Entre a cultura rural e urbana
Pedro Mendonça é gestor do Centro Cultural Município do Cartaxo
É ao gestor do Centro Cultural Município do Cartaxo que cabe a responsabilidade de escolher espectáculos para a cidade. Pedro Mendonça oscila entre a cultura rural e urbana. Para agradar a todos os públicos.
Pedro Mendonça sobe a escadaria de xisto, a pedra negra que forra o chão do Centro Cultural Município do Cartaxo, e espreita para a cidade pelas amplas janelas do edifício.É de lá, também, que lhe vem a inspiração para a escolha dos produtos culturais que regularmente chegam à sala do Centro Cultural. O gestor, 32 anos, percorre as salas nacionais de espectáculos à procura dos melhores programas. É ele quem faz os contactos. As escolhas nem sempre são fáceis.“A ideia é que a cultura chegue a todos. O Cartaxo é uma terra que está entre o rural e o urbano. Existe uma população muito rural, existe uma população já bastante urbana e existe um meio em que se calhar nos encaixamos nós – entre o rural e o urbano – o que leva a uma especificidade de públicos muito grande. Quando programamos temos que saber para quem”, argumenta.É este o segredo da profissão, na opinião de Pedro Mendonça. Perceber que tipo de espectáculo agrada a determinado tipo de público. O objectivo é sempre despertar nos vários públicos algum sentimento. Seja com comédia ou drama. “É bom que a cultura funcione como mola impulsionadora da imaginação, do pensamento e da capacidade de sentir”.A qualidade é prioridade na política da casa. “Pode ser uma comédia desbragada, um teatro denso para chorar. O que interessa é que tenha qualidade e público”, diz.Até agora as escolhas do Centro Cultural Município do Cartaxo têm feito encher as salas regularmente. Foi o que aconteceu com os espectáculos de José Pedro Gomes e Raul Solnado, apesar de direccionados para públicos diferentes. “Com Raul Solnado fomos buscar uma população mais velha, mais rural. No José Pedro Gomes atraímos uma população mais urbana e mais jovem”.“Confissões das mulheres de 30”, com Fernanda Serrano, e “Marlene”, com Simone de Oliveira, foram opções igualmente aplaudidas pelo público do Cartaxo, apaixonado pelo teatro, garante Pedro Mendonça.No mês de Novembro a aposta do centro cultural é a dança. A decisão destina-se a cumprir o objectivo da criação de novos públicos. Flamenco, tango, ballet clássico e dança contemporânea. “O espectáculo de tango, curiosamente, está a vender muito bem, mas ainda não percebemos para que tipo de público exactamente”, analisa.Com o cinema a ideia é também oferecer um vasto leque de opções. No Centro Cultural ainda há espaço para outras artes. Como a pintura ou a fotografia. É neste mundo das artes e do espectáculo que Pedro Mendonça melhor se movimenta. Aos quatro anos já subia ao palco como figurante nas peças do grupo Marcelino Mesquita, no Cartaxo. Concluiu o curso de Relações Internacionais, mas profissionalmente acabou por entregar-se à sua segunda paixão – a cultura. Começou no Teatro da Trindade, foi assessor de imprensa do ministro da cultura José Sasportes e trabalhou no Inatel até receber, em Março deste ano, o convite para gerir o centro cultural, inaugurado três meses depois.O mais difícil é preparar o trabalho e saber ultrapassar os fracassos. “Quando isso acontece é preciso perceber o que aconteceu para evitar que se repita”.A luta contra o entretenimento televisivo também é uma batalha de Pedro Mendonça. O trabalho está cada vez mais facilitado com o nível a que chegaram os programas do pequeno ecrã.A recompensa do trabalho é ver uma sala cheia e no final assistir à troca de opiniões. “Gosto de saber porque é que gostaram ou não gostaram. Sinceramente gosto quando as pessoas não gostam. É sinal de que já têm opinião formada sobre o que querem ver. A crítica é grata nesta área”.Pedro Mendonça faz questão de ver os espectáculos, antes que cheguem ao Cartaxo. Isso permite ao gestor estar atento à reacção do público durante as horas de entretenimento e verificar se a opção foi feliz.Na semana passada, de quarta-feira a sábado, ocupou as noites a assistir a espectáculos em Lisboa. É esta a grande vantagem de residir na capital há 15 anos, apesar de ser um filho da terra. O dia do gestor começa cedo e não tem hora certa para acabar. A terça-feira é o seu “Domingo”.As viagens diárias de Lisboa para o Cartaxo são feitas de comboio. É nessa altura que tira uma hora de descanso da confusão do dia a dia e se refugia na tranquilidade da leitura do jornal. Ou de um bom romance.Ana Santiago
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