser competitivo. E a nossa agricultura é um bom exemplo disso. Temos de reconverter e diversificar culturas em função das necessidades do mercado. O que é importante para o agricultor é ser competitivo e poder ter garantias de escoamento do seu produto e de dignidade no seu trabalho.João Calhaz

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