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Bailar até gastar a sola

Bailar até gastar a sola

Manuel João Simões diz que é difícil encontrar festas tão ímpares como as de Amiais de Baixo

Há 40 anos não havia sola nem tacão que resistissem a tanto bailar durante as festas de Amiais. Mesmo assim, mantém-se o encanto das bandas, procissões, fogo de artifício e portas abertas a todos.

Manuel João Simões levanta bem alto o martelo e malha forte no ferro bifurcado incadescente que, depois de soldado a outra peça do mesmo material, há-de encaixar no cabo de oliveira.Assim fica feita a enxada por um dos ferreiros que ainda subsiste em Amiais de Baixo, numa tradição herdada de família. Ferreiros e serradores de madeira são as duas artes que mais contribuíram para o desenvolvimento da terra. Talvez por isso, as festas da terra sejam celebradas de forma tão intensa pelo convívio em família e com amigos após longas jornadas de trabalho.Com 79 anos, Manuel João Simões já foi presidente da Junta de Amiais durante três anos, após o 25 de Abril. Foi também juiz da comissão de festas em 1965 e sente as mudanças que se foram notando. “Os mais novos hoje não gostam de aparecer. Só se vêem em determinadas alturas. Nos anos 60 começava-se com a alvorada e logo a bailar. Os peditórios eram a seguir e íamos sempre a bailar atrás da banda. No fim da festa não havia solas nos sapatos nem tacões”, recorda com saudade. Para Manuel Simões as entradas e despedidas das festas de Amiais de Baixo não se encontram facilmente pelo país. Quando o povo se faz multidão às 15 horas de sábado para acarinhar a entrada das bandas com aplausos e com salvas de foguetes. “No último dia, à saída delas, pula-se e canta-se na rua”, realça.Uma época em que se chegava a reunir cerca de cinco mil euros em ofertas e promessa para os andores. Um para a junta, outro para a comissão de festas e os cinco restantes para a igreja.Outra tradição única é a de os habitantes de Amiais deixarem as portas de suas casas abertas a amigos, convidados e forasteiros. “Onde se encontra sempre chanfana, carne com fartura e bom tinto”, assegura Manuel Simões.Hoje, diz, a festa é melhor porque também se gasta mais dinheiro e está mais embelezada. “Os forasteiros vêm de 70 e 80 quilómetros em redor para verem a procissão da noite de sábado e trazem os filhos para seguirem nela. Até uma família dos Estados Unidos costuma trazer a pequena de três anos para a festa”, revela.Actualmente, Manuel Simões já não frequenta a festa por ter a esposa acamada. Mas sempre gosta de espreitar a passagem da procissão e ver o fogo de artifício. O martelo, a tenaz e a bigorna sempre foram os aliados de Manuel João Simões na arte de malhar no ferro. Numa pequena divisão da sua casa tem expostas dezenas de peças de artesanato referentes a instrumentos do campo, de pesca, carroças tradicionais de transporte de pessoas, animais e víveres. Para fazer prolongar a sua arte, típica de Amiais.Ricardo Carreira
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