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O aristocrata rebelde

Pedro Canavarro, homem de cultura, realizador de sonhos, agitador de mentalidades

Pedro Canavarro é um aristocrata que gosta de desafios e aventuras. Nasceu em berço de ouro mas define-se como um rebelde que nunca escolheu o caminho mais fácil. Mesmo que tivesse de ir contra a vontade dos pais. Reconhecido homem de cultura, teve responsabilidades políticas a nível local, nacional e europeu. Ter nascido em Santarém é o aspecto que destaca no seu currículo.

A sua actividade política em Santarém e no país nos últimos anos tem-se limitado a participações quase honoríficas. Como a de ser mandatário de Cavaco Silva e integrar como suplente a lista de Moita Flores à câmara. Teme comprometer-se mais?Não é por uma questão de temer em me comprometer mais que participei numa lista à Câmara Municipal de Santarém em lugar não elegível. É porque acho que a minha vida e o meu envolvimento a nível associativo e da própria Fundação Passos Canavarro não me deixam muita margem para me envolver.Não se arrependeu até hoje de ter apoiado Moita Flores?Não. Acho que Santarém precisa de uma reforma. Tem grandes potencialidades não só pela sua localização geográfica e pelos acessos. É uma zona rica do país, com carga histórica importante, que está próxima da capital. E é uma cidade que merece ser vista de uma forma qualificada.Acha que é mais fácil uma pessoa de fora, com outro distanciamento, executar essas reformas?Acho que, entre aspas, infelizmente assim é. A política só feita com pessoas de Santarém, como se demonstrou durante os últimos anos, foi cada vez afunilando mais a cidade para o seu próprio umbigo sem ser capaz de a colocar no mapa que Santarém merece. Qual é a sua relação com o PSD?Nunca me filiei…Desistiu de militâncias partidárias?Sim. Tive uma única militância partidária que foi no Partido Renovador Democrático (PRD).Houve algum desencanto com a política após a experiência fracassada do extinto PRD?Não. Como se dá a entrada no PRD?A entrada no PRD vem já muito tempo após o 25 de Abril. São praticamente dez anos, nos quais tive duas acções para mim muito importantes. Uma foi a criação de todo um movimento de defesa do património que tinha iniciado um mês antes do 25 de Abril. A outra ter sido comissário geral para organizar a exposição do Conselho da Europa sobre os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento. Isto tudo entre 1980 e 1984.Nunca lhe faltaram causas…Falo nisto só para dizer que durante esses seis ou sete anos tive conhecimento muito profundo da realidade do país. Essa acção permitiu-me, com o poder que tinha para levar a cabo esses projectos, perceber que um posicionamento político tornava-se importante para continuar a poder sonhar, mas com pragmatismo.Talvez fosse mais fácil ter aceite nessa altura o convite que o PSD lhe lançara dez anos antes…Sim, mas eu naquela altura já conhecia esses partidos…Preferiu a aventura do PRD…Sim, que representava também o romper com um certo sistema de bloco central e de estratificação de ideologias partidárias. Um partido novo é uma nova aventura e, sobretudo na altura, tinha até ideias e princípios que eram demasiado novos para os tempos que se viviam.À distância de 20 anos considera que foi mesmo uma aventura?Foi uma aventura com “A” grande, no sentido em que valeu muito a pena. A história do PRD é uma história que deve ser feita. É o primeiro partido que nasce da democracia. É um desejo de purificação da democracia e de retomar determinados valores que estavam de certa maneira a esgotar-se com o bloco central.“GOSTO QUE AS PESSOAS VIVAM AS MINHAS IDEIAS”Nunca foi convidado para integrar um governo?Não. A política exige das pessoas por vezes grandes compromissos de partidarismo e sempre muita dependência de estruturas e formas de estar. E penso que as pessoas notam em mim uma forte independência que não lhes dá talvez tanta segurança quanto aquela que desejam. Não é um yes man?Não sou um yes man e por vezes acabo por ter um protagonismo que não é conveniente.É uma pessoa que gosta de protagonismo?Gosto tanto quanto sou eu, tanto quanto existo.Considera-se uma pessoa vaidosa?O que é ser vaidoso? Ser vaidoso dentro do negativo acho que não. Se as pessoas consideram importante aquilo que faço, e só o faço porque é coerente comigo, bom, então acho que estou dentro de uma lógica de coerência. Faço porque gosto e acho que faz sentido.E gosta de mostrar aquilo que faz porque gosta.Gosto porque isso é normalmente de utilidade pública. É uma mais valia para o colectivo. De resto, o meu currículo é todo feito em função do colectivo. Gosto que as pessoas estejam a viver ideias minhas. A coisa que me dá mais prazer é ter sido fundador ou presidente de uma série de associações e hoje, que já não pertenço a nenhuma direcção, ver que estão todas a funcionar com dinamismo. Se é vaidade fazer isso, então sou vaidoso.

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