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Marcar o corpo ao cliente

Marcar o corpo ao cliente

Jorge Silva divide o seu tempo entre Tomar, Leiria e Paris a fazer tatuagens

“Tatuar o corpo é uma arte”, diz Jorge Silva, um jovem de 34 anos que há cerca de seis anos é tatuador profissional. Autodidacta, Jorge divide a sua vida entre Tomar, Leiria e Paris, a exercer uma actividade que lhe dá imenso gozo.

Uma agulha, uma pequena máquina e um tinteiro são as ferramentas utilizadas diariamente por Jorge Silva, tatuador profissional. Uma agulha para cada cliente, como ressalva o jovem, adiantando que a higiene é ponto de honra no seu trabalho.Depois de cada utilização a agulha é deitada fora e a máquina passa por várias etapas de eliminação de germes e partículas, até à esterilização final. Primeiro por um recipiente onde fica de molho com um produto próprio por cerca de 20 minutos, passando depois por um ultra-sons, para libertar as ditas bactérias do metal.Finda esta tarefa, a pequena máquina de tatuar é colocada num esterilizador, durante cerca de uma hora, a 190 graus centígrados.Jorge Silva coloca as luvas, preparando-se para tatuar um cliente. Dispõe na estante todos os apetrechos necessários, entre os quais uma infinidade de máquinas de tatuagem. As que levam três agulhas ou as que levam até 14, consoante o trabalho a executar. Se for delinear, sombrear e pintar a várias cores Jorge Silva tem de utilizar sempre mais que três agulhas.Há trabalhos e trabalhos. Mas o tatuador faz todos com o mesmo gozo, do pormenor mais pequeno até à grande e complexa tatuagem. “No mínimo levo meia hora, entre preparar o material e fazer a tatuagem. Só assim o trabalho é feito com qualidade”, diz quem se afirma um perfeccionista por natureza.Sem stress, porque a ansiedade é a principal inimiga da perfeição. E como que a provar o que diz, Jorge vai calmamente fazendo o seu trabalho. Depois de escolhida a tatuagem pelo cliente – “geralmente os clientes já sabem o que querem ou escolhem aqui, nos nosso livros” – passa-se à fase do desenho. Isto é, com uma caneta especial desenha-se o boneco que se pretende e o cliente vê se não quer fazer nenhuma alteração. A haver tem de ser naquele estágio da “obra”, porque depois é tarde demais. As tatuagens são irreversíveis – só fazendo uma maior é que se pode tapar outra que já não se queira.De máquina já em punho, passa-se à fase da tatuagem propriamente dita. De cada vez que Jorge Silva passa com a agulha, depois de a molhar no tinteiro, limpa a zona com um pedaço de papel, olhando o resultado.Às vezes o resultado é imediato, outros nem tanto assim. Quando se pergunta qual foi a tatuagem que mais tempo levou a fazer o tatuador responde de imediato – “a do meu primo, que ainda não está completa”. Talvez por ser todo o tronco...Enveredou pela profissão apenas há cerca de seis anos, por um feliz acaso. Um dia um amigo foi fazer uma tatuagem e ele acompanhou-o, por curiosidade. Foi amor à primeira vista. Diz-se autodidacta porque não terá nenhum curso específico. Mas comprou muitos livros sobre o assunto e tatuou muita gente desde então, sem ter tido qualquer reclamação. “O que faz a diferença são os materiais e eu trabalho com os melhores”.É por isso também que o cliente paga um mínimo de 70 euros por um trabalho, por mais pequeno que seja. Um valor que pode subir aos 200 ou 300, dependendo da área a tatuar e dos materiais a utilizar. As cores encarecem sempre o produto final.É um insatisfeito por natureza. Cada vez que acaba uma tatuagem olha-a e pensa que a poderia ter feito de forma diferente. “Nunca digo, esta ficou óptima. Ficam todas, mas todas poderiam ser feitas sob outra perspectiva”, refere o tatuador.Longe vão os tempos em que o “amor de mãe” ocupa os antebraços dos homens que gostam de tatuagens. “Hoje prefere-se o nome da namorada, embora às vezes isso traga alguns problemas futuros, ou dos filhos, que está na moda por causa dos jogadores de futebol”.Há no entanto tatuagens que não têm raça nem cor, sendo feitas nos quatro cantos do mundo. Os caracteres japoneses e os tribais, por exemplo.Meia hora depois de ter começado, os pequenos caracteres escolhidos pelo cliente e tirados de um livro polinésio estão praticamente concluídos. Jorge Silva não olhou uma única vez para o relógio.Antes de se apaixonar por esta profissão, Jorge ajudava o pai no negócio que a família tem nos arredores de Paris. Ainda hoje trabalha sempre com um lápis atrás da orelha, como fazia quando aprendeu com o pai a arte da carpintaria. “É uma espécie de homenagem”, diz.Margarida Cabeleira
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