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A arte do trabalho na sombra

Alexandre Lyra Leite, encenador em Vila Franca de Xira

Começou por estudar informática de gestão, mas um dia percebeu que estava no caminho errado. Deixou tudo para trás e mergulhou de cabeça no universo das artes e do espectáculo.

Quando chegou a altura de ingressar na universidade, Alexandre Lyra Leite optou por informática de gestão. Três anos depois descobriu que aquela não era a área em queria vir a trabalhar no futuro. Foi então que começou a sua aventura pelo mundo do espectáculo. Um anúncio de jornal para um curso de produção teatral despertou a atenção de Alexandre Lyra Leite que decidiu experimentar. Durante um ano teve contacto com todas as áreas que estão ligadas à produção de um espectáculo teatral, desde a interpretação, voz, luz à produção. “Foi um ano alucinante, com aulas e professores excelentes em que descobri o teatro. A partir daí fiquei super entusiasmado com as artes do espectáculo, no geral, e com o teatro em particular”, recorda.Nesse mesmo ano, Alexandre desistiu do curso de informática de gestão e fundou a Inestética – Companhia Teatral em Vila Franca de Xira. Passados 14 anos, a Inestética é hoje a única companhia de teatro profissional do concelho. Alexandre Lyra Leite considerou que o curso de um ano que frequentou não era suficiente e que precisava de uma formação profissional. Por isso concorreu ao conservatório para fazer o curso de Cinema que, diz, veio dar-lhe mais ferramentas para a sua profissão. Desde cedo que Alexandre percebeu que o que mais gostava era de “ficar no escuro, na sombra” a dirigir os actores, trabalho que acha “fascinante”. Alexandre Lyra Leite explica que o encenador é “quem assina o projecto, quem lhe dá o estilo”. O encenador pega numa narrativa, original ou adaptada, e transpõe-a para o palco. E este é o maior desafio para Alexandre, “conseguir a partir de um texto criar com actores uma determinada realidade”.Enquanto encenador, Alexandre tem ainda a função de coordenar o trabalho de todos os criativos que integram o espectáculo: guarda-roupa, coreografia, música, luz, etc… O objectivo é alcançar um equilíbrio, “tentar que as linguagens dos vários criativos funcionem de uma forma una”. A maior parte dos textos levados ao palco pela Inestética são da autoria de Alexandre Lyra Leite. Segundo explica o encenador, um bom texto parte de uma ideia bem aplicada em termos narrativos. No processo de escrita de um texto, Alexandre diz que o importante é não desistir. “É muito fácil desistir quando se está a escrever. É um trabalho penoso, um trabalho solitário que exige uma grande entrega”.Até frequentar o curso de formação teatral que mudou a sua vida, o contacto de Alexandre Lyra Leite com o teatro resumia-se ao teatro escolar. O encenador confessa que até então via o teatro como “uma coisa aborrecida”. A culpa, diz, era dos professores “que nos levavam a ver teatro que era absolutamente bocejante e bolorento”.Ao longo destes 14 anos dedicados inteiramente ao mundo do espectáculo, a luta de Alexandre à frente da Inestética tem sido pela conquista do público. O encenador e autor refere que não é fácil ter uma companhia de teatro em Vila Franca de Xira “porque o público tem um manifesto défice de hábitos culturais”. Alexandre Lyra Leite considera que um importante papel também cabe aos agentes culturais: seduzir o público. Aos 34 anos Alexandre já encenou mais de trinta espectáculos, mas a apreensão e a ansiedade continuam a marcar cada estreia. “Fico ansioso para ver a reacção do público e nervoso porque quero que tudo corra bem, é adrenalina pura”. No entanto, o nervosismo tem vindo a diminuir ao longo dos anos. No início, Alexandre diz que “quase morria” antes da estreia, mas hoje já consegue jantar. Esta adrenalina é um dos aspectos que mais atrai Alexandre Lyra Pereira nesta profissão, assim como a sua vertente “livre e nómada”. Por isso, quando perspectiva o seu futuro, o encenador, autor e director artístico da Inestética só se imagina a trabalhar em projectos ligados ao mundo das artes.Sara Cardoso

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