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Os aprendizes do “fingir”

Os aprendizes do “fingir”

Jovens das escolas de Vila Franca de Xira ao lado de actores profissionais

Vinte e seis jovens de escolas do concelho de Vila Franca de Xira participaram numa ópera popular ao lado de actores profissionais.

O rapaz do lenço preto rompe o palco a dançar por entre as croias. As meninas de vestes interiores rendadas, em tons de vermelho e rosa, festejam a despedida de solteiro de D. Pedro. É uma versão livre da história do amor impossível entre Pedro e Inês. Com direito a uma bruxa virtual, um romeiro narrador e arranjos de percussão à mistura. Estamos a meio do espectáculo de ópera popular “Auto da Fonte dos Amores”. Pais e amigos dos 26 alunos das escolas do concelho de Vila Franca de Xira compareceram em peso no Ateneu Artístico Vilafranquense, nas noites de 2 e 3 de Junho, para ver os “Aprendizes do Fingir” ao lado de actores profissionais de carne e osso.João Duarte é aluno do sétimo ano da Escola Básica 1,2,3 do Bom Sucesso, em Alverca. Tem apenas 12 anos, mas já sabe o que quer para o futuro. Se não conseguir ganhar a vida como artista das artes de palco quer ser cozinheiro. Lá em casa os quatro elementos da família já estão habituados a degustar aos petiscos do pequeno chefe. A lasanha italiana é a sua especialidade. Mas enquanto não chega o dia de assentar arraiais da cozinha, com tachos e panelas à volta, João Duarte, quer cumprir o seu pequeno grande sonho. “Senhor D. Pedro tendes alma de farrista/ Futuro nosso rei e fazeis furor na pista”, diz o folião da ópera popular. Os aprendizes do lado acompanham-no nas cantigas que dão vida ao espectáculo da companhia viseense “De Mente”.Joana Baptista, 13 anos, aluna do 8º ano na EB 2/3 de Vialonga, também já se deixou contagiar pelos ambientes dos bastidores. Quer seguir a carreira artística. O contacto com as luzes, com a música, a entoação sentida dos actores profissionais, decidiram-na a querer desejar o palco. Já não é a primeira vez que a jovem entra em cena. Tal como a maioria dos alunos que participam na peça, seleccionados a partir dos núcleos de teatro das várias escolas. Se não for possível o jornalismo estará à sua espera. O mesmo já não diz Paulo Ferreira. O aluno de 13 anos, da Escola EB 2/3 Aristides de Sousa Mendes, na Póvoa de Santa Iria, está decidido a lutar pelo sonho. É por isso que há quatro anos integra o núcleo de teatro. Hoje veste a pele de um dos foliões, amigos de D. Pedro. Tal como António Ramos, 15 anos, aluno do 9º ano da Escola EB 2/3 Soeiro Pereira Gomes, em Alhandra. O papel secundário ganha uma nova dimensão quando se contacta com profissionais da área. “Acham que o espectáculo de ontem foi bom? Eu acho que podem fazer muito melhor”, vai espicaçando o produtor e encenador, Carlos Clara Gomes, minutos antes da entrada em palco. As três amigas de Alverca mal podem esperar por fazer ondular em palco as roupas interiores coloridas para encarnar a pele de senhoras da noite. Num minuto são rameiras. Na noite que antecede o casamento de Pedro e Constança. Logo a seguir encarnam o povo que ora está contra a obra de D. Afonso IV, ora a favor. “É um tanto ou quanto paradoxal”, diz Sofia, 14 anos, aluna do 9º ano da Escola Pedro Jacques de Magalhães, em Alverca, analisando a sua própria personagem.O aquecimento termina. Calam-se as movimentações de bastidores. O público entra na sala para o segundo espectáculo da companhia itinerante na cidade, contratada pela Câmara de Vila Franca de Xira. O elenco local excedeu as expectativas, garante o encenador. A experiência marcou indelevelmente os protagonistas, aprendizes das artes de palco. Agora já nada será como antes.Ana Santiago
Os aprendizes do “fingir”

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