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O refúgio de Alexandre Herculano

Escritor e historiador passou últimos anos de vida na Quinta Vale de Lobos
O escritor e historiador Alexandre Herculano escolheu a Quinta Vale de Lobos, na Póvoa de Santarém, para meditar e fugir à vida da cidade, acabando por ali viver os últimos dez anos da sua vida. Faleceu em 1877.Talvez tenha sido o ambiente proporcionado por altos cedros e uma extensa mata onde predominam os carvalhos e pinheiros, que praticamente não deixam entrar os raios de sol, que atraíram o escritor.A Quinta Vale de Lobos situa-se entre a capital de distrito e a Póvoa de Santarém, à beira da Estrada Nacional (EN) 3, com acesso por um caminho secundário. No rés-do-chão da casa da quinta, permanece intacto o quarto onde o escritor viveu.Um pequeno espaço com três por quatro metros de aspecto simples, que mantém o mobiliário original. A cama é pequena em comprimento, com enorme cabeceira e pés em madeira. A colcha fina e já deteriorada tem motivos florais azuis e um travesseiroAo lado, a mesa-de-cabeceira é alta e esguia, com o candeeiro a petróleo no topo a conduzir-nos para uma época onde ainda não se ligava o interruptor. Num dos cantos a zona de lavabos, o suporte em madeira com lavatório e vários objectos em porcelana azul e branca. O que mais chama a atenção é a imponente cómoda com um camiseiro na parte inferior e várias gavetas. No topo um par de chinelos e um chapéu estão expostos dentro de uma redoma de vidro.Por cima de cada uma das portas estão duas gravuras pintadas à mão. Segundo Verónica Santos Lima, proprietária da casa, o escritor ter-se-á mudado do primeiro andar para aquele quarto do rés-do-chão a fim de evitar esforços na sequência de uma doença pulmonar prolongada. Da grande janela do quarto espreita-se a paisagem verdejante. No exterior da casa um azulejo em honra e memória a Alexandre Herculano reporta à existência do “illustre historiador portuguez”, falecido a 13 de Setembro de 1877. A Quinta Vale de Lobos tem ainda a particularidade de produzir azeite premiado a nível internacional, com distinções e medalhas nos Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e Inglaterra. É hoje um local visitado por portugueses mas também por estrangeiros que aproveitam para visitar a região. Ao tempo de Herculano, o azeite ostentou o seu nome e, segundo Verónica Santos Lima, foi aconselhado pela casa real como produto de excepção para o aparelho digestivo. “Apesar de ser da cidade, Alexandre Herculano interessava-se pela agricultura e chegou a montar um sistema de aproveitamento das águas pluviais para encher tanques e dar de beber ao gado”, revela.Até a centenária empresa Jerónimo Martins já vendia o azeite Herculano em exclusividade naquele tempo. Das antigas oliveiras da quinta, apenas cerca de 30 são as originais. Alexandre Herculano não terá querido ter filhos para não atrapalhar a sua vida literária, mas fala-se na relação adúltera com uma mulher pobre de Azóia de Baixo. Diz-se também que essa mulher está sepultada naquela freguesia e uma filha de ambos na Póvoa de Santarém.

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