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Contar histórias com música

Miguel Ouro é animador cultural da Câmara Municipal de Azambuja

É ao som da viola e da concertina que Miguel Ouro conta aos mais novos como era a vida noutros tempos. A relatar em verso a origem do Torricado ou a contar “A história de Zé Campino e da Matildinha”, o animador da autarquia de Azambuja, vai transmitindo às gerações futuras os costumes de outros tempos.

Miguel Ouro arregaça as mangas da camisa de flanela, típica do trabalhador azambujense de outros tempos, e sobre as brasas corta um pão caseiro ao meio. É assim que começa a lenga-lenga do Torricado que conta a história do prato típico de Azambuja.“Pão duro quase todos os dias dava mesmo para enjoar. E então para o aproveitar alguém se lembrou de pôr o pão a torrar”, vai relatando Miguel Ouro. O pão cortado ao meio e torrado é esfregado com um dente de alho, leva umas pedritas de sal e azeite. O petisco, hoje muito apreciado nos restaurantes, era muitas vezes a refeição dos homens do campo.A prosa da autoria de Miguel Ouro, animador cultural da Câmara Municipal de Azambuja, que é também músico e poeta popular, ajuda a divulgar uma das tradições gastronómicas do concelho. Dar a conhecer o que se cozinhava em épocas passadas e os trajes que se vestiam antigamente faz parte do dia a dia de Miguel Ouro, residente na vila, 28 anos, que também divulga os instrumentos musicais mais ancestrais. O harmónio é o instrumento a que Miguel Ouro se tem dedicado nos últimos tempos, mas o animador é também um músico multifacetado. É ao som da viola, da concertina e da guitarra portuguesa que Miguel Ouro representa ateliers de folclore para os jovens das escolas do concelho, despertando os mais pequenos para as raízes ribatejanas.“É uma forma das crianças estarem em contacto com os instrumentos tradicionais”, explica Miguel Ouro, que faz questão de transmitir informação sobre o traje de trabalho que enverga e sobre cada um dos instrumentos que toca. Foi também em homenagem aos mais novos que Miguel Ouro criou o conto musical “Eduardo Patas de Leopardo”. Os desenhos da história que nasceu na cabeça do poeta forram as paredes da área infantil da Biblioteca Municipal de Azambuja. Nas manhãs de quinta-feira os bonecos ganham vida pela voz de Miguel Ouro.A história da mãe Leopardo, que deu à luz cinco filhotes lustrosos, entre os quais Eduardo, que tinha patas grandes e andava devagarinho, é intercalada com cinco músicas cantadas e tocadas ao vivo.Na hora do conto Miguel Ouro já apresentou também um teatro de fantoches da sua autoria que conta “A história do Zé Campino e da Matildinha”. O animador baseou-se em figuras típicas da região misturadas com algumas personagens do mundo da fantasia.As animações de Miguel Ouro, que percorre com frequência as escolas do concelho e noites ribatejanas, incluem também a história da “Moda dos Cinco Amores”, uma das suas preferidas. Evoca a história de um rapaz com cinco namoradas que usava para cinco chapéus, cinco instrumentos e cinco nomes diferentes para que a sua identidade não fosse conhecida. Num dia de festa as cinco juntaram-se e descobriram a trama. “A história acaba de uma forma dramática, mas também humorística”, sublinha o autor.Sempre que a encenação é feita Miguel Ouro veste a pele de actor e representa as cinco personagens, tocando ao mesmo tempo os cinco diferentes instrumentos. O tipo de trabalho que desenvolve na autarquia, há cerca de dois anos, por vezes concentra-se muito ao fim de semana e por isso Miguel Ouro trabalha em regime de isenção de horário.Em paralelo com a actividade de animador cultural, Miguel Ouro, formado em produção de espectáculos e gestão das artes na ETIC – Escola Técnica de Imagem e Comunicação, integra vários grupos de música popular. É o caso do Pilha Galinhas, do grupo “As concertinas do Vale do Tejo” e do “Grupo Ribatejano”. O fado e as animações de rua completam o repertório do animador, mas Miguel Ouro, actual presidente do Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos, de Azambuja, prefere ir transmitindo ao público os costumes antigos que ocupavam campinos, cingeleiros e valadores nos dias de trabalho e de festa. Para que a tradição não se perca.Ana Santiago

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