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Um fadista com múltiplos talentos

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Vasco Rafael venceu a Grande Noite do Fado no Teatro São Luiz

Vasco Rafael, 10 anos, venceu a Grande Noite do Fado no Teatro São Luíz. A representação de Alverca brilhou numa noite em que Pedro Marreiros, 15 anos, ganhou o troféu para melhor viola.

Tem nome de fadista e um talento que promete um futuro risonho. Aos 10 anos, Vasco Rafael escreveu o seu nome na história da canção nacional. O jovem do Porto Alto, Samora Correia, venceu a Grande Noite do Fado no sábado à noite no Teatro São Luíz, em Lisboa.O fadista de palmo e meio representou a Escola de Fado do Bairro da Chasa de Alverca que colocou quatro fadistas e dois instrumentistas na final. O jovem Pedro Marreiros, 15 anos, conquistou o prémio de melhor instrumentista na viola.Alverca esteve em grande numa noite em que o fado foi Rei com o São Luíz cheio a render-se aos encantos de novas e velhas vozes. O director da escola da Chasa, Antero Botelho levou uma bandeira gigante da cidade de Alverca que exibiu dezenas de vezes ao ritmo dos aplausos de um numeroso grupo de apoiantes dos fadistas de Alverca.A vitória de Vasco Rafael foi uma surpresa. O rapaz, que deu voz ao “Menino da Rua”, estava muito nervoso e teve algumas hesitações. Num estilo diferente, Vasco foi um homem pequeno. Vestiu um fato clássico cinzento com colete e tudo, colocou uma gravata cor de vinho tinto e não tirou a mão esquerda do bolso enquanto olhava a plateia com um olhar trocista. A sua alma fadista convenceu o júri a perdoar-lhe os pequenos lapsos.“Fiquei muito feliz. Não estava nada à espera. Não me correu muito bem porque estava muito nervoso”, disse a O MIRANTE após ter recebido o Troféu da Casa da Imprensa, que há 54 anos organiza esta gala do fado, e dois beijinhos da apresentadora Isabel Angelino.Um talento multifacetado Vasco gosta de cantar o fado, mas é um rapaz dividido por múltiplas solicitações. Dança folclore e danças de salão e é guarda-redes da equipa de escolas da Associação Recreativa do Porto Alto.“Eu quero continuar a cantar o fado, mas não sei se vou ser fadista profissional. O fado não dá para viver, vou ter de trabalhar”, disse, revelando uma maturidade acima da idade.No final da entrevista, Vasco abraçou o amigo Fábio Teixeira, um fadista de 12 anos que mostrou que é candidato a ganhar uma das próximas edições. “Não ganhei, mas ganhou o meu amigo Vasco”, referiu, aceitando a decisão do júri.Curiosamente, foi a mãe de Fábio, a fadista Paula Teixeira que descobriu o talento de Vasco para o fado. “Eu não me esqueço do que tem feito por mim”, disse Vasco em tom de agradecimento à “madrinha”Alverca esteve ainda representada pelos instrumentistas Pedro Marreiros, que para além de tocar também cantou, Ricardo Chitas (natural da Barrosa) e Leila Nunes (Escola de Fado Amador e Criativo de Alverca).Catarina Invêncio, 13 anos, foi a vencedora das raparigas. A jovem da Mouraria encantou o São Luíz com o “Fado da Maldição” de Amália Rodrigues e alcançou a vitória que perseguia desde os sete anos. Nos fadistas seniores, destaque para a participação de Carla dos Santos (Alverca) e Pedro Silva (Centro Cultural Azambujense). Aqui, a vitória sorriu para Raquel Peters (Clube Lisboa Amigos do Fado) e Luís de Matos (Mouraria). Nos instrumentistas, Pedro Marreiros (Alverca) foi o melhor viola e José Cardoso da Silva (individual) venceu como intérprete da guitarra portuguesa.A participação de dezenas de jovens no palco e na plateia e o entusiasmo com que vivem o fado mostram que a canção nacional está viva e recomenda-se.A alverquense Marta Rosa, 14 anos, vencedora da Grande Noite em 2004, foi uma das primeiras intérpretes convidadas da noite e viu o público premiá-la com fortes ovações. O jornalista José Manuel Osório recebeu o troféu Neves de Sousa como reconhecimento pelo seu trabalho de pesquisa e divulgação da história do fado. O investigador da canção nacional lamentou que o fado não tenha registado a maioria das suas memórias. A entrega do troféu foi um dos momentos de maior emoção com o São Luíz de pé a render homenagem a um homem marcado pela doença que o persegue há mais de duas décadas. O fado vive de emoções fortes e a vida é uma fado, nem sempre com um final feliz.Nelson Silva Lopes
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