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Em harmonia com a natureza

Fernando Pereira, ambientalista e arquitecto paisagista de Torres Novas

“As pessoas deviam ir viver para as grandes cidades e deixarem o campo para os que gostam”. É dito em tom de graça, mas não deixa de ser um desejo para quem como Fernando Pereira, ambientalista, arquitecto paisagista e vigilante da natureza, se habituou a respeitar e usufruir o prazer de sentir e contemplar o meio ambiente.

Nasceu em Lisboa, há 43 anos, cidade de que muito gosta, mas aos 18 ou 19 anos decidiu trocar a capital por Torres Novas, de onde é oriunda a sua família e para onde vinha nas férias e fins-de-semana. “Foi um regresso às origens e não estou nada arrependido, pelo contrário. Gosto muito de Lisboa, gosto muito de viajar, mas é bom ter um sítio onde posso sempre voltar e nada melhor do que a terra da minha família”, diz.Tem poesia nas palavras e na forma como olha o que o rodeia. Observou, estudou e contemplou as aves no Paul de Boquilobo - reserva natural nos concelhos da Golegã e de Torres Novas, onde nidificam várias espécies migratórias - enquanto vigilante desta área protegida e funcionário do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Actualmente trabalha em Alvados, igualmente ao serviço do PNSAC. Pelo meio tirou o curso de arquitectura paisagista um pouco por influência do arquitecto Nuno Lecoq. “Tive o gosto de ter o arquitecto Nuno Lecoq como chefe, ele incentivou-me, surgiu a oportunidade e acabei por tirar o curso”.A formação académica ainda não lhe trouxe qualquer reclassificação na profissão que diariamente exerce – “estou à espera” – mas permite-lhe ter uma intervenção mais directa ao nível da concepção dos espaços verdes urbanos. “Estou a trabalhar como avençado com a Câmara Municipal de Torres Novas na revisão do Plano Director Municipal. É um trabalho estimulante e que nos dá a percepção que muitas vezes os problemas são bem mais difíceis de ultrapassar do que se pensa”.Enquanto arquitecto trabalhou nos projectos de vários parques de merendas do PNSAC. E, sobre Torres Novas, diz este técnico que há espaços verdes bem conseguidos como o pequeno jardim das Oliveiras, no topo da Avenida Sá Carneiro com a Rua Manuel da Costa Nery, e o jardim das Rosas, junto à Avenida João Martins Azevedo. “Acho que são bons exemplos, embora no caso dos jardim das Rosas se devesse aproveitar mais o rio. A cidade cresceu em torno do Almonda que a atravessa de forma serpenteada, parecendo ter preguiça de deixá-la, e Torres Novas não tem tratado bem do seu rio”.No extremo oposto está, em sua opinião, toda a envolvente do castelo. No interior das muralhas o jardim obedece a um desenho feito a régua e esquadro, mas “está cuidado”. Em contraponto o morro virado para o Almonda “é muito pouco atractivo e devia ser tratado de forma a poder ser usufruído”.Apesar de haver espaços pior concebidos ou mais descuidados, o Almonda é o potencial mais desperdiçado. Se em termos paisagistas o Almonda não tem sido devidamente respeitado e explorado, ao nível ambiental o problema é bem maior. “Penso que ninguém duvida da intervenção que as entidades oficiais têm tido a este nível, mas é necessário uma actuação mais activa e não falo só das autarquias”. “As fontes poluidoras estão identificadas e se na cidade o rio está limpo a poluição da foz e das ribeiras afluentes afecta a biodiversidade do rio”, afirma explicando que a maior parte dos peixes que povoam o rio são migratórios, percorrem todo o curso, portanto a poluição existente em alguns locais têm consequências em toda a extensão. Os casos da Vala das Cordas, em Riachos, ou da Ribeira da Boa Água são duas das situações mais preocupantes. Ser ambientalista e arquitecto paisagista à partida são actividades complementares, no entanto, os arquitectos têm que enfrentar a pressão dos interesses urbanísticos: “É verdade que pode haver interesses em jogo, mas cada vez há uma maior necessidade de um desenvolvimento sustentável. O homem precisa de viver em harmonia com a natureza e tem que se desenvolver essa harmonia nos espaços artificializados das cidades”.Casado e pai de uma filha, Fernando Pereira, vive numa das zonas novas da cidade e anseia por poder trabalhar como arquitecto: “Como vigilante da natureza habituei-me a falar com as pessoas, é uma boa experiência para se ser arquitecto paisagista. É importante fazer compreender às pessoas que têm de viver em harmonia com a natureza e há soluções para salvaguardar essa harmonia nos meio urbanos, criando espaços bem concebidos de lazer e de bem-estar”.Margarida Trincão

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