A fé no Senhor da Boa Morte
Centenas de pessoas participam na romaria em Vila Franca
É a fé que move centenas de fiéis que todos os anos regressam ao monte do Senhor da Boa Morte em Povos, Vila Franca de Xira para pagar promessas.
Na quinta-feira da Espiga, 25 de Maio, todos os caminhos da fé foram dar a Povos, Vila Franca de Xira. Cerca de um milhar de pessoas acompanharam a romaria ao Senhor da Boa Morte para pagar promessas ou para pedir graças.Já passa das 10h30 da manhã quando a procissão sai da antiga escola onde vai nascer a Igreja da Nossa Senhora da Assunção de Povos e o calor já se faz sentir. Lurdes Farinha é uma das romeiras, entre as mais de mil presentes, que não dispensa o chapéu de palha, um aliado para atenuar o calor intenso ao longo da subida até ao santuário no alto do monte.Foi com a avó, ainda bebé, que Lurdes Farinha participou pela primeira vez na romaria do Senhor da Boa Morte. Hoje, aos 61 anos, não se recorda de um único ano em que não tenha ido à festa. Acompanhada pelo marido, Carlos Rodrigues, cumpre a tradição movida pela fé. Na mão leva o ramo da espiga composto por um ramo de oliveira, papoilas, malmequeres amarelos e uma espiga de trigo, que representam, respectivamente, o azeite, o sangue de Cristo, a luz e o pão. Depois de benzido pelo padre, Lurdes Farinha vai colocar o ramo na dispensa, “para que não falte pão em casa durante o ano”. Romeiros das mais diferentes idades acompanham a imagem de Jesus Cristo morto, uns para cumprir promessas, outros para pedir alguma graça. É o caso de Lurdes Mendes, de 47 anos, que vem “pedir ao Senhor da Boa Morte que os meus netos voltem”. Separada dos netos há vários meses, as saudades que sente levaram-na a pedir a intervenção divina para “aliviar a dor que tenho no peito”. Lurdes Mendes acompanha a procissão com quatro velas acesas, duas por cada neto. A chama das velas continua acesa mesmo durante a missa já no cimo do monte, mas da parte de fora. O santuário do Senhor da Boa Morte foi pequeno demais para todos os que quiseram juntar-se às celebrações. No entanto, embora cá fora, o coração de Lurdes Mendes está no interior do templo.Entre os que vão pagar promessas ao Senhor da Boa Morte está a família Fernandes. Há mais de 50 anos que ano após ano esta família cumpre a promessa e a tradição de participar na romaria. Maria do Céu Padinhas, a mais velha da família presente, explica que tudo começou quando o seu irmão foi acometido por uma doença misteriosa aos cinco anos.“Os médicos diziam que não havia remédio e a minha mãe desesperada prometeu ao Senhor da Boa Morte que vinha à romaria todos os anos, e o meu irmão pôs-se bom”, recorda. Hoje, com 59 anos, António Fernandes continua ligado ao Senhor da Boa Morte. Há cerca de meio ano pediu “com muita fé” ajuda para curar uma dor no joelho que o atormentava há mais de 11 meses. E a dor passou. A participação da família Fernandes na romaria não se resume à procissão. A festa prolonga-se durante toda a tarde com o piquenique que chega a juntar mais de 40 membros da família. Alguns chegam às 6 horas da manhã ao alto do monte para guardar as mesas para o dia mais especial do ano para a família Fernandes. Romeiros desiludidosA edição deste ano da romaria ao Senhor da Boa Morte foi alvo de críticas por parte de alguns participantes. A supressão das actuações dos ranchos e do tradicional baile estão no centro das críticas. Piedade Caetano é de Povos e diz-se desiludida com a diminuição da festa. “Esta era a nossa festa, era a nossa tradição. Tenho medo que queiram acabar com tudo”, refere preocupada. Também António Pascácio receia que “estejam com ideias de acabar com as festas”.José Rangel, da comissão organizadora da romaria, descansa os receios populares. Segundo explica, todos os anos a realização do baile no meio da povoação “é muito complicada por causa do trânsito e do barulho, há sempre reclamações” e por isso optaram por interromper este ano. No entanto, garante que para a próxima edição as festas vão voltar, desta vez junto à nova Igreja da Nossa Senhora da Assunção de Povos, que espera já estar concluída. Apesar das vozes críticas, José Rangel considera que a festa correu dentro das expectativas da organização. Segundo refere, cerca de 10 mil pessoas passaram pelo santuário no alto do monte durante os dois dias de festa. Sara Cardoso
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