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A arte de “domar” o corno do toiro bravo

A arte de “domar” o corno do toiro bravo

Constantino Agostinho, artesão de Vila Franca de Xira

Constantino Agostinho é o mais alto representante do artesanato do concelho de Vila Franca de Xira. Os trabalhos em corno de toiro bravo têm-no levado a vários pontos do país e do estrangeiro e já lhe renderam três prémios nacionais.

A escassos dias do arranque da Feira Anual e do 25º Salão de Artesanato, em Vila Franca, Constantino Agostinho lamenta não poder participar no evento este ano. A feira de Vila do Conde e o aumento do número de encomendas por particulares levaram a que ficasse sem stock de peças para apresentar no salão. Ao longo dos últimos 25 anos participou várias vezes com os seus trabalhos em corno no certame, que inclusive ajudou a fundar.Nascido e criado em Vila Franca, Constantino Agostinho, 56 anos, descobriu cedo a sua vocação para as artes plásticas. Ainda no primeiro ciclo, apercebeu-se da apetência que possuía para as artes e a partir daí “tornou-se um sonho trabalhar nesta área”. Tentou ir para Belas Artes, mas tal não foi possível pelas limitações económicas características da época. Aos 17 anos surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira como desenhador e foi lá que trabalhou até à reforma, há um ano atrás. O trabalho na câmara municipal não impediu Constantino de dedicar parte do seu tempo à pintura a óleo, a carvão ou pastel. Entre as suas actividades conta-se ainda a de forcado, durante 12 anos. O artesanato, nomeadamente o trabalho em corno de toiro executado pelos campinos, surgiu na sua vida há cerca de 15 anos por sugestão do vereador da cultura de então. “O vereador conhecia as minhas capacidades e sugeriu que fizesse a recuperação daquilo que nós tínhamos antigamente e que era mais característico da região”. Há mais de 40 anos, os campinos eram obrigados a passar a semana inteira com o gado, na lezíria, “só iam a casa ao sábado”. Os longos tempos mortos da actividade eram então passados a trabalhar o corno do toiro bravo e a criar utensílios para o dia-a-dia. Talheres, galheteiros e saleiro eram feitos a partir desta matéria-prima única pelas suas características de inquebrável e de conservação. A melhoria das condições de vida, sobretudo a partir dos anos 70, fez com que este trabalho ficasse esquecido no passado. Para recuperar esta memória, Constantino Agostinho tentou pesquisar junto de campinos antigos, tarefa que diz não ter sido nada fácil. Dos que encontrou a maioria já não se lembrava e os restantes executaram pouco para poder dar as dicas que precisava. Constantino viu-se, assim, obrigado a descobrir algumas das técnicas com o seu próprio trabalho e com a sua obstinação. Trabalhar o cornoO trabalho do corno começa com a sua decomposição, expondo-o ao sol ou com água a ferver, para depois “extrair o miolo”. O passo seguinte é a limpeza e o corno do toiro fica pronto para ser esculpido. Para Constantino Agostinho esta é a parte mais difícil porque, diz gracejando, o material “é rijo que nem cornos”. Trabalhá-lo é bastante difícil. Na tarefa meticulosa que é esculpir o corno, este artesão utiliza tanto quanto possível o canivete tal como os campinos faziam na altura. O X-Acto, as limas e as goivas são os restantes utensílios que usa para trabalhar esta matéria-prima. Actualmente, a principal dificuldade com que Constantino se depara é a aquisição de material, por trabalhar essencialmente com toiro bravo. “Tenho que andar sistematicamente a par de onde há as corridas, onde é que alguns toiros vão ser abatidos”. É nas várias feiras de artesanato em que participa que Constantino Agostinho dá a conhecer o seu trabalho. Para este artesão os eventos como o Salão de Artesanato, que abre portas no Parque Urbano de Vila Franca no próximo sábado, são “muito importantes”. “Ajudam à subsistência dos artesãos” e são um espaço para conhecer o país de um outro ponto de vista. Galheteiros, saleiros, pimenteiros e talheres são as principais peças que Constantino produz e os preços variam entre os 10 e os 200 euros. Do seu espólio pessoal faz também parte uma corna, um corno de toiro trabalhado para levar o vinho para as romarias. Uma peça imponente e “de estimação” que levou mais de 300 horas para fazer e pela qual ofereceram-lhe 1500 euros. Com esta peça Constantino Agostinho alcançou um primeiro prémio nacional num concurso em que participaram todas as vertentes do artesanato, desde as rendas, a cerâmica ao ouro e à prata. Sara Cardoso
A arte de “domar” o corno do toiro bravo

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