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Magnânime Manuel Serra d’Aire

Magnânime Manuel Serra d’Aire

Levanto o copo contigo à saúde de todos os que, nestes últimos anos, têm contribuído para que não seja necessário espremermos as meninges para fazermos esta página. A eles, políticos, autarcas e outras figuras públicas das mais vastas áreas do (des)conhecimento o nosso obrigado. Continuem assim que unidos venceremos.Nessa vasta mole humana (às vezes tenho dúvidas relativamente à espécie a que alguns exemplares pertencem, dados os evidentes sinais asininos) incluo obviamente a estudantada. Estirpe à qual já pertenci e à qual não me importava de voltar a pertencer. Nem que fosse pelas noitadas de borga e pelo convívio, mais ou menos próximo, com os atributos (intelectuais, obviamente!) das estimadas colegas.Mas do que tenho mais saudades mesmo é das praxes. Esses momentos de exaltação do espírito académico, esses espaços de saudável convívio democrático entre caloiros e veteranos. Ninguém imagina o que um bocado de bosta esfregado na cabeça de um caloiro pode fazer por ele. O tipo mais ensimesmado do universo, num abrir e fechar de olhos, passa de excluído a parceiro de borga numa transmutação que pede meças à do Homem Aranha. Os alunos da Escola Superior de Gestão de Santarém, por exemplo, são uns eternos incompreendidos. Eles bem se queixam, mas ninguém os ouve. O Conselho Pedagógico quer-lhes cortar as vasas e controlar as praxes. Porquê? - pergunto eu. Que mal tem encharcar rapazes e moçoilas à mangueirada ou pô-los a rebolar pela lama, se isso lhes vai garantir a entrada no reino dos Céus, perdão, uma melhor integração no meio escolar.Praxes violentas? Deixem-se de tretas arautos da desgraça, copinhos de leite, pés de salsa! Violentas são as horas que essas almas de Deus passam agarradas aos livros na véspera dos exames e frequências. Uma tortura aliás inútil porque dias depois já ninguém se lembra de nada. Além disso, é mais nocivo um esgotamento cerebral do que um bocado de trampa esfregado na cabeça.Violento, meu caro Manel, é andar sem tusto no bolso para os copos e tabaco como um qualquer refugiado afegão. Aliás, só de pensar nesses tempos vêm-me as lágrimas aos olhos. Violenta é a incompreensão dos pais perante o insucesso escolar. Como se um tipo, num país onde nenhum prazo se cumpre, tivesse que dar o exemplo que não vem de cima e acabar um curso de cinco anos em cinco anos. Violento é ficar sem “gasosa” no carro para ir à discoteca ou para alinhar em mais uma jantarada de integração académica. Situações dessas podem causar traumas mais profundos ao ego de um estudante do que os possíveis arranhões por andar a rebolar na lama. Violento é levar uma “tampa” da miúda mais gira da turma. Isso sim, é violento! O resto é coisa de defensores de direitos humanos e democratas quejandos. Gente bem instalada que não conhece os sacrifícios da vida e que não sabe ou já não se recorda de como é difícil ser estudante e viver com meia dúzia de euros no bolso. Num país onde a apagada e vil tristeza relatada por Camões se mantém, todas as actividades de diversão fácil e barata destinadas a entreter a tesa rapaziada são bem vindas. Tragam os caloiros e apliquem-lhes as praxes, pois então…Um eférreá do Serafim das Neves
Magnânime Manuel Serra d’Aire

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