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Ribeira de Santarém quer ter futuro

Ribeira de Santarém quer ter futuro

Freguesia ribeirinha de Santarém vive atrofiada entre a linha do caminho-de-ferro e a falta de ligação ao Tejo

No início, há cem anos, o comboio trouxe progresso à freguesia de Santa Iria da Ribeira de Santarém. Hoje é responsável pela degradação da localidade.

À entrada da localidade, junto à linha do caminho-de-ferro, juntam-se os idosos da freguesia. Passam o dia a ver passar os comboios, o trânsito de carros e tractores agrícolas para os campos. Pouca coisa há para fazer numa terra envelhecida. Santa Iria da Ribeira de Santarém é uma terra a cair aos bocados. A cada dia que passa a terra envelhece ao ritmo da trepidação das composições de passageiros e de cargas que não deixam ninguém sossegar. Há cem anos destruíram-se casas e cortaram-se ruas para passarem os carris que se julgava trazerem progresso. Agora a freguesia vê-se asfixiada entre uma zona ribeirinha desaproveitada e o trânsito de comboios, que vai provocando estragos nas casas. Na vida social. Na desertificação. Só nos últimos oito anos morreram cerca de 150 pessoas. A Ribeira de Santarém está a ressentir-se de décadas de abandono. Os jovens foram saindo para a cidade e para a periferia. A escola primária ainda vai funcionando porque os pais vão deixando os filhos com os avós que resistem à morte lenta da localidade. O estabelecimento tem cerca de 50 alunos. Até a importância agrícola da freguesia, que tem a maior parte do seu território de 14 quilómetros quadrados ocupado por terrenos de cultivo, se tem vindo a perder. Actualmente quem cultiva os campos à beira-rio são os agricultores de Almeirim. Mas as ruas estreitas e as passagens de nível têm-se revelado um entrave ao escoamento dos produtos. É por isso que o presidente da junta de freguesia, Vítor Gaspar (CDU), defende uma intervenção no espaço agrícola para desenvolver a localidade. Imagina estruturas de apoio como balneários para os trabalhadores, melhores estradas, entre outras, para atrair investimento. Ao mesmo tempo gostava de ver as casas recuperadas. Devolver as cores garridas, as casas de fachada branca e barras amarelas ou azuis. Se for feita a recuperação do casario, julga o presidente, as pessoas começam a procurar a Ribeira de Santarém para viver. O projecto Almargem permitiu a recuperação de algumas ruas, mas mais importante, uma grande intervenção ao nível do saneamento básico. Os esgotos domésticos, que são canalizados para a Estação de Tratamento de Águas Residuais de Santarém, foram separados dos pluviais. E constituiu uma nova esperança para a população local. Numa terra envelhecida os problemas de pobreza são latentes. A junta de freguesia, em conjunto com a congénere de Marvila e com instituições de solidariedade, faz a distribuição de alimentos duas vezes por ano. Nesta altura um edifício antigo, denominado Casa da Portagem, está a ser remodelado para habitação social. A freguesia vai olhando para o rio com a nostalgia do tempo em que os barcos lhe davam vida. E com o desejo de que a linha do caminho-de-ferro seja desviada. Em seu lugar, advoga Vítor Gaspar, pode surgir uma circular rodoviária, um espaço para lazer, uma zona pedonal. Qualquer coisa é melhor que o atrofio que os comboios causam actualmente. Vítor Gaspar gostava de ter na freguesia uma secção museológica, com as peças arqueológicas que foram descobertas durante as obras de saneamento básico. O autarca gostava também de ter equipamentos e máquinas da junta para não estar totalmente dependente da câmara municipal e poder intervir em arranjos e na manutenção dos espaços públicos. A Ribeira de Santarém, apesar de ter apenas 1.300 habitantes, tem algumas colectividades activas e dinâmicas. É o caso do rancho folclórico, União Veteranos Café Zeca, Clube de Canoagem da Ribeira e Teatro Clube Ribeirense. Na freguesia há um campo de futebol pelado utilizado para treinos pela União de Santarém e onde jogam as camadas jovens deste clube. Distando dois quilómetros da sede de concelho, a Ribeira tenta encontrar-se com o Tejo que lhe deu vida e alma. O rio que em algumas alturas inunda grande parte da localidade e submerge os campos e lhes dá fertilidade.
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