Escrevo a propósito da notícia publicada na última edição com o título “Pai não desiste de procurar a filha” que dá conta que o casal que tem na sua posse uma menina de três anos que o Tribunal de Torres Novas decidiu entregar ao pai biológico ainda não apresentou a criança. Confesso desde já a minha opinião tendenciosa: creio firmemente que “mãe é quem cria, não obrigatoriamente a que dá à luz”. As notícias que aparecem regularmente na imprensa sobre crianças retiradas aos pais de criação e entregues aos biológicos têm-me infelizmente dado razão. Não quero estabelecer paralelismos com este caso específico; não duvido do desespero do pai biológico nem da sua vontade de ter a filha com ele.No entanto, não posso deixar de questionar. Que contacto teve este pai até ao momento com a criança? Que outros pais conheceu a criança em toda a sua vida? Será correcto obrigar uma criança de três anos a cortar radicalmente com tudo e todos que reconhece e identifica para a entregar a um homem, a uma família e a um modo de vida que não foi o dela até agora? Pois se até às pessoas adultas incomodam os cortes radicais, quanto mais a uma criança que normalmente necessita da segurança que advém da rotina!Por outro lado, não posso deixar de pensar na situação dos pais de criação. Quem abdica de toda a respeitabilidade social e profissional, incorrendo inclusive em pena de prisão, só pode amar muitíssimo uma criança que seguramente já considera sua!Maria Areias – Entroncamento(Texto enviado através de correio electrónico)