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Quando os problemas se levam para casa

Ana Santos é psicóloga clínica no Gabinete de Saúde e Acção Social de Azambuja

Ana Santos, psicóloga clínica e presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Azambuja, lida diariamente com casos de maus tratos, abuso sexual e negligência. As situações são perturbadoras e por vezes é difícil para a profissional distanciar-se do trabalho quando chega a casa.

A psicóloga clínica Ana Santos estava há pouco tempo a trabalhar no gabinete de Saúde e Acção Social da Câmara Municipal de Azambuja quando o telefone tocou. A denúncia anónima alertava para uma suspeita de abuso sexual de uma criança. Foi assim que a técnica, de 29 anos, habituada à rotina do estágio no Hospital Militar, começou aos poucos a tomar contacto com a realidade social da comunidade de Azambuja, onde reside actualmente. Há alguns meses a psicóloga foi também chamada a apoiar o caso de um bebé de cinco meses hospitalizado depois de ter sido sujeito a maus tratos pela própria mãe. “É um trabalho muito desgastante em termos psicológicos, mas a equipa é óptima e torna-se muito enriquecedor quando conseguimos que a criança deixe de estar em risco ou quando melhoramos a situação”, descreve Ana Santos.Desde Maio de 2005 que a psicóloga preside à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) em Risco do Concelho de Azambuja. A equipa, que reúne representantes das várias entidades do concelho, lida constantemente com casos de negligência, mas também de maus tratos, abandono escolar e abuso sexual.É o trabalho da comissão que lhe ocupa a maior parte do tempo. Os casos que trata são normalmente perturbadores e é difícil para a profissional distanciar-se do trabalho quando chega a casa. A profissão é absorvente e não tem horários rígidos. Às vezes é preciso fazer contactos fora da hora de expediente. Há dias em que não chega a casa antes das nove da noite. Quando um caso é sinalizado pela comissão é feita uma avaliação preliminar. As pessoas envolvidas são convocadas ou é feita uma visitação domiciliária. A recepção que é feita à psicóloga, normalmente acompanhada de um outro técnico, nem sempre é agradável e por vezes não é possível chegar a acordo. “Quando a criança está em risco de abandono escolar podemos aconselhar determinado curso de formação profissional”, descreve. Quando as tentativas de resolver a situação amigavelmente se esgotam o processo transita para tribunal.A prevenção primária é um dos seus trabalhos preferidos. E é exactamente isso que faz no âmbito do Plano Municipal de Prevenção das Toxicodependências, com o qual também colabora.O trabalho de prevenção é feito nas escolas com alunos e professores e com a própria comunidade. O projecto começa logo no pré-escolar com a sensibilização para a leitura e para a escrita e com a realização de jogos. “O objectivo é que no futuro aquelas crianças tenham mais motivação para aprender e não cheguem nunca ao abandono escolar. Parece muito precoce, mas não é”.Ao lado da equipa, a técnica trabalha as competências sociais, como o saber dizer não, o saber ouvir o outro e a tomada de decisão. “Tudo isso faz com que as crianças ganhem competências para que depois não enveredem pelo insucesso escolar ou por outros caminhos”.O projecto é alargado ao terceiro ciclo. Só a um nível mais avançado é que surge o tema concreto da toxicodependência e se abordam os problemas da droga e os seus efeitos.Ana Santos formou-se no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Nunca pensou em trabalhar numa autarquia, mas em 1999, altura em que acabou o curso, aceitou o desafio de integrar a equipa da CPCJ na Câmara Municipal de Azambuja.O trabalho na autarquia permite-lhe dar utilidade a todos os conhecimentos que adquiriu na faculdade. “Conhecemos muita gente e podemos fazer uma intervenção comunitária, mais abrangente, e não só aquilo a que está mais associado o trabalho do psicólogo clínico”, explica.Para Ana Santos é importante investir cada vez mais na prevenção. “Só assim teremos cada vez menos crianças em risco. Porque essas crianças também serão pais”.Ana Santiago

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