“Os camiões chegam a toda a hora, muitas vezes de madrugada, seja às 2, 3 ou 5 da manhã e estacionam junto aos prédios. E o problema é que não vêm só aqui para estacionar, usam também a zona como oficina, para mudarem os pneumáticos ou fazer revisões”. O desabafo é de Ana e Isabel Venâncio, residente na Quinta das Índias, em Vialonga. Há mais de um ano que esta família luta com vários meios contra o estacionamento de veículos de transporte de pesados à sua porta. A situação é idêntica às relatadas no Casal da Serra na Póvoa de Santa Iria, na Quinta das Drogas em Alverca, no Bom Retiro em Vila Franca de Xira e em dezenas de urbanizações por todo o concelho. Sobretudo nas freguesias urbanas, os motoristas não abdicam de levar o camião ou o autocarro para junto das suas residências, onde permanecem durante a noite e aos fins-de-semana. Há até veículos de transporte de mercadorias perigosas e camiões com frigoríficos que trabalham toda a noite estacionados a poucos metros das casas. No Inverno, de madrugada, os condutores ligam o motor para aquecer e vão tomar banho e preparar-se para mais uma viagem. O ruído incomoda centenas de pessoas que tentam descansar ali perto. “É um barulho enervante”, explicam os moradores. Os motoristas percebem as queixas e avançam com os seus argumentos. “Onde é que eu vou estacionar?”, questiona José Augusto Moreira, morador no Olival Fora, em Vialonga. O motorista alega que transporta mercadorias de valor e se o camião for assaltado numa zona erma e sem segurança, o seguro declina a responsabilidade. “Já vi colegas serem despedidos por terem sido roubados em locais afastados das casas”, acrescenta.O presidente da Junta de Freguesia de Vialonga, Manuel Valente está sensível aos argumentos cruzados por moradores e motoristas. O autarca acrescenta ainda que a circulação e estacionamento de pesados provoca danos nos arruamentos e nos passeios. “Vamos avançar com a construção de um parque de pesados”, garante. “ Fiz uma proposta à fábrica da Solvay, que tem bastante terreno em Vialonga e é uma das empresas que tem mais camiões, para disponibilizar um espaço para os camionistas”. Sendo este um investimento de grandes dimensões, o presidente da junta explica que “os camionistas só terão de pagar uma taxa para poderem usufruir de vigilância dos próprios carros”. Ana e Isabel Venâncio, as queixosas da Quinta das Índias, em Vialonga, não se entusiasmam com as promessas porque há mais de um ano que aguardam decisões das autoridades e órgãos autárquicos. As munícipes exigem o cumprimento da lei. “Além de cometerem infracções, pois a lei proíbe a circulação de veículos com mais de 5,5 toneladas, incomodam quem aqui vive”, reclamam mãe e filha.“A GNR fecha um pouco os olhos a esta situação. Os camiões TIR estão aqui estacionados todos os dias, sobretudo ao fim-de-semana”, explica António Afonso, também morador na Quinta das Índias. O comando geral da GNR confirma que já recebeu uma queixa. Na altura, os queixosos foram informados de que há uma autorização especial para o estacionamento de pesados. A declaração foi assinada pelo presidente da junta. Manuel Valente não pediu qualquer parecer à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, a quem compete a gestão do espaço público. A autarquia vilafranquense lembra que o novo regulamento de trânsito de Vialonga condiciona a circulação e o estacionamento de pesados nas urbanizações. A medida não resolve o problema porque os camionistas não têm onde estacionar em segurança.