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Rodrigo Dourado teve de migrar para evoluir

Atirador ribatejano é vice-campeão do mundo de Fosso Universal

Rodrigo Dourado é praticamente um desconhecido no Ribatejo e em Santarém, a sua cidade natal, mas é um dos melhores atiradores portugueses com arma de caça. Em Julho conseguiu o seu último grande resultado até ao momento: foi medalha de prata no Campeonato do Mundo de Fosso Universal. Agora luta por uma presença nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Rodrigo Dourado (Caneco) é um jovem atirador com armas de caça com provas dadas a nível nacional e internacional. Ostenta no seu currículo os títulos de campeão absoluto de Portugal de fosso universal, campeão de Portugal de juniores de fosso olímpico, medalha de bronze no Campeonato da Europa de Juniores em fosso Olímpico, e medalha de prata no Campeonato do Mundo de Fosso Universal. É natural e residente em Santarém, mas teve que migrar para outras zonas do país para poder desenvolver as suas capacidades de atirador.Como em todas as modalidades desportivas, quando se pretende atingir um nível elevado é necessário fazer muitos sacrifícios e, por isso, Rodrigo Dourado não fugiu à regra. Deu os primeiros tiros aos 13 anos, quando ia com o seu avô e o pai à caça. “Às escondidas eles deixavam que eu atirasse uns tiros aos tordos, e desde cedo mostrei que tinha pontaria e não lhes ficava atrás”, referiu o jovem atirador.O avô ficou de tal maneira entusiasmado com a pontaria e a frieza do neto que não mais deixou de lhe incutir a possibilidade de vir a ser atirador de nível. Passado pouco tempo surgiu a possibilidade de fazer parte do Clube de Tiro do Lis, de Leiria, e não deixou escapar a oportunidade. “Fui sempre acompanhado pelo meu avô, que se tornou um treinador muito exigente. Nas provas juvenis em que participava era sempre dos primeiros”, recorda.Rodrigo estudou em Santarém e quando chegou a hora de ir para a universidade - onde está a fazer o licenciamento em educação física e desporto - surgiu o convite para integrar a equipa do Clube de Tiro de Marco de Canavezes. Para ficar mais perto do local de treino, optou por se matricular na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – UTAD, em Vila Real.E os resultados começaram a surgir. Em 1998 integrou a Selecção Nacional de Juniores de Fosso Olímpico, que se deslocou a Chipre para disputar o Campeonato da Europa. Aí Rodrigo Dourado conquistou a medalha de bronze e ajudou também a equipa nacional a chegar ao terceiro lugar. “Foi uma alegria indescritível”, comentou.No ano seguinte, venceu o Campeonato de Portugal de Juniores de Fosso Olímpico e conseguiu o décimo lugar no Campeonato do Mundo de Fosso Universal, conquistando assim o estatuto de atleta de alta competição, atribuído pelo Instituto do Desporto de Portugal. “O estatuto dá-me algumas regalias, nomeadamente ao nível de entrada em qualquer curso universitário, e também uma bolsa monetária para ajudar na preparação”, referiu.Mas a intensa carreira de Rodrigo Dourado, que o levou a ser convidado para fazer parte do Clube de Tiro de S. Pedro de Rates, na Póvoa do Varzim - “o melhor clube do país”, na sua opinião - e a ser várias vezes campeão nacional e a representar Portugal ao mais alto nível, tem trazido alguns prejuízos aos estudos.“O estatuto de alta competição é muito útil. Dá-nos algumas regalias, mas é preciso fazer algo mais. Nas universidades os responsáveis não estão muito despertos para o facto de termos que sair para representar Portugal e não nos proporcio-nam qualquer facilidade. No meu caso, falei com o reitor e com o director do meu curso, para lhes chamar a atenção para o facto e para a possibilidade de ter aulas de compensação e o que me foi dito é que isso não era atribuição da UTAD, e que os horários já estavam feitos e tinham que ser cumpridos, não me dando qualquer ajuda”, referiu o jovem atirador.Que, no entanto, não esmoreceu e continuou a lutar nos dois campos: dos estudos e do tiro. Pelo meio e para fazer face ao stress, começou a fazer parte da equipa de rugby da UTAD. “É mais uma forma de fugir à rotina”, garantiu.Mesmo sentindo-se muito bem no seu actual clube na Póvoa do Varzim, Rodrigo Dourado lamenta que não exista em Santarém um clube de tiro com condições. “Já tentámos junto da câmara aferir dessa possibilidade, mas não houve qualquer resposta concreta”, referiu o jovem, acrescentando que é uma situação estranha quando são de Santarém alguns dos melhores atiradores nacionais de todos os tempos.Rodrigo Dourado referia-se por exemplo a Armando Marques, um atirador ribatejano, que para além dos muitos títulos conquistados a nível nacional e internacional, foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976. “O tiro com armas de caça é a segunda modalidade mais medalhada a nível internacional. Está logo a seguir ao atletismo”, reforça.É precisamente por uma presença nos Jogos Olímpicos que Rodrigo Dourado corre nesta altura. “Esse é o meu grande sonho. Tenho muita esperança de o conseguir em breve, mas a tarefa não é fácil. Enquanto não houver mudanças na Federação, os actuais dirigentes eternizam-se no poder, já lá estão há mais de vinte anos, e só olham para onde lhes interessa. Mas os dirigentes da maioria dos clubes já estão a trabalhar para mudar esta situação”, garantiu.A terminar e fazendo questão de dizer que não o move qualquer intenção de crítica a qualquer entidade do distrito de Santarém, Rodrigo Dourado mostrou várias distinções feitas pelas câmaras de Marco de Canavezes, Póvoa do Varzim e Leiria. “Só nunca fui distinguido em Santarém”, disse com tristeza.Mas o jovem atirador garante que nada o fará desistir, quer do sonho dos Jogos Olímpicos, quer do curso de educação física e desporto. “Quero, com a concretização das duas situações, agradecer aos meus familiares e a alguns amigos o apoio que me têm dado, e acredito que não vou trair a sua confiança. Vou trabalhar muito para o conseguir e dar-lhes essa alegria”.

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