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2010 — O Fim da República

D. Sebastião carregou à testa dos seus barões. Vestia armas azuladas […] e montava o Pérsio, de mãe que diziam ter alcançado do vento, corredor tão ligeiro e de bom andar que passava na areia sem deixar o sinal das ferraduras.(Aquilino Ribeiro, Aventura maravilhosa de D. Sebastião)

Cronologia dos acontecimentos:25 de Maio de 2010 – 8 horas As chamas devoraram, esta madrugada, os 176 pavilhões da Feira do Livro, em Lisboa.Sem florestas para incendiar, os pirómanos portugueses estão, agora, a escolher as maiores concentrações de papel como alvos privilegiados das suas actividades profissionais. Aliás, Carlinhos Labareda, porta-voz da Federação dos Promotores de Fogo Posto em Portugal (FPFPP) explicou, ontem, às 23 horas, que os incêndios das fábricas de celulose e das bibliotecas decorreram conforme planeado. Por arder, encontram-se somente a Imprensa Nacional e a Tipografia Mirandela. “Mas” — acrescentou — “é uma questão de horas!”.O mesmo responsável manifestou, ainda, a sua satisfação pelos incêndios do Mosteiro dos Jerónimos e da Igreja de Santa Engrácia, na capital do que ainda resta deste país. Simultaneamente, aproveitou para desmentir o vespertino O Incrível que noticiou a existência de uma mancha de sobreiros por arder, na Ilha das Berlengas. “É totalmente falso. Nós já conseguimos queimar todas as zonas verdes, incluindo as três piteiras que havia nos Farilhões” — precisou Carlinhos Labareda.Quanto ao projecto de incêndio do Palácio de S. Bento, onde, por enquanto, funciona a Assembleia da República, o representante dos pirómanos portugueses mostrou-se mais cauteloso. Os planos estão praticamente concluídos. Falta apenas terminar o estudo de impacte sonoro das chamas. Carlinhos Labareda explicou assim as suas preocupações: “Como o Parlamento fica junto à residência do primeiro-ministro, é forçoso controlar, eficazmente, o barulho do fogo para não acordar o Governo!”.Recorde-se que estamos a pouco mais de quatro meses da mudança de regime político em Portugal. Por isso, Carlinhos Labareda foi categórico: “Não vale a pena estar a incomodar o Governo, agora que este até já conseguiu despedir 538 000 funcionários públicos, dois assessores e um gestor da PT, reduzindo o défice para os 6,143 %!”.Dia 30 de Maio de 2010 –11 horas Um incêndio destruiu, hoje, a Igreja de Santa Cruz, em Coimbra. Arderam os túmulos de D. Afonso Henriques e de seu filho, D. Sancho I. O povo saiu à rua, entoando cânticos em louvor do próximo Chefe de Estado: “Arraial, arraial! Por D. Sebastião, rei de Portugal!”.De Santarém, chegaram notícias sobre o reforço do contingente de militares brasileiros que vigia o túmulo do fidalgo e navegador Pedro Álvares Cabral. Junto à Igreja da Graça, encontram-se, agora, 3800 soldados e 750 agentes policiais oriundos do Estado de Mato Grosso.Dia 31 de Maio de 2010 –13 horasDepois de o Castelo de São Jorge ter estado 72 horas a arder, o Governo finalmente acordou! Este insólito acontecimento conduziu à demissão do presidente da Federação dos Promotores de Fogo Posto, pois calculou erradamente o estudo de impacte ambiental e acústico. Relembre-se que Fagulha Fogueteiro, presidente da FPFPP, tinha garantido que este fogo não iria provocar quaisquer transtornos junto de terceiros, incluindo o próprio Governo.Entretanto, o incêndio da Torre de Belém precipitou os acontecimentos. Em comunicação ao país, o presidente da república, Parísio da Fonseca, assegurou que a transferência de poderes será antecipada de 4 de Outubro para amanhã, dia 1 de Junho. Garantiu, igualmente, debaixo de fogo, que — hoje mesmo — tinha falado telefonicamente com D. Sebastião, para acertar os detalhes da respectiva transferência de poderes. Parísio da Fonseca adiantou, ainda, que o REI chegará, hoje, a Lisboa, às 20 horas. Proveniente de Marrocos, o “monarca desejado” já fez saber que, mal chegue ao reino das chamas, dará imediatamente voz de prisão a Fagulha Fogueteiro e a Carlinhos Labareda, líderes do fogo posto em Portugal.Por sua vez, o Duque de Ksar al Kebir (Alcácer Quibir), porta-voz de D. Sebastião, antecipou aos jornalistas o teor do discurso que será proferido por sua majestade após a coroação, junto às ruínas dos Jerónimos: “Os incendiários estão presos. A república acabou! O novo primeiro-ministro será o Conde de Barrancos e a capital passará para Olivença. As cortes constituintes realizar-se-ão a 5 e a 10 de Junho, em Lamego e em Santarém, respectivamente. O hino português será extraído da Mensagem de Fernando Pessoa (edição de 1934), musicado por Nuno da Câmara Pereira. A bandeira nacional obedecerá ao projecto, oportunamente, apresentado pelos republicanos Guerra Junqueiro e Braamcamp Freire. O gestor da PT, despedido há uma semana, ascenderá a par do reino, como assessor político e económico do meu cavalo Pérsio. Viva a Monarquia! Viva Portugal!”.Texto ficcionista. Qualquer semelhança entre o seu teor e a realidade constitui proverbial coincidência.Dia de Nossa Senhora, 15 de Agosto de 2005.

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