Chegou o carteiro
Há 12 anos Fábio Azevedo abraçou a profissão e hoje não a trocaria por nenhuma outra
Leva as boas e as más notícias aos habitantes de Vila Franca de Xira, Castanheira e Alhandra. Fábio Azevedo destaca a alta responsabilidade inerente à profissão que exerce e lamenta que as pessoas não dêem o devido valor ao carteiro.
Hoje, o desespero já não toma conta de Fábio Azevedo quando o despertador toca às 5 horas da manhã. Passados 12 anos, acordar bem cedo já faz parte da sua rotina e o carteiro não se importa, é a sua profissão. Mesmo que isso implique ter que deitar, também, bem cedo: entre as 21h00 e as 22h00. Quando aos 18 anos Fábio Azevedo decidiu entrar no mundo do trabalho, a actividade de carteiro surgiu por acaso e porque “não havia outra coisa”. “Depois comecei a gostar e agora não me via a fazer outra coisa”, confessa. Iniciou-se a preencher vagas em tempo de férias e acabou por ficar.A rotina diária de Fábio começa às seis da manhã no Centro de Distribuição Postal de Vila Franca de Xira. Separar o correio a distribuir nesses dia por ruas e números é uma tarefa morosa e que exige grande concentração a Fábio Azevedo. Três horas depois, já com as cartas devidamente separadas e dispostas por molhos, o carteiro está pronto para ir fazer o seu “giro”. Com mais de 1500 cartas para distribuir por dia, são vários os obstáculos que se apresentam a Fábio Azevedo. Desde logo, a chamada “distribuição apeada”, em que o carteiro percorre as ruas sempre a pé, sujeita-o às condições atmosféricas mais variadas. O calor intenso no Verão e a chuva e o frio no Inverno constituem para Fábio uma das grandes dificuldades da sua profissão. Caligrafia indecifrável e as zonas rurais, sem números nas portas e caixas de correio mal identificadas, são outros dos desafios que se colocam ao carteiro. Por isso, Fábio Azevedo afirma que “é preciso gostar mesmo desta profissão”, até porque, diz, “muitas vezes as pessoas não sabem dar valor ao nosso trabalho”. As quartas e quintas-feiras representam “os dias mais pesados”, isto porque são os dias de entrega dos jornais regionais. Para além de tornarem a mala mais pesada, complicam a vida do carteiro por serem difíceis de colocar nas caixas de correio pelo seu volume. Não obstante estas dificuldades, Fábio procura diariamente entregar todas as cartas que lhe chegam às mãos, porque considera a função que desempenha por demais importante. Para que um carteiro seja considerado “um bom carteiro”, tem, segundo Fábio, que conhecer bem todas as ruas da área em que trabalha, bem como as pessoas, sobretudo na parte rural. Nestas zonas se, por um lado, a tarefa de entregar a correspondência é mais complicada, pelas razões já referidas, por outro, o relacionamento com as pessoas é muito mais rico. “Na cidade, a maioria das vezes, nunca vemos as pessoas, na parte rural já as conhecemos e existe uma relação”, diz o carteiro. Por isso, já se tornou uma tradição algumas dessas pessoas oferecerem “um mimo”, como garrafas de vinho, ou até mesmo frangos, na época de Natal. Um dos aspectos mais gratificantes desta actividade é, para Fábio Azevedo, a expressão de alegria no rosto das pessoas quando lhes leva o que elas aguardavam. “Sobretudo os mais velhos que ficam contentes e ansiosos quando vêm o carteiro chegar por causa das reformas”. Claro que também há aquelas que esperam pelo carteiro para reclamar de um qualquer engano. Segundo Fábio, nestas alturas as pessoas “explodem” e a ele só lhe cabe manter a calma e solucionar a questão. “Muita gente pensa que isto é fácil, mas as cartas dão muitas voltas até chegarem às mãos dos destinatários”, desabafa. Questionado sobre se a correspondência que lhe passa pelas mãos não lhe desperta curiosidade, Fábio Azevedo responde que “o que lá vem dentro só ao destinatário interessa”. Sara Cardoso
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