O Comboio dos Tolos
Enfim! Nunca a expressão “ver passar os comboios” teve no Ribatejo (e não só), melhor aplicação!
A notícia de que os Comboios Alfa podem deixar de parar em Santarém e no Entroncamento, surge-nos numa altura em que a fauna política nacional se degladia, no pró e contra, do Projecto do Comboio de Alta Velocidade: vulgo TGV.E nem o facto desse confronto traduzir, essencialmente, a lógica de poder (variando, naturalmente, conforme as forças políticas vão alternando no governo), nos deve fazer esquecer algo bem mais importante: o facto dos nossos transportes ferroviários (entre outros) constituírem, cada vez mais, simples formas operativas de ligar entre si o litoral desenvolvido e, este, estritamente à Europa.Não devemos igualmente esquecer, que são as consequências nefastas das divisionistas e oportunistas políticas regionais de “quintinhas” das últimas décadas, inspiradas por políticos como Jorge Lacão ou Miguel Relvas, especialmente este, e provocando o inevitável enfraquecimento de um espaço regional necessitado de se afirmar no todo nacional que, inexoravelmente, têm arrastado o Ribatejo para o limbo indiferenciado de um interior ignoto, atrasado, abandonado, despovoado e, agora, infelizmente, até queimado! Interior esse que, de certa forma, se não existisse fazia até muito jeito à nossa classe política: pelo menos tornaria mais rápidos os percursos de deputados e membros do governo nas suas “laboriosas” e, frequentes, “viagens de trabalho”.Temos, assim, todo um interior, correspondente a mais de 80% do país, em crescente desertificação! Retalhado por vias de comunicação que aí não chegam, daí não partem! Apenas... passam!E a cereja no bolo irá ser, naturalmente, o TGV!Cereja essa, cujo preço atinge qualquer coisa como 370 vezes os 40 milhões que o Estado gastou com os Estádios do Euro, hoje, muitos deles, desertos! È só fazer contas!Ora, vivemos uma situação económica e social difícil! Produzimos pouco e gastamos demasiado! Temos uma máquina administrativa pesada e deficitária. Um balança comercial desequilibrada! Dependemos excessivamente dos, cada vez mais caros, combustíveis fósseis! Mas,... vamos ter o TGV!Temos mais de um milhão de pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza! Centenas de milhares sobrevivendo apenas com pouco mais de cinco Euros por dia! Quinhentos mil desempregados e um número igualmente elevado, de trabalhadores precários. Faltam hospitais, escolas, tribunais! Mas, ... vamos ter o TGV!Os nossos clubes de futebol estão falidos! As nossas indústrias tradicionais encerram todos os dias! Não temos minas! Quase não temos pescas, nem marinha mercante! Pouco melhor, está a agricultura! Temos uma justiça tão eficaz que encontra nas prescrições legais a solução maior para reduzir tempos de espera e custos processuais! Um país em que, na prática, a corrupção não é crime, mas uma filosofia de vida!Mas, .... vamos ter o TGV!Enfim! Nunca a expressão “ver passar os comboios” teve no Ribatejo (e não só), melhor aplicação!Confesso que me tenho esforçado por tentar perceber por que diabo o país precisa assim tanto (aqui e agora) de um Comboio de Alta Velocidade! Vejo o Primeiro Ministro afirmar compenetradamente (e sem se rir, assinale-se) ser esta uma “necessidade” sem a qual o progresso do país não pode passar. E não é que continuo sem perceber porquê?!Mesmo a badalada questão do hipotético “estímulo à economia”, parece não recolher apoios substanciais, a não ser, é claro, entre os “commentators boys” de serviço!Aliás, se não soubesse que o nosso “Primeiro” é uma pessoa de capacidades ímpares, poderia pensar que se tratava de uma mera tolice: algo como um patético “síndroma de novo rico”; quando se não é novo e, muito menos, rico!Se não soubesse ser, o dito, alguém honesto e impoluto, pensaria até que se tratava de satisfazer quaisquer ignotos e suspeitos “favores”!Se a sua conhecida imagem de atleta o não apresentasse como exemplo de vida saudável, poderia pensar, sei lá, que tinha apanhado a “gripe das aves!”Mas.... não!! Deve ser, mesmo, deficiência minha! Afinal, nem todos nascemos para atingir o sublime nível de clarividência do “homo politicus”! Ou, como se costuma dizer: quem nasceu para viralata, nunca chega a pit bull!
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