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Obrigado Zé Miranda!

Recebe o pampilho de honra com o nome de António Manuel Caetano
Camisa de xadrez preto e cinza, boné e colete a condizer. É desta forma campera que José Miranda se apresenta. Aos 82 anos, este campino de Benavente recorda memórias de 73 anos de trabalho ligado à campinagem e à vida no campo. Zé Miranda, como lhe chamam os companheiros da labuta e os amigos, é o campino homenageado neste Colete Encarnado.No sábado, 2 de Julho, às 16h00, no largo da câmara, dezenas de campinos e cavaleiros irão fazer-lhe uma guarda de honra e irão dar-lhe um abraço de reconhecimento. Zé Miranda recebe o pampilho de honra com o nome de António Manuel Caetano, o campino homenageado o ano passado e que acabou por ser colhido pela morte meses depois, e com apenas 55 anos. Os campinos são homens fortes, mas a maioria vai voltar a chorar a perda de mais um símbolo do Ribatejo e das suas festas.Zé Miranda foi o campino escolhido pelos parceiros de profissão para receber o símbolo que distingue as referências do Colete Encarnado. Foi um campino valente que herdou a profissão e a forma de estar do pai. Tratou sempre os animais com estima e respeito. Nunca usou esporas e gaba-se de conseguir tudo dos toiros. “Havia muito respeito pelo animal. Com calma fazia o que queria deles”, lembra.Zé Miranda é um homem humilde que nunca foi à escola porque “ficava longe” da casa onde vivia na charneca de Benavente. “A escola era guardar gado e descalço”, recorda. Aprendeu a ler juntando as letras com a ajuda das patroas. Tudo o que sabe aprendeu na escola da vida e procurou seguir os ensinamentos do pai e dos campinos mais velhos. Quem o conhece garante que sempre soube estar e estimar os amigos e todos os que com ele privaram. O octogenário assume a sua ponta de vaidade quando é reconhecido pelos colegas. “Estou alegre porque quando se anda nesta vida e se faz o melhor gostamos que nos elogiem”, disse o homenageado. O campino refere que ao longo de mais de 70 anos de luta no campo, as alegrias foram muito menos que as tristezas. “Era uma vida muito dura. Passámos muito”, recorda. A primeira jorna que recebeu foram 2$50 (1,25 cêntimos) por semana na casa de Francisco Rodrigues Neves. Tinha nove anos e uma experiência acumulada desde que deu os primeiros passos ao lado do pai.Zé Miranda casou aos 28 anos com uma mulher “valente” que um dia foi buscar um toiro bravo ao campo com a ajuda de um cão. “Nenhum homem lá ia assim”, frisa. Pai de duas filhas, o campino viu assim a sua sucessão comprometida, mas não se incomoda porque a profissão de campino já foi chão que deu uvas.Apesar de alguma desilusão pelo desaparecimento dos grandes campinos, o momento é de festa e, no sábado, Zé Miranda vai aparecer trajado a rigor para receber uma ovação dos amigos e admiradores que vão encher o largo da câmara.

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