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O bombeiro de serviço

José Júlio Gaspar passa o dia no quartel dos Bombeiros Municipais de Tomar

Quando andava na escola queria ser bombeiro ou jogador do Benfica. Hoje, aos 36 anos, José Júlio Gaspar sempre pode dizer que concretizou um dos seus sonhos, fazendo parte do corpo dos Bombeiros Municipais de Tomar.

Deixou a escola quando terminou o ciclo preparatório, no sexto ano. E foi para o mundo do trabalho, aproveitando as oportunidades que lhe surgiam mas sempre com o sonho de vir um dia a ser bombeiro.À primeira tentativa José Júlio Gaspar não conseguiu os seus intentos. Inscreveu-se mas não acabou a recruta. Porque não morava na cidade. Porque era novo e às vezes a bicicleta dirigia-o para outros destinos que não o quartel...À segunda foi de vez. Anos mais tarde, quando abriu outro curso, inscreveu-se e foi até ao fim. Há dez anos que é bombeiro. Começou como voluntário e há cinco anos passou ao quadro dos Bombeiros Municipais de Tomar.Tem todos os cursos de especialização que a profissão exige – transporte de doentes em ambulância, socorrismo, desencarceramento, motoserras, GPI e todo-o-terreno. O que quer dizer que pode fazer qualquer função operacional.As situações mais correntes a que tem de acudir são os acidentes, durante todo o ano, e os incêndios, mais na época de Verão. E entre as duas não tem uma preferência especial.Ambas lhe dão adrenalina e em ambas é necessário ter o sangue frio suficiente. Num acidente a desgraça é mais imediata, num incêndio só se tem a verdadeira noção dela depois do fogo ter terminado e de se olhar para a área devastada.Curiosamente a única situação de perigo real que correu não foi enquanto bombeiro, mas sim como sapador da brigada florestal de Ferreira do Zêzere, por onde também passou.O helicóptero largou a equipa no local do incêndio, na zona de Mação, e foi fazer as descargas de água enquanto os sapadores tentavam abrir caminhos para o fogo não passar. A dada altura, o vento virou e sem darem por isso estavam cercados pelas chamas. “Aquilo ardia para qualquer lado que olhássemos”, diz José Júlio.O que os salvou naquela circunstância foi o sangue frio do chefe da brigada. A primeira norma dos sapadores é, quando cercados por chamas, tentarem ir para a zona já queimada, que foi o que os homens fizeram. “É uma temperatura medonha. Estávamos em cima de umas pedras e tínhamos de estar sempre em movimento com os pés”. Quando as forças estavam a ir abaixo o chefe da brigada foi suficientemente inteligente para conseguir tirar daquele inferno todos os seus homens. “Disse-nos que à ordem dele saltávamos todos para o lado das chamas. E saltámos. Acabámos por conseguir sair de lá sem grandes mazelas, embora um ou dois tivessem de receber assistência hospitalar”.Apesar de estar numa situação extrema de vida ou morte, José Júlio Gaspar diz não ter pensado nisso. “Naquela situação não há tempo para pensar muito. Tem de se agir rapidamente”.Aliás, diz que um bombeiro nunca pode pensar que vai morrer, tem de ter presença de espírito para pensar sempre que se vai safar da situação, por mais má que ela seja.José Júlio afirma que, quando saem do quartel, seja para incêndio ou acidente, os bombeiros nunca sabem muito bem o que os espera. Dão-lhes apenas os dados prioritários para avançarem.Por causa disso há algumas situações em que o choque psicológico se dá apenas no local. Recorda por exemplo o acidente recente em Carvalhos de Figueiredo, às portas da cidade, que envolveu dois veículos.Quando chegou ao local verificou que conhecia a maioria dos jovens envolvidos, alguns dos quais acabaram por falecer posteriormente. “Ia na primeira ambulância que lá chegou e deparei-me com aquele cenário”.Apesar do “turbilhão” interior, José Júlio diz que nestas alturas há que manter a calma e a serenidade. “Bem basta o desespero de quem está em perigo e das pessoas que se juntam à volta”, refere.Diz que o sangue frio e a calma em situações extremas são dadas pela experiência. “Com a idade vai-se conseguindo melhor guardar as nossas emoções”.É por isso que consegue separar a vida profissional da vida familiar. Embora confesse que há situações que comenta com a mulher com quem casou há apenas um mês. “Ela é enfermeira no Hospital de Tomar e há situações que comentamos os dois, por esta ou aquela razão”.Em toda a sua vida de bombeiro só teve um acidente. Conduzia um doente ao hospital quando, nuns semáforos, foi abalroado por outro automóvel. Ainda hoje lhe custa a compreender o acidente. “É verdade que o sinal estava vermelho mas ia em marcha prioritária, com a sirene ligada e tomei todas as precauções para avançar em segurança. Não é por acaso que o tacómetro indicava que conduzia na altura a 39 quilómetros/hora”.Com a ideia de ser futebolista há muito posta de parte, José Júlio Gaspar vive hoje para a profissão de bombeiro. A prová-lo está o facto de, quando não está no seu horário de serviço, fazer parte dos grupos de primeira intervenção a incêndios (GPI), como voluntário.Margarida Cabeleira

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