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Teatro com jantar à luz de velas

Teatro com jantar à luz de velas

Festa de Babete em cena na Quinta dos Arneiros, Chamusca

A Festa de Babete é a nova produção do grupo Fatias de Cá. Em cena na Quiunta dos Arneiros, perto da Chamusca, é uma peça que mete jantar requintado à luz das velas.

O grupo de teatro “Fatias de Cá” levou à cena em ante-estreia na Quinta dos Arneiros, no Pinheiro Grande (Chamusca), a peça “Festa de Babete”, que ali se vai manter durante o mês de Junho. Baseada num conto de Karen Blixen (autora de África Minha) a acção desenrola-se no seio de uma família protestante norueguesa do século XVIII que por uma vez conhece os prazeres da mesa.Duas irmãs distribuem comida pelos pobres dentro do rigor e austeridade que a religião impõe. São filhas de um guião e oriundas de uma abastada família que perdeu a fortuna, mas nunca esqueceu os princípios educacionais em que foram criadas. O pai, o guião, já falecido, continuava a ser o grande mentor das suas vidas. O início da representação é também o seu fim. Pelo meio fica a recordação de tudo o que se passou. Uma familiar narra a história e enquadra a assistência na época. Irmã de várias personagens que acentuam o rigor e o constante apelo à contenção, ela é também tia de um jovem e esbelto tenente de cavalaria que se apaixona para uma das duas irmãs, mas acaba por afastar-se porque o “dever” e a ambição pessoal da carreira das armas é superior. Mais tarde chegará outra personagem, um professor de canto (Manuel João) que ouvindo a voz melodiosa da segunda irmã pede ao guião para lhe dar aulas de canto e a ensina ensaiando árias da ópera D. Giovanni, de Mozart, com a promessa de levá-la às grandes salas de Paris. A jovem lutrana nunca chegará a pisar os palcos parisienses. Num dos ensaios o professor Papinni, enquanto D. Giovanni, beija a personagem e a moça desiste das aulas.Todo este enquadramento são adereços de cena. A protagonista Babete (Manuela Teixeira) que por uma noite consegue fazer sentir a estas almas contidas algum prazer de bem viver, vai aparecer de trajes andrajosos com uma carta assinada pelo professor de canto. Babete estava só no mundo, o marido e o filho tinham sido mortos durante a revolução francesa e o professor pede às duas irmãs que a recolham e ajudem.Em casa do guião não havia dinheiro para pagar a uma criada e o bem que continuavam a fazer aos pobres resumia-se a uma sopa de pão escaldada com água quente temperada de azeite e ervas que alimentava também a família. Babete, com os poucos ingredientes faz uma sopa divinal que enche as tijelas de barro com que alimentava os indigentes (na peça o público e actores), retirando o cheiroso caldo de enormes panelões.Um dia Babete recebe uma carta de França. Os amigos que deixara na cidade-luz todos os anos lhe renovavam o bilhete de lotaria e ela tinha ganho 10 mil francos. Com grande insistência consegue que as irmãs acedam a que faça um grande jantar parisiense para comemorar o centenário do nascimento do guião. Babete sai e volta uma semana depois à frente de um cortejo de criados carregados de sofisticadas iguarias. As irmãs e familiares juram que não irão demonstrar qualquer prazer e deglutirão o jantar com a mesma austeridade com que todos os dias engoliam a sopa de pão temperada de ervas aromáticas.Para o jantar virá outro convidado. O jovem tenente, agora um respeitado general (Vitor Hugo) que tinha alcançado tudo a que se propusera, mas que o amor não concretizado pela jovem dinamarquesa se gravara como um espinho no polegar e tinha feito dele um homem azedo. Um velho militar condecorado pelos seus feitos que sente na pele a irreverência da juventude a quem classifica de arrogante quando, recordando, é desafiado pelo seu próprio olhar enquanto jovem. Vai vestindo o uniforme e num rasgo de humildade decidi não ornamentar a casaca com as suas muitas medalhas.Mas é ele que comanda e marca a entrada para a sala de jantar, onde será servida uma refeição requintadíssima de cozinha francesa acompanhada com vinhos a condizer. Babete orienta os criados que desfilam por entre as mesas servindo os convidados num jantar único. No centro os actores e, por detrás de um cortinado translúcido, os actores enquanto jovens.A família esquece-se das promessas. Os vinhos toldaram-lhes as cabeças e quando o general dá por terminada a refeição saem amparados uns aos outros animados pelos vapores etílicos. Babete volta à cena apaga as velas uma a uma. Gastou todo o dinheiro que ganhou na lotaria neste jantar, servido tal como ela, que “nunca será pobre porque é uma artista”, fazia quando era a grande chefe de cozinha do Café Anglais em Paris Margarida Trincão
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