uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Controlar os comboios nos carris

Controlar os comboios nos carris

Ernesto Ramos é inspector de circulação ferroviária na estação do Entroncamento

É num ambiente calmo, onde não entra a luz natural, que Ernesto Ramos, inspector da circulação ferroviária no Entroncamento, passa o seu dia de trabalho. Os únicos sons provêm das comunicações efectuadas com as estações ferroviárias.

“Quanto menos trabalho houver aqui melhor para a empresa. É sinal que corre tudo sobre rodas, neste caso, carris”, diz meio a sério meio a brincar Ernesto Ramos, inspector de circulação da Rede Ferroviária Nacional (Refer).É num edifício próprio, junto à estação de caminhos-de-ferro do Entroncamento, que se encontra o centro operacional da circulação ferroviária da Beira Baixa e do ramal que parte do Setil para Vendas Novas.Como inspector de circulação, Ernesto Ramos tem como missão coordenar, supervisionar e fiscalizar as actividades de comando e controlo da circulação ferroviária. O objectivo final é assegurar a regularidade e segurança na linha, não descurando a qualidade do serviço prestado aos operadores ferroviários.E isso é feito de uma sala grande, sem janelas, onde toda a luz é artificial. Três enormes monitores colocados na parede defronte das secretárias mostram linhas de várias cores – branco, amarelo, vermelho.Ernesto explica que cada ecrã mostra uma linha num dado percurso. Olhando para o primeiro ecrã consegue-se perceber que naquele momento há um comboio a circular no ramal de Vendas Novas, rumo à estação do Setil.À medida que o comboio vai passando pelos diversos pontos de controlo, no terreno, a linha amarela existente no monitor passa automaticamente a vermelho, sabendo-se assim à distância de muitos quilómetros o minuto exacto a que o comboio passa em determinado itinerário.Quando este é realizado – isto é, quando o comboio já passou aquele troço da circulação, a linha volta a ficar amarela. Assim que isso acontece, os sinais colocados no terreno passam automaticamente a verde, indicando que aquele percurso já está livre para outro comboio circular sem problemas.As linhas que estão a branco “dizem” aos inspectores que, naquele preciso momento, não há qualquer composição sobre os carris naquele troço.Na estação de Canha, no ramal de Vendas Novas, há um comboio parado no sinal vermelho, à espera que a composição que vem do norte alentejano entre no desvio da estação, deixando a linha livre para então poder avançar.O posto de comando da circulação do Entroncamento é ainda responsável pela Linha do Norte, embora este controlo seja feito em termos manuais, isto é, através do contacto via telefone com as diversas estações ferroviárias. “O controlo automático da Linha do Norte só será efectivado quando terminarem as obras de modernização da linha”, refere o inspector.Ernesto Ramos diz que todos os dias há avarias de comboios e, de cada vez que isso acontece, o primeiro passo a ser dado é contactar a CP, proprietária dos comboios (a Refer tem apenas a gestão das linhas) e tentar solucionar a questão no mais breve espaço de tempo possível, de modo a que as composições não fiquem muito tempo parados, a impedir a circulação.“Nós temos a responsabilidade de desimpedir a linha, de pôr os comboios a andar novamente, mas cabe à CP arranjar uma máquina para puxar as composições”, refere o inspector, adiantando que o principal objectivo é ter a linha desobstruída. Foi só aos 25 anos é que a vida de Ernesto Ramos “entrou nos carris” e o residente no Entroncamento enveredou pelo sector ferroviário, área já tradicional na família.Antes tirou um curso de formação profissional na área da serralharia civil e, durante cinco anos, trabalhou numa empresa de ar condicionado em Santa Iria da Azoia.O facto de trabalhar longe de casa aliado a um vencimento aquém das expectativas levaram-no a alterar o rumo profissional, entrando para os quadros da CP. Começou de baixo, como aspirante a factor, depois de mais seis meses num curso profissional.Já como factor rumou à estação de Santa Apolónia, por no Entroncamento não haver vaga para o seu posto. Dois anos depois, exercendo já a função de chefe de estação, mudou novamente de local de trabalho, para o posto de comando de Lisboa.Em 1996 foi promovido a inspector de circulação e, dois anos depois, quando a gare do Oriente foi inaugurada, foi também ele inaugurar o posto de comando da estação do Oriente.Há cinco anos aconteceu finalmente o regresso a casa, que é como quem diz, à estação do Entroncamento. Trabalha por turnos, de oito horas cada, e não escapa aos fins-de-semana. “O serviço tem de ser assegurado 24 sobre 24 horas”, refere quem já se habituou a passar várias horas a olhar para monitores. E de só ver a luz natural quando sai para almoçar, beber um café ou fumar um cigarro.Margarida Cabeleira
Controlar os comboios nos carris

Mais Notícias

    A carregar...