Carta aberta a Rui Barreiro
“Posso garantir-lhe que Santarém é a pior capital de Distrito de Portugal. E também estou em condições de lhe garantir que a causa primeira está sedeada na gestão autárquica da cidade.”
Conhecemo-nos há anos, desde que V.Exa integrou, como eu, uma comitiva de Advogados a um Congresso da Ordem dos Advogados (Secção do Pará) em Santarém, mas no Brasil.Acompanhei o seu percurso e a gestão autárquica de que passou a ser o primeiro responsável, assim como vivi, a par e passo, as anteriores, presididas pelos Srs. Botas e Noras (e as do tempo do fascismo).Conheço Santarém desde 1957, ou seja, há mais anos que a maioria dos eleitores desta cidade e, para azar meu, conheço o nosso País e, seguramente, todas as capitais de Distrito.Estou, pois, em condições de comparar Santarém com o seu passado e Santarém com o seu presente face à evolução das cidades que se lhe equiparam. Posso afiançar-lhe que as conclusões são terríveis. Posso garantir-lhe que Santarém é a pior capital de Distrito de Portugal. E também estou em condições de lhe garantir que a causa primeira está sedeada na gestão autárquica da cidade.Veja se me acompanha.Santarém não tem uma estratégia de desenvolvimento, nem urbanístico, nem económico, nem cultural, nem desportivo.Eu direi mesmo que Santarém tem vocação autárquica para negligenciar tudo, para recusar mesmo o desenvolvimento.Repare nos seguintes exemplos:- Não há uma via de acesso à cidade que não esteja degradada (a Calçada do Monte e a Estrada da Estação estão à vista);- Não há espaços verdes, não se aproveita o Rio Tejo (eu penso que o rio é mesmo um empecilho para a autarquia);- Não há locais de lazer, nem para praticar desporto (resta-nos a Escola Agrícola que faz o favor de nos admitir);- O centro histórico da cidade está morto (apesar do privilégio de ter um Largo do Seminário, o Padre Chiquito, o Largo de Marvila, as Portas de Sol);- O desenvolvimento urbanístico é caótico (o Bairro de S. Domingos, o Alto do Bexiga e o campo da Feira do Ribatejo estão à vista);- A centralidade política e administrativa não é reclamada (foi-se o Tribunal Administrativo, a hipótese do Tribunal de Relação, uma Secretaria de Estado e outros serviços que não são instalados em Santarém por negligência da gestão autárquica);- Não se promove o Turismo (penso até que se repudia o Turismo);- Não há museus para visitar, não há locais históricos para exaltar, apesar da riquíssima História da cidade (saberá V.Exa o que se fez em Santarém desde D. Afonso Henriques a D. Pedro I, D. João II e Humberto Delgado, p.e.?)Sr. Engº Rui Barreiro, eu sei que V.Exa só tem quatro anos para responder por tudo isto mas também sei que o casamento perverso entre a máquina autárquica que julga que gere e V.Exa torna ingerível esta cidade.É minha convicção que o mais honesto dos cidadãos eleito entre os apoios que o suportam não conseguirá abanar sequer essa máquina camarária que trabalha mal e em sentido inverso do que se impõe face ao atraso que ela (a máquina) dolosamente impôs a Santarém.É minha convicção que as forças administrativas (não as políticas, como é óbvio) que o apoiam têm de ser removidas para que se abra uma hipótese, pequena que seja, de apurar os interesses instalados, auditar os serviços e as contas, redefinir uma estratégia para a cidade, em suma, dar o mínimo de transparência e responsabilidade à gestão autárquica.Pode V.Exa dizer que fez esta ou aquela obra e, curiosamente, nestes últimos meses, tem trabalhado afanosamente para apresentar propostas em questões de vulto (Parque desportivo, Campo da Feira, Crematório, variantes para a EN 365, etc) e obra feita em questões menores (Fontainhas e Rua O) o que, creia, não lhe fica bem.Mas o que V.Exa não pode é deixar de comparar cidades como Braga, Guimarães, Aveiro, Viseu, Évora, Leiria a Santarém e logo concluirá que apesar de há 20 anos estarem bem mais atrasadas são, hoje, cidades em que dá gosto viver.Do mesmo modo, não pode V.Exa e a máquina em que se sustenta deixar de comparar Santarém e a sua paralisia atávica, com o desenvolvimento de Almeirim, Cartaxo, Rio Maior, Chamusca, Coruche, Abrantes, por exemplo.Como vê, nada disto tem que ver com a cor politica da gestão autárquica: tem só que ver com a máquina que o sustenta tal como sustentou e justificou os mandatos do Sr. Noras. Todos temos que a pôr em causa, que equacioná-la, que interpretá-la, que auditá-la e, é minha convicção, puni-la, pelo menos, politicamente.Nada tenho, na verdade, que ver com o PSD. A minha afinidade ideológica até estará mais perto da CDU. No entanto, neste momento de algum dramatismo para Santarém, eu, se aqui votasse, votaria na Lista do Dr. Moita Flores por ser a única que, no meu entender, tem hipóteses de vencer, porque não tem complexos partidários, porque se renovou, porque tem vontade de fazer algo pela cidade. Acima de tudo votaria no Dr. Moita Flores com tanta mais convicção quanto mais garantias ele me der de que vai colocar em equação a sobrevivência desta máquina autárquica que tem de ser destruída.Creia, Sr. Engº Rui Barreiro, que nada do que lhe digo pretende atingi-lo pessoalmente nem, muito menos, ao Partido Socialista. Creia, pois, que o que me move é a cidade e os scalabitanos. Só eles.Com os meus melhores cumprimentos* Advogado. Membro do Conselho Superior de Magistratura
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