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A terra do petróleo verde

A terra do petróleo verde

Floresta é a maior riqueza da freguesia da Parreira, Chamusca

A freguesia da Parreira é um oásis de verde situado na fronteira do Ribatejo com o Alentejo. A mancha florestal que se estende por 80 por cento da freguesia dá trabalho a boa parte dos habitantes que ali têm quase tudo.

O cheiro a eucalipto invade as narinas à medida que nos aproximamos d a aldeia da Parreira, concelho da Chamusca. Os cerca de 30 quilómetros de estrada que separam a aldeia da sede de concelho são ladeados de sobreiros, eucaliptos e pinheiros, numa grande mancha verde que ocupa 80 por cento dos 133 quilómetros da freguesia. Não é por acaso que a Parreira é conhecida como a terra do petróleo verde.Boa parte dos pouco mais de mil habitantes da Parreira vive de e para essa mancha verde. Ranchos de pessoas, as mulheres cada vez em maior número, trabalham na plantação de árvores. Como a “Ti” Leonor, que na sexta-feira acorreu à chamada do vendedor de trapos que “abancou” em frente à delegação da Caixa Agrícola da Chamusca.Enquanto escolhia uns panos para a cozinha “Ti” Leonor ia dizendo que o campo sempre foi a sua vida. “Não sei fazer mais nada”. E depois de comprar os panos, lá vai a idosa de lenço colorido amarrado à cabeça e chapéu de palha de aba larga a caminho da farmácia para aviar “uns remédios”.Augusta Lérias faz-lhe companhia. Quando casou trocou as Tojeiras, em Abrantes, pela aldeia da Parreira e não está arrependida. “Aqui vive-se bem”, diz, adiantando que só falta mais umas lojas na terra. “Até há banco com caixa multibanco. Não há é dinheiro”, diz a rir.A Parreira é uma terra “arrumadinha”. Além do banco e da farmácia, a aldeia conta ainda com uma escola primária e um jardim-de-infância que, a avaliar pelas crianças que brincavam no recreio, não deverá fechar tão cedo por falta de alunos. Há cafés, mini-mercados, restaurante, cabeleireiro, centro de saúde, cemitério e casa mortuária.O início da construção do centro de dia está por dias mas os idosos são já apoiados com serviço domiciliário.As estradas são boas e nos últimos anos houve um esforço da junta para asfaltar grande parte dos caminhos em terra batida que separam a sede de freguesia dos inúmeros casais espalhados por entre pinheiros, sobreiros e eucaliptos.Os transportes públicos são em número considerado razoável. Para a Chamusca há dois autocarros, um de manhã e outro ao final do dia, mas o número de camionetas aumenta para Santarém, a sede de distrito.Mas no melhor pano cai a nódoa. A freguesia não tem saneamento básico nem espera vir a usufruir desse equipamento tão cedo. Como diz o presidente da junta, a terra é muito dispersa – o casario estende-se por mais de três quilómetros – e não será fácil implementar ali os esgotos domésticos.Apesar de distar cerca de 30 quilómetros dos centros urbanos de Chamusca, Almeirim e Santarém, há muita gente nova fixada na aldeia. A cada ano que passa há mais vivendas em construção. Mas podiam ser ainda mais, se o Plano Director Municipal (PDM) deixasse. “É cada vez mais difícil arranjar terrenos urbanizáveis”, queixa-se o presidente, ele próprio dono de um terreno que, se as coisas continuarem assim, ficará para os netos. “Nessa altura eles já devem poder fazer casa ali”.Pode dizer-se que David Ribeiro Telles é o dono da aldeia. É o conhecido ganadeiro que tem doado todos os terrenos para a construção dos equipamentos da Parreira. Foi assim com a escola primária, a farmácia, o cemitério, o campo relvado do grupo desportivo da Parreira. “Ele vai dando mas a maior parte das vezes não se faz a escritura ou não se sabe já onde estão os documentos”, admite o presidente.Além do clube de futebol, a militar no INATEL, a Parreira conta ainda com um rancho folclórico, que comemora este ano as bodas de prata.Numa terra rodeada de floresta é natural que uma das actividades mais pujantes seja o corte e preparação de madeira. Além dos madeireiros e de uma fábrica de móveis, a população vive também da construção civil e do pequeno comércio. Nos Altos Fornos, como o nome indica, uma empresa familiar produz carvão.A caça é a grande mais valia da freguesia. De Lisboa e do Norte vêm grupos de homens à caça dos pombos, dos coelhos e das perdizes. E pratica-se também a caça grossa, com batidas aos javalis. Tirando a sede de freguesia, quase tudo em volta é zona de caça, turística e associativa, que atrai à região inúmeros forasteiros. Uma mais valia que podia ser ainda melhor aproveitada em termos turísticos. Na freguesia há apenas uma casa de turismo rural, o moinho de Vale Flores, apesar de todas as reservas terem instalações próprias de apoio aos caçadores.O presidente da junta diz que este é o seu último mandato à frente dos destinos da terra. E tem pena de se ir embora sem concretizar o seu sonho. Dar à aldeia umas piscinas com bar de apoio e um jardim condigno. “Pode ser que o próximo presidente faça isso”.Margarida Cabeleira
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