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A terra que nasceu da pedra

A terra que nasceu da pedra

Os cerca de 500 habitantes da freguesia têm uma qualidade de vida acima da média

É uma das freguesias mais pequenas do concelho de Tomar. Mas tem uma qualidade de vida acima da média. A Pedreira foi das primeiras aldeias do concelho a ter água, luz e estradas alcatroadas.

A Pedreira dista apenas cinco quilómetros da sede de concelho e, como o próprio nome indica, está implantada em cima de pedra. Pouco mais de 500 pessoas vivem nos 12 quilómetros quadrados da freguesia, composta por duas aldeias – Pedreira e São Simão – e por três ou quatro lugares mais pequenos, onde apenas existe meia dúzia de casas.Para chegar à Pedreira toma-se a estrada que liga Tomar ao Prado e, pouco antes de chegar ao local onde está instalada a única papeleira do concelho em laboração, a Companhia de Papel do Prado, corta-se à esquerda.Depois é sempre a subir, em estrada boa, ladeada de passeios em calçada, coisa rara em aldeias do concelho de Tomar. Aqui e ali pontificam fontanários, alguns com inscrições da data em que foram construídos, nas décadas de 40 e 50. Heranças de outros tempos, deixadas por um benfeitor da aldeia.Não é por acaso que Aparício Cardoso, um industrial do Estado Novo nascido na Pedreira, tem o seu busto exposto no jardim da aldeia. Uma homenagem que as gentes da terra quiseram fazer ao homem que mais lutou pelo desenvolvimento da freguesia.Foi ele que, em 1928, fez com que a Pedreira se tornasse numa freguesia independente, sendo desanexada de Carregueiros. É a ele que se deve o facto de a freguesia ter sido uma das primeiras do concelho a ter água, luz e estradas alcatroadas. É uma freguesia que acolhe muita gente que veio de África. São Simão, por exemplo, seria hoje uma aldeia desertificada não fosse o local escolhido para viver por algumas dezenas de famílias vindas das ex-colónias, na década de 70 e 80.Rodeada de vegetação, com o rio Nabão aos pés, o grande problema da freguesia prende-se com as condicionantes do Plano Director Municipal (PDM). Quando as pessoas se instalaram na freguesia, nomea-damente em São Simão, fizeram as suas casas com base em cartas militares de 1970.O que quer dizer que grande parte das habitações estão actualmente implantadas fora de espaço urbano, à luz do PDM. O que traz situações singulares, como o facto de hoje não se poder construir num terreno ladeado por vivendas, por o espaço ser considerado reserva ecológica ou florestal.A junta de freguesia fez um levantamento das necessidades da população e levou uma proposta à câmara, no sentido de se fazerem alterações aquando da revisão do PDM. Para que os jovens da terra não continuem a construir em freguesias vizinhas.Uma alteração já foi no entanto feita, possibilitando a construção de várias moradias. E bastou para isso mudar o nome de uma rua. Pelo facto de algumas das ruas da aldeia serem demasiado estreitas para a passagem de veículos pesados foi construída há alguns anos uma avenida exterior ao centro da aldeia, a que se deu o nome de variante.Precisamente por ser considerada variante não podia levar construção na sua envolvência. O nome foi alterado para rua Padre Cruz e tem já várias vivendas instaladas de cada lado da via. Os poucos terrenos onde ainda se pode construir são caros. Assim como as casas devolutas existentes no centro, algumas cuja construção remonta ao século XVII. Caras porque a aldeia é aprazível e tem praticamente todas as condições para uma vida de qualidade. O único senão é o saneamento básico, que ainda ali não chegou.Tem uma boa escola, que está agora a ser aumentada no sentido de se fazer um refeitório. Cerca de 80 crianças frequentam o jardim-de-infância e o primeiro ciclo do ensino básico, a maioria “importadas” de Tomar. Como as escolas da cidade estão cheias os pais vão ali deixar os filhos, nomeadamente os que trabalham na Papel do Prado.Culturalmente é uma das freguesias mais evoluídas e aguerridas do concelho, apesar da escassez da população. Tem uma banda filarmónica, um coro, um rancho folclórico – Os Canteiros da Pedreira - que já deu provas nacionais e internacionais.A Sociedade Recreativa e Musical da Pedreira faz também uma “perninha” no desporto, possuindo um campo de futebol com balneários, e equipas que jogam futsal, embora não federadas. Pedreira é uma freguesia marcadamente industrial, apesar da crise ter fechado algumas empresas, como o caso da papeleira Porto de Cavaleiros. Pujante continua a Companhia de Papel do Prado, situada à beira do Nabão.Tirando partido do solo, há algumas empresas familiares que se dedicam ao trabalho em pedra, nomeadamente cantarias para adornar as janelas das casas. Uma fábrica de confecções e empresas de jardinagem estão também ali em actividade.Há cafés, supermercados, médico três vezes por semana. Os mortos são velados num espaço do salão paroquial e a si-tuação dos idosos está em vias de ser resolvida com a criação de um centro de convívio.O facto de estar a apenas cinco quilómetros de Tomar traz no entanto algumas desvantagens. A junta tentou trazer para a aldeia um multibanco e os correios mas a resposta foi negativa, por os equipamentos não serem considerados rentáveis.Margarida Cabeleira
A terra que nasceu da pedra

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