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O manjar dos guardadores de gado

Festa do Torricado, em Azambuja, evoca as tradicionais receitas do campo

O torricado, o manjar dos guardadores de gado, foi o mote para uma festa dedicada à cultura gastronómica da lezíria, na Poisada do Campino, em Azambuja.

Reinaldo Ouro, 60 anos, coloca duas metades de pão caseiro sobre a brasa. Esfrega-as com alho e junta umas pedras de sal grosso e um fio de azeite. Encosta a “cosquilha” ao ouvido e ouve o azeite a estalar. “O torricado está pronto”, garante o especialista.Durante sexta, sábado e domingo as brasas não se apagaram nas traseiras da Poisada do Campino, em Azambuja. A Festa do Torricado, organizada pelo Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja para a angariação de fundos para o grupo, levou largas dezenas de visitantes a provar o tradicional manjar dos guardadores de gado.Os trabalhadores da campina dormiam nas barracas e levavam pão para toda a semana. Quando começava a ficar duro confeccionavam o torricado. “Foi na zona de Azambuja que surgiu o torricado. Embora a sua receita esteja espalhada pela zona ribatejana, os mais velhos confirmam as raízes deste manjar”, garante Miguel Ouro, director do grupo de folclore e animador da Câmara de Azambuja.Reinaldo Ouro, que aos 12 anos já trabalhava como moço do gado, lembra que este era um prato confeccionado sobretudo no Inverno. Os pauzinhos que seguravam o pão eram colocados junto ao brasido de uma fogueira até torrar. Às 10h00, hora de almoço das gentes do campo. Reinaldo Ouro aprendeu os truques da confecção com mais velhos. Tal como Anabela Espenica, 56 anos. A antiga trabalhadora do campo recorda que além do bacalhau e das sardinhas salgadas, o torricado era acompanhado com toucinho, chouriço e, às vezes, caracóis apanhados no campo.A versão moderna do Torricado também permite que seja acompanhado com febras, como confirma a ementa da festa. Além do torricado a organização quis oferecer outros pratos típicos dos camponeses, “que tal como as danças e os cantares do folclore, também constituem cultura”, salienta Miguel Ouro.Mas nem a açorda, o magusto ou as misturadas bateram a procura do torricado acompanhado com bacalhau ou febras e regado com bom vinho. Nem sequer a sopa de chícharos, confeccionada com uma espécie de grão selvagem.Quem espreitou a Festa do Torricado levou para casa as receitas tradicionais do campo que nem sempre se preparavam da mesma maneira. Como explica Miguel Ouro, dependia da “imaginação, do vagar e dos ingredientes que o povo tivesse à mão”.Ana Santiago

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