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O vereador cavaleiro

António José Matos foi o primeiro amador a participar nas entradas de toiros

Todos os anos, durante a Feira de Maio, o vereador do PSD de Azambuja e instrutor de condução estaciona o carro e monta a cavalo. Ao lado dos campinos, António José Matos conduz a entrada de toiros.

O carro da escola de condução parou à beira da Estrada Nacional 3, em Azambuja. O instrutor António José Matos galgou a cerca e dirigiu-se ao campino que conduzia os animais da herdade ali em frente.Aconteceu há seis anos. Foi o primeiro dia do resto da vida do empresário, que é também vereador do PSD da Câmara Municipal de Azambuja. A paixão entranhou-se e hoje é um dos cavaleiros amadores que acompanha as entradas de toiros da feira de Maio de Azambuja – um dos momentos mais aguardados da festa. Ao lado dos campinos trajados das casas agrícolas da vila.Esses dias de festa são aguardados com emoção pelo autarca e empresário. O carro da escola de condução fica estacionado à porta de casa. António José Matos põe a sela no cavalo, veste o traje curto com chapéu e prepara-se para seis dias de aventura. Entre as ruas da vila que por esta altura se transformam em arenas.Os toiros saem do Pátio do Barros. Enrolam-se nos cabrestos. Solta-se o foguete, sinal que os toiros estão quase a sair para as ruas. Passam campinos para a dianteira. Os cavaleiros que vêm atrás têm que empurrar os toiros. É o caso de António José Matos.O segredo é manter uma determinada distância de segurança. Como quem conduz um automóvel. “Quem vai à frente dos toiros com muita pata tem que ir com muita velocidade para entrar lá em baixo nos curros. São zonas mais estreitas. É preciso encolher os joelhos e apontar bem”.Do pátio seguem até às torres. É de lá que são depois distribuídos pela vila. Os homens da campinagem movem-se com destreza por entre as tranqueiras. Rapidez e olho vivo sobre quatro patas. O cavalo é o melhor amigo do campino. Levanta-se pó na rua. O animal segue a rota sem hesitar enquanto o cavaleiro de vara na mão atenta no rumo do touro.“Os cavalos são importantes. Se lhes dá para parar levam com os toiros em cima. Se lhes dá para abalar connosco também é uma chatice. Mais do que morfologicamente perfeitos têm que deixar-se conduzir”. O perigo está sempre à espreita. “No ano passado um toiro bateu com a cabeça numa tranqueira, voltou para trás e ainda furou o cavalo de um campino. Se não fosse o sangue frio do rapaz que estava numa porta o toiro agarrava mesmo o cavalo”, ilustra. António José Matos aprendeu com dois homens que quase já nasceram campinos. António Carniça, pai, mestre na arte de movimentar os toiros . E Pedro Carniça, filho. De vez em quando o vereador vai para o campo. Serve-lhe de escape e exercício para a Feira de Maio. “Quando estou com eles parece que é tudo telecomandado. É uma sabedoria que não tem nada escrito. É uma ciência fabulosa porque quase sempre bate certo”.António José Matos sempre se imaginou a andar a cavalo entre toiros e cabrestos. Foi nesse ambiente que nasceu. Há 41 anos. Mas a vida frenética como empresário de uma das pastelarias mais movimentadas da vila roubava-lhe tempo para se dedicar ao mundo da festa. Só aos 35 anos se libertou do negócio, abriu uma escola de condução e ficou com disponibilidade para a aficion. Só os quatro filhos estão acima da paixão que é terapia para quem enfrenta as lides autárquicas e os problemas empresariais no dia a dia.“Há quem tome xanax. Eu gosto de andar a cavalo”, diz o vereador que todos os anos, por alturas de Maio, despe a pele de autarca e empresário para envergar o traje curto. Ana Santiago

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