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Enciclopédico Manuel Serra d’Aire

Quando ouço falar de cultura puxo logo da pistola. Ou melhor: do cigarro e do isqueiro. Porque não tenho licença de porte de arma nem quero passar vinte anos atrás das grades. E como tenho de acalmar a fervura com alguma coisa, atiro-me à nicotina.Nada tenho contra a cultura, pelo contrário. Adoro um bom cozido à portuguesa regado com um melhor tinto, gosto de ler o Borda d’Água, aprecio um Benfica-Sporting com porrada à mistura, deleito-me com um strip tease com show lésbico no final. Também gosto de fotografia, especialmente de gajas nuas, e daquele cinema que habitualmente dá depois da meia-noite nalguns canais da TV Cabo. Isso sim é cultura pura e dura. Enche-nos a alma leva-nos a agradecer a Deus por termos nascido, mesmo que tenha sido em Portugal. Fico lixado é com a cultura a qualquer preço e com os intelectuais que por aí vão aterrando caídos de Marte, que nem sabem o nome do melhor marcador do campeonato ou o número de taças que o Benfica ganhou. É o caso do presidente da Câmara de Torres Novas, como tu bem recordas. Para mostrar obra meteu bailarinos e orquestras dentro de um pavilhão por acabar em vez de se preocupar com a abertura das tasquinhas nas festas da cidade durante as 24 horas do dia. Eu passei por lá ao meio-dia de um sábado e estava tudo fechado. Um calor de rebentar camelos e um gajo sem sítio para se refrescar.O que me leva a perguntar que raio de critérios são estes? Primeiro devia-se responder às questões prioritárias. Não vamos chegar ao ponto de lhe pedir que despolua o Almonda, mas, caramba, uma cerveja fresquinha deve estar sempre primeiro que um lago dos cisnes qualquer. Porque água é bebida non grata para muita gente e porque os cisnes não consta que sejam grande petisco. Ainda se fosse arroz de pato…E por falar em patos e em cultura, só queria que visses a revista que a Câmara de Santarém editou recentemente. Papel do melhor, capa luzidia e um conteúdo que faz um gajo pensar que Santarém será esta que ali vem chapada. Naquela revista, meu caro, é o país das maravilhas governado pelo grande timoneiro Rui Barreiro que está exposto. Um paraíso technicolor que infelizmente não existe e que ainda por cima é propagandeado à custa do erário público. O Estaline que me desculpe, mas em Santarém já se trabalha melhor do que ele. O ditador soviético apagava os adversários das fotografias (e às vezes não só). O autarca conseguiu fazer melhor. Fez desaparecer os buracos e a poeirada do Campo Infante da Câmara, a merda dos cães nos passeios, o lixo e das ervas nas ruas, os prédios a cair no centro histórico… Espectacular. Digno do grande Houdini!Há quem critique o presidente da câmara por ter utilizado dinheiros públicos para se promover, mas eu não vejo as coisas assim. Um bom momento de entretenimento, como o que nos é proporcionado por essa revista, merece ser apoiado pela União Europeia, que gasta dinheiro de forma muito mais criticável.E ainda a propósito de dinheiro, deixa-me revelar a minha admiração e simpatia à administração do Santuário de Fátima, que no ano passado conseguiu cerca de 11 milhões de euros de lucro. Só conheço outro caso assim, que é o PCP. De resto, neste país toda a gente tem prejuízo e contas mal paradas.Não sei se não seria de aproveitar esta última reserva de bons gestores para salvar o país. Tenho a certeza que, com alguma capacidade de persuasão, os homens do santuário conseguiriam desviar os peregrinos da rota de Fátima e encaminhá-los para a sede do Banco de Portugal para ali depositarem as suas oferendas. E com isso as nossas reservas de ouro depressa atingiriam o nível que tiveram nos tempos do saudoso Salazar, ainda hoje aclamado em benfazejas localidades como o Sardoal.Um abraço sufocante do Serafim das Neves

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