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Um autarca desiludido

Manuel Cordeiro, presidente da Junta de Freguesia de Vale de Figueira, Santarém

Adepto fervoroso do Benfica, o presidente da Junta de Freguesia de Vale de Figueira só tem razões para festejar no que ao futebol diz respeito. Quanto à gestão da autarquia as coisas são mais complicadas. O dinheiro não abunda e alguns projectos que tinha no início do mandato não saíram da gaveta.

Manuel Cordeiro é presidente da Junta de Freguesia de Vale de Figueira desde as últimas eleições autárquicas, em 2001. Já tinha sido convidado anteriormente, quer pela CDU quer pelo PS, mas só nesse ano, após várias insistências, decidiu aceitar o convite para se candidatar como independente nas listas da Coligação Democrática Unitária.Uma das razões que o levou a aceitar candidatar-se foi o apoio da família, que lhe deu força para essa nova experiência política para a qual até nem se sentia muito atraído. Gostava mais de estar ligado ao associativismo, onde já foi director de várias associações de Vale de Figueira como o União e Recreio, o Alvitejo e o Centro de Bem-Estar Social. A população reconheceu o seu trabalho anterior em prol da freguesia e deu-lhe a vitória nas eleições por escassos três votos.Manuel Cordeiro nasceu no Hospital de Santarém há 56 anos mas cresceu e viveu praticamente toda a sua vida em Vale de Figueira, onde casou há 31 anos e nasceu também o seu filho, já casado. Considera que teve uma infância “dócil” para aquilo que era o normal na época. Os seus pais eram trabalhadores agrícolas e foi criado em casa da família Infante da Câmara. Tinha férias anualmente no Estoril e tirou o quinto ano na antiga Escola Industrial de Santarém.A sorte acompanhou-o durante o serviço militar, onde confessa que passou os três melhores anos da sua vida. E não é para menos. Em época de guerra, não ser mobilizado para o ultramar e passar a juventude longe dos combates era privilégio de poucos. Esteve no quartel de Évora, de onde de três em três meses via partir contingentes para as ex-colónias. Ainda por cima a sua especialidade era condutor, o que lhe permitia livrar-se um pouco da disciplina militar e frequentar as noites da cidade.Guarda uma história curiosa dessa altura. Um dia, ao final da tarde, recebeu a notícia que estava mobilizado para ir para a Guiné. Confessa que chorou toda a noite porque ia deixar a namorada e tudo o que tinha na metrópole. Mas tudo não passara de um engano e, para sua grande alegria, no outro dia de manhã chamaram-no e disseram que tinha sido um erro.Saído da tropa foi trabalhar para a cervejeira Unicer, em Santarém, onde é funcionário há 31 anos. Actualmente é responsável pela área de armazéns. É lá que passa a maior parte do dia, das 08h00 às 17h00.Quando sai do trabalho passa por casa para lanchar e segue para a junta onde não lhe falta que fazer, por vezes até altas horas. Antes de regressar a casa, vai sempre dar uma volta pela freguesia para ver os problemas, de uma lâmpada da iluminação pública fundida até uma eventual ruptura numa conduta.Quando decidiu concorrer a presidente da junta, Manuel Cordeiro fê-lo por reconhecer que Vale Figueira precisava de mudar. Três anos e meio depois está algo desiludido. Tudo porque uma autarquia depende muito do apoio da câmara e sem ele, por muito que trabalhe, não se consegue fazer quase nada. Em 2001 vinha com uma carteira enorme de projectos mas a maior parte ficou pelo caminho porque não tem verbas.A Câmara de Santarém ainda não transferiu para a junta algumas das verbas referentes a de 2004 e, de 2005, que vai quase a meio, ainda não veio nada. Até as verbas dos protocolos e transferências mensais vão quase com três meses de atraso.É por isso que ainda não decidiu se vai recandidatar-se. A única decisão que já tomou é que se concorrer vai novamente como cabeça de lista da CDU, apesar de ter sido aliciado por outro partido, que não quer especificar. “Gostava de continuar. Candidatei-me para desenvolver a freguesia e há muito por fazer, mas sem meios quase não vale a pena”, diz, confessando-se desiludido.O trabalho da junta acabou com os seus tempos livres. Antes ia quase todas as semanas para o Alentejo caçar – o seu maior passatempo – mas agora só vai dar uns “tiros” ao fim-de-semana numa reserva que apanha terrenos da freguesia. E nunca esquece o telemóvel, não vá ser preciso alguma coisa.Bom garfo, gosta de petiscos com os amigos e é um adepto fervoroso do Benfica. Já foi ao estádio pendurado em conhecimentos de pessoas amigas mas nunca gastou um cêntimo num bilhete nem foi ao novo estádio. Sofre em casa, no sofá, mas no final do jogo acabou o sofrimento ou a alegria.

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