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A realização tardia de um sonho

A realização tardia de um sonho

Rosa Maria Baieta da Conceição, engomadeira

Foi apenas aos 45 anos que Rosa Baieta começou a desenvolver a profissão de engomadeira. O gosto pela actividade foi-lhe incutido pela mãe ainda com os ferros a carvão.

Passar roupa a ferro é considerada pela generalidade das pessoas uma das tarefas domésticas mais enfadonhas. Para Rosa Baieta é uma paixão de sempre concretizada apenas aos 45 anos. Depois de ter trabalhado num escritório de advogados, como secretária, e de ter sido empregada doméstica, em Paço de Arcos durante 15 anos, Rosa Baieta está a exercer, finalmente, a sua profissão de sonho. Há três anos o aumento do custo de vida, com a introdução do euro, deixou-a no desemprego. Foi então que decidiu investir naquilo que sempre gostou de fazer: engomar. Durante três semanas frequentou um curso de formação para engomadeiras numa escola da Parede onde aprendeu as técnicas que hoje utiliza na loja em que trabalha, no centro da cidade de Vila Franca de Xira. Já quando trabalhava como empregada doméstica, passar a ferro “foi sempre o que eu mais gostei de fazer, dá-me muito prazer. Eu posso estar horas agarrada à vaporeta que não me canso”. O gosto por engomar vem desde muito pequenina. Nascida há 49 anos em Samora Correia, Rosa acompanhava a mãe ao Rio das Portas, em Castanheira do Ribatejo, para lavar roupa. “Metia-me dentro do rio, pegava numa pedrinha de sabão e lavava. Depois quando chegava a casa, a minha mãe preparava o ferro a carvão e ensinava-me a passar a roupa”, recorda, com um brilho no olhar.Hoje, nenhuma peça de roupa tem segredos para Rosa Baieta, nem mesmo as rebeldes camisas. “Para mim não há nenhuma peça difícil de passar, o que acontece às vezes é que as senhoras esquecem-se de tirar as camisas da corda, apanham muito sol e quando chegam aqui parecem chouriços”. A solução passa, então, por “enchambrar” as peças, isto é, borrifá-las e dobrá-las na véspera de as engomar. Quanto à roupa de algodão e cambraia, Rosa Baieta aproveita para recomendar que se evite estendê-la ao sol “porque a roupa fica ressequida, as fibras partem e há muita roupa que depois não tem concerto”.Por dia Rosa passa uma média de 20 cestos de roupa, entre calças, vestidos, camisas e lençóis. As toalhas de linho e de renda e as roupas de criança são as peças que mais gosta de engomar pela sua “delicadeza”. Para além destas peças, pelas mãos desta engomadeira passa também o traje do jovem toureiro açoriano, Mário Miguel. Das peças que compõem o traje, casaca, camisa, calções, cinta e meias, o mais difícil de passar para Rosa é a casaca ,“como é uma peça bordada implica um trabalho de muita minúcia”. Na escola da Parede, Rosa Baieta aprendeu as duas técnicas para passar roupa a ferro: a insuflação e o sistema de vapor básico. Entusiasmada, explica que o sistema básico consiste apenas na vaporeta que emite o vapor e a insuflação, ou técnica francesa, é a tábua que expele o vapor necessário para engomar as peças. No seu local de trabalho, Rosa apenas dispõem da vaporeta, mas espera em breve ter uma tábua de insuflação, já que o resultado final é mais perfeito.Ser engomadeira não é, evidentemente, uma profissão de risco, mas deixa marcas. Rosa mostra pequenas queimaduras nos braços, fruto de alguns instantes de distracção. Ossos do ofício que diz não a atrapalharem, até porque basta ter um pouco de cuidado para os evitar. Apesar de se sentir à vontade a desempenhar a sua função, Rosa Baieta considera importante manter-se actualizada sobre as novidades na área. “Se surgir alguma oportunidade para fazer um curso eu vou, porque há sempre novas técnicas”.Agora que encontrou finalmente o seu emprego de sonho, Rosa quer continuar a ser engomadeira “até ao fim da vida! Tenho ainda muito caminho a percorrer e muita roupa para passar!”
A realização tardia de um sonho

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