Requalificar as zonas rurais
Sousa Gomes, presidente da Câmara de Almeirim
Nas eleições autárquicas deste ano volta a ser candidato a presidente da Câmara de Almeirim. Há 15 anos a ocupar o cargo, Sousa Gomes diz que tem mais para dar. Critico da limitação de mandatos, acredita que Fazendas de Almeirim vai reclamar, mais tarde ou mais cedo, a elevação a concelho e defende que os decisores em Lisboa não percebem as necessidades do mundo rural.
As autarquias estão limitadas na sua capacidade de decisão. Investem de acordo com os programas de apoios definidos por Bruxelas e não de acordo com as necessidades reais dos concelhos? É assim?De certo modo é assim. Mas essa é uma leitura simplista. Este assunto tem inúmeras vertentes. O que se passa em Almeirim...Nós estamos a fazer a chamada requalificação de superfície – zonas verdes, espaços públicos – porque já temos o abastecimento de água a, praticamente, cem por cento e esgotos a 80 por cento. Mas nem sempre é assim e quem ainda não tem a estrada alcatroada não percebe o investimento num jardim ou numa estátua, por exemplo. Reconheço que é difícil explicar porque construímos um parque como o da zona norte em Almeirim e nas Fazendas ainda há ruas por alcatroar. Levei o Presidente da CCDR às Fazendas e a resposta dele é significativa: “Isto tem que ser a autarquia a fazer porque os fundos já não são para saneamento básico. São para outra coisa”.Quem manda é Bruxelas.É um pouco isso. Bruxelas define prioridades em função do que se passa no conjunto de todos os países. Eu não vejo mal nisso. Se não fosse assim, se calhar, ainda cometeríamos mais erros. Já houve um período para água e esgotos, é isso?Para água, esgotos e para outros sectores. Há sectores que desperdiçaram as ajudas de Bruxelas. Agora dizemos “ai a nossa economia, ai a nossa formação”, mas vieram para cá milhões de euros. Os autarcas também desperdiçaram muito dinheiro. Os autarcas da nossa região fizeram muita coisa boa. E é necessário ter em consideração que o saneamento tem que ser renovado, que as ETARs se vão tornando obsoletas que vão surgindo novos bairros. Nós temos que ir encontrando outras soluções para fazer face a isso. Não podemos esperar por mais fundos para isso. Não é por acaso que estamos a fazer a empresa Águas do Ribatejo, por exemplo. Em relação a Fazendas de Almeirim, o que há em concreto?Vamos criar um centro cívico em Fazendas. Ao mesmo tempo que continua o alcatroamento das ruas. Os arruamentos da zona urbana de Fazendas estão quase todos alcatroados. Faltam três ou quatro. E nas zonas não urbanas também vamos lá chegar.A requalificação do Centro Cívico vai ser feita ao mesmo tempo ou primeiro. Mas tem que ser feita para se criar qualidade de vida.De que se trata?É junto à capela. Vamos criar um espaço público e uma zona com centro cultural, biblioteca, auditório e uma nova junta de Freguesia ou câmara municipal – se um dia Fazendas vier a ser concelho. Vamos fazer uma praça pública com alguma dimensão.Fazendas deAlmeirim a concelhoÉ interessante estar a falar numa elevação de Fazendas a concelho numa altura em que o Governo do seu partido fala na concentração de freguesias e de concelhos como forma de racionalizar meios. Está em contra-corrente?Não. Estou apenas a dizer aquilo que sinto. Embora tenha nascido em Almeirim vivi desde os sete meses nas Fazendas. Sinto aquela terra como minha. Eu sinto que aquela população, enquanto eu estiver aqui na câmara, aceita que não haja movimentos independentistas. Mas provavelmente noutra situação já teria iniciado algum movimento nesse sentido. E admito que ele venha a surgir no futuro.É favorável à criação de novos municípios no quadro actual?Não, não sou. Penso que era uma dispersão de esforços e de meios. Mas é preciso ter em atenção o seguinte, existem no nosso país pessoas responsáveis. Pessoas que gerem dinheiros públicos, fundos comunitários, a própria CCDR que têm que olhar de uma outra forma para o país. Eles dizem que Lisboa tem que ser uma grande capital europeia, que Almeirim tem que ser uma cidade média de qualidade. Mas eles não estão no terreno, não percebem que as zonas rurais também têm que ser requalificadas. Talvez de maneira diferente, mas têm que ser requalificadas. Cine-teatroAs obras do cine-teatro estão a chegar ao fim. Como vai funcionar?O cine-teatro está na fase de acabamentos. O empreiteiro tem como prazo de conclusão o fim de Julho. Vamos ver se consegue cumprir. Tornámo-nos associados da Artemrede para podermos ter aqui espectáculos de qualidade. Queremos dar o máximo aproveitamento à sala. É um espaço polivalente. E queremos ter também cinema. Em Almeirim não temos cinema há imenso tempo.A13 trouxe mais visitantes a AlmeirimA A13 veio reanimar Almeirim? Veio sim senhor. Temos mais gente a parar em Almeirim. Os nossos restaurantes estão a notar isso. Há pelo menos dois que estão a pensar aumentar a sua capacidade de resposta. Dizem-me que têm novos clientes. Gente que não costumava parar aqui. As estradas como forma de atrair pessoas. Como está o IC3?Tivemos uma reunião com o secretário de Estado das Obras Públicas por causa do IC3. É uma necessidade absoluta para Almeirim, Alpiarça e Chamusca. A reunião teve por finalidade sensibilizá-lo para tornar este eixo prioritário. Ele está a estudar o problema no sentido de lhe poder dar andamento o mais depressa possível.A restauração está a sofrer efeitos benéficos. É suficiente?Não. O Turismo em Almeirim não se pode resumir a uma paragem para comer sopa de pedra. Temos que criar aqui outro tipo de motivações. Não só aqui mas nesta região. Temos que investir numa marca Ribatejo. Temos que ter os mesmos resultaddos que tiveram os nossos vizinhos com a marca Alentejo, por exemplo. É preciso iniciativa e imaginação.Mais rotas como a Rota do Vinho? A Rota do Vinho foi uma coisa muito bonita para a gente pôr umas placas ao longo da estrada. Mas depois ninguém sabe onde vai dar. A nossa região não é uma região deprimida embora agora também esteja a sofrer como o resto país. Mas tem estado um bocadinho amorfa e tem que despertar. Temos produtos que têm que girar em torno do Tejo que é a grande referência da região e que não temos conseguido promover.
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