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Sapiente Serafim das Neves

Um hotel em Espanha foi completamente destruído por estudantes portugueses. A notícia não deu mais que dois parágrafos nos jornais nacionais e nem sequer passou nos telejornais. Compreende-se. Notícia é algo anormal. A destruição de hotéis espanhóis por jovens portugueses é tão habitual que já deixou de ser notícia há muito tempo. Eu saúdo com entusiasmo e alguma nostalgia estas incursões em território espanhol. Primeiro porque elas configuram de certa maneira uma justa retaliação. Os Espanhóis vêm cá saquear as nossas empresas e nós respondemos atingindo-os no seu próprio território. É uma guerra de guerrilha que dura há séculos. E também as saúdo pelo que representam em termos de entrada dos jovens na vida adulta. A vandalização de um hotel castelhano é um ritual iniciático. As raparigas, privadas dos antigos bailes de debutantes, vêm ali a sua grande oportunidade de dar alguma animação às suas tristes vidas. Os rapazes, privados do serviço militar obrigatório, impedidos de derreter energias a rastejar na lama, a encher na parada ou a fazer pistas de obstáculos non-stop, aliviam-se escavacando mobílias de quarto. E no final fica toda a gente a ganhar. Os jovens regressam aliviados; os espanhóis renovam os seus hotéis à custa do dinheiro que os papás dos meninos têm que desembolsar; os professores têm umas aulas descansadas no regresso das férias da Páscoa porque mais de metade das turmas passa o tempo a dormir para recuperar do desgaste das viagens de finalistas e os papás sentem que os filhotes estão aptos a enfrentar a dureza da vida quotidiana com espírito vencedor. E quem é que, nos tempos conturbados de hoje, não gosta de saber que tem lá por casa um Átila em potência ou uma Laura Croft pronta a explodir?Mudando de assunto. Tens toda a razão quando falas nos desperdiçados talentos do senhor Presidente da Câmara de Torres Novas. Infelizmente este país é assim e não muda. Quantos portugueses não passaram já ao lado de grandes carreiras só porque nunca saíram aqui da santa terrinha. O Figo alguma vez seria considerado o melhor jogador de futebol do Mundo se tivesse continuado no Sporting? O Saramago alguma vez seria Nobel da literatura se não tivesse casado com uma Espanhola e comprado casa no país vizinho?Com o camarada António Rodrigues passa-se o mesmo. O que ele não poderia ser se tivesse emigrado para o Irão, por exemplo. Ou para qualquer outro país verdadeiramente democrático onde os jornalistas sabem respeitar e venerar a soberania que emana de um escolhido por Deus. Enfim…só nos resta lamentar a sorte do excelso autarca. Uma mente tão brilhante agrilhoada na pequena e rasteira política nacional. Obrigada a lutar com unhas e dentes por cargos de menor importância como o de Presidente da Federação Distrital de Santarém do PS. Lamentável, meu caro. Lamentável! Um verdadeiro desperdício. Um dia destes estive em Santarém e passei pelo Centro Comercial. Havia uma prova de vinhos logo à entrada mas as pessoas passavam pela mesa com copos e garrafas como cães por vinha vindimada. A menina loira também tinha um ar meio arrepiado o que se compreende. Para quem bebe coca-cola light aquele cheirinho a vinho devia ser mesmo uma tortura.Mas eis senão quando chega uma excursão de clientes de uma tasca qualquer da cidade. Um deles contou-me que não era a primeira vez que apareciam para animar os fins de tarde. E nem sequer tinham sido contratados pela administração. Vinham por amor à arte. No instante seguinte estavam todos de copo na mão. Qual prova, qual carapuça, “encha menina, encha até cima” diziam de dois em dois minutos. “Encha que para provar temos que beber”. Duas horas depois, quando saí do cinema ainda lá estavam. Olhinhos piscos e brilhantes. Alguns já esparramados nos sofás do café mais próximo. Um que se assemelhava bastante a uma pipa com pernas sorriu-me cúmplice, ergueu bem alto o copo, entornando uma parte do conteúdo para cima da camisa aos quadrados, e declarou com solenidade: “Isto sim é uma pomada”. Só foi pena ele já não se lembrar de que garrafa é que a mesma tinha saído.Saudações Pascais do Manuel Serra d’Aire

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