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O Engenheiro agrónomo que não simpatiza com “nabos”

Está a viver há oito anos em Rio Maior. O campo abriu-lhe outros caminhos criativos?Nasci no campo, no Alentejo, estudei Agricultura, estou habitua-do a ir para o campo e ter outros horizontes. Não me dei nada mal aqui. E consegui arranjar maneira de continuar a produzir música aqui. Mas não vou fazer uma música diferente porque estou naquele sítio. É a minha cabeça que manda, não é a paisagem nem o ar do campo. Como é que aparece em Agronomia, não tinha média para o curso que queria?Nada disso. Fui para Agronomia porque queria ir para Agronomia. Em 1979 aconteceram quatro coisas importantes na minha vida. Comecei a tocar com os Xutos& Pontapés, entrei para Agronomia, fiz exames para o conservatório e entrei para a classe de contrabaixo e comecei a namorar a pessoa com que casei. Com os Xutos toda a gente sabe o que se passou. O namoro deu em casamento. O Contrabaixo e a agricultura?O contrabaixo só foi retomado aqui na Escola de Música de Santarém. O curso foi até ao fim mas não foi fácil. Havia dias em que saía dos concertos para os exames e outros em que saía dos exames para os concertos. Podia ter abandonado o curso a meio. Porque não o fez?Na altura não sabia ainda que os Xutos iriam ter sucesso. Além disso os meus pais tinham feito muitos sacrifícios para eu estudar e acabar o curso também era uma forma de mostrar reconhecimento.Não lhe puxa para a agricultura de vez em quando? Nunca sonha comprar um tractor, por exemplo, para lavrar as terras?Não. De maneira nenhuma. Quando quero a terra lavrada peço a um senhor para ir lá com o tractor.Nunca semeou uma batata? Não corta a relva do jardim?A relva corto e trato do jardim, mais nada. Como vai a cultura dos nabos em Portugal?Portugal é um país muito pouco interessado. Dá pouco valor a si próprio. Não gosta de se educar, de se cultivar. Não gosta muito de fazer esforço. Vamos atingindo algumas coisas porreiras, de vez em quando e isso basta-nos. E se o óptimo é inimigo do bom, então um suficiente mais é maravilhoso. Já não queremos ir mais longe, estamos todos satisfeitos. A nossa filosofia é esta, aquilo não correu bem mas também não correu mal. Depois, quando acontecem algumas coisas piores já nem se pensa no bom, qualquer coisa serve. Um sofrível menos serve. Vamos desleixando e depois temos uma data de coisas mal feitas. Mas não nos preocupamos. Há sempre um campeonato de futebol, uma Nossa Senhora de Fátima …Na sua qualidade de engenheiro agrónomo não acha que é altura de introduzirmos no país uma cultura alternativa? Era fundamental. Mesmo as pessoas que são boas e capazes para certas coisas acham-se boas para tudo. Costuma dizer-se: “Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão”, só que aqui os sapateiros não se limitam a tocar rabecão, tocam tudo.E desafinam…Desafinam e de que maneira.Costuma ir à feira da Agricultura?Já fui muitas vezes. Umas vezes fui lá tocar mas a maior parte da vezes como simples visitante. Quando era mais novo ia regularmente. Desde que aqui estou tenho ido menos. A mudança para o CNEMA pode ter sido boa para os expositores e para toda a gente, mas para mim, que era um visitante sem grande interesse em fazer negócios, achei que ficou menos atractiva. Gostava mais do ambiente no antigo local.O que vai ver? Gosto de ir ver o gado e as máquinas. O resto não me interessa muito. O Picasso dizia que é necessário muito tempo para se aprender a ser jovem. Como vai a sua aprendizagem? Ainda está no princípio. Tenho 46 anos. De acordo com essa máxima do Picasso ainda tenho muito a aprender para conseguir ser jovem. Mas acho que tenho sido um aluno aplicado.

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