uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Fazer pela vida

Fazer pela vida

Filipe Marques, foi de Vaqueiros para França em 1965
Filipe Marques foi dos primeiros habitantes de Vaqueiros a emigrar para França como clandestino, onde só teve uma profissão: montador de teatro. Uma viagem que lhe custou 15 contos. Dinheiro que considera ter sido muito bem empregue. No domingo os emigrantes são homenageados no decorrer das festas em honra do Divino Espírito Santo.Numa noite de Fevereiro de 1965, Filipe Marques, então com 48 anos, resolveu dar outro rumo à sua vida. Cansado do fraco retorno do trabalho no campo resolveu partir para França com o cunhado.Uma viagem de “a salto” (sem papéis) de um só dia. Atravessar a fronteira, atravessar a Espanha e entrar em França iludindo todas as vigilâncias das fronteiras. Quinze contos pagos a um “passador” de Alcanena. Um dinheiro que Filipe Marques considera ter sido bem empregue. Os primeiros dois meses foram complicados. Andou a fazer biscates aqui e ali para “amparar a bucha”. Depois empregou-se como montador numa companhia nacional de teatro, apoiada pelo Ministério da Cultura de França. A única profissão que exerceu naquele país durante 18 anos.“Quando trabalhava no campo ganhava seis ou sete escudos por dia enquanto em França ganhava 30 escudos”, recorda. Todos os meses enviava o máximo dinheiro que podia para Vaqueiros, onde ficou a mulher. Três anos depois da chegada a França levou o filho de 16 anos. Uma forma de evitar a sua ida para a guerra do Ultramar.Aprendeu a língua apenas o suficiente para se remediar nas situações mais comuns. Em França vivia essencialmente das gorjetas que ganhava durante os espectáculos a vender alguns aperitivos e chocolates. Por causa do teatro, percorreu o país de norte a sul, com algumas incursões na Bélgica e na Suíça.Acabou por chegar a chefe montador quando o seu superior se reformou, mas o título nunca lhe foi reconhecido. Aliás, de França, o melhor que Filipe Marques recorda foram grandes artistas como Sylvia Monfort e Mireille Mathieu. De resto considera que os franceses têm uma personalidade muito seca. “São capazes de ajudar. Mas se levamos daqui vinho para casa do patrão nem um copo de água é capaz de nos dar”, recorda em tom crítico.Filipe Marques, agora com 88 anos, regressou à terra de sempre em 1982, apesar de ter nascido em Pernes e estar registado como pernense. Em Vaqueiros adquiriu algumas propriedades e casas, investindo e contribuindo para melhorar o núcleo da freguesia. Entre 5 e 7 de Agosto, as festas em Honra do Divino Espírito Santo, de Vaqueiros, fazem a homenagem ao emigrante, com o descerramento de um painel de azulejo” de reconhecimento àqueles que partiram da sua terra e regressaram, contribuindo para o desenvolvimento da freguesia. É domingo, ao meio-dia.
Fazer pela vida

Mais Notícias

    A carregar...