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Há segredos que não se revelam

Leonor Tito, 59 anos, cozinheira em Torres Novas

Nasceu em Alcanena e com 16 anos foi servir para Lisboa. Aí aprendeu a cozinhar e apesar de ainda ser uma adolescente era ela que confeccionava as refeições da família. Anos depois veio para Torres Novas, trabalhou em limpezas e há 26 anos que conseguiu fazer aquilo de que realmente gosta: cozinhar.

De touca e avental, Maria Leonor Gomes Tito tem a seu cargo a cozinha do seu próprio restaurante, que montou há cerca de 20 anos, depois de passar meia dúzia de anos a ser cozinheira num outro local. Misturar os ingredientes com arte e saber e retirar do fogão comida cheirosa e bem temperada é um prazer diário.“Fui para cozinheira porque gosto e continuo a gostar”, afirma apesar de por vezes se sentir um pouco cansada: “Não tarda tenho 60 anos e isto cansa”, desabafa. Diariamente, à excepção do domingo, Leonor Tito levanta-se entre as 06h30 e as 07h00 para passar pelo mercado e pelo talho e adquirir os alimentos que vai confeccionar. “Nunca tenho nada congelado, compro tudo no dia”.No restaurante, a primeira coisa que faz é preparar a sopa. “A panela vai logo para o fogão”. Depois depende do tempo que demoram a confec-cionar os pratos do dia, segundo uma ementa que ela própria pensa. “Temos sempre dois pratos, um de peixe e outro de carne, para o almoço. Ao jantar são os grelhados, os bitoques, os bifes ou peixe cozido”. Dantes também havia pratos pré-confeccionados para o jantar, mas porque a crise afecta a todos, Leonor Tito desistiu: “Ao jantar sempre tivemos menos clientes e agora ainda pior”.O almoço prolonga-se até às 14h45 e o jantar começa pelas 19h30. Neste intervalo, Leonor Tito, mãe de quatro filhos e avó de quatro netos, alguns a residirem nos Açores, onde tem duas filhas casadas, aproveita para ir a casa. Mas nem sempre isso é possível: “Às vezes tenho reservas para o jantar e logo que acabam os almoços, depois da cozinha estar limpa e arrumada, começo com o jantar”.É que além de cozinhar, esta mulher alta e robusta também se encarrega da limpeza da cozinha e do próprio restaurante, situado no centro de Torres Novas. “Sou eu que vou fazendo tudo. Então como é que há-de ser?”Para servir há uma funcionária. Leonor prefere estar na cozinha a passar as tarefas para o lado de fora. Pratos mais tradicionais, a que acrescenta o seu toque pessoal. Segredos que não revela. “Há pratos que sou eu que invento e mais ninguém sabe. Às vezes estou na cama a pensar como é que hei-de fazer no dia seguinte e como vou fazer. Chego ao restaurante e faço. E normalmente sai bem”.Alguns segredos que guarda e que nem os filhos conhecem – “eles não gostam de cozinha” – aparecem escondidos no bacalhau à Lamego, no pato à Lamego, no frango frito com miga ou nuns filetes de cherne que só a cozinheira conhece o tempero. Num dos almoços da passada semana, um dos pratos do dia foi filetes de cherne e bem antes de acabar a hora de almoço já tinha esgotado: “É um prato muito apreciado, por isso é que sai logo. E fui eu que inventei”, diz com um certo orgulho de quem sente prazer por aquilo que faz.Para além do cansaço que por vezes sente, o mais desagradável da sua profissão é ter a ementa do dia e os clientes começarem a pedir outros pratos da lista. “Também se faz, mas é desagradável, porque depois fico com a comida feita e já não serve para o dia seguinte”, desabafa.No entanto, há tantos anos a lidar com tachos e panelas, Leonor Tito já sabe as quantidades que deve confeccionar para as refeições que normalmente serve e, como os pratos agradam, não costuma ter o dissabor de desperdiçar comida.“Dantes” – recorda – “servíamos 70 a 80 almoços, as pessoas esperavam de pé que vagasse uma mesa, agora há muito menos. A crise faz-se sentir por todo o lado”, desabafa. Margarida Trincão

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