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O Triplo Disparate

E afinal, sem grandes resultados, porque Rosinha ainda não tinha esgotado o seu prolífero acervo de disparates e, em vez de procurar um local alternativo adequado para colocar a dita escultura (o que, face à conjuntura criada, tinha de ser tratado com especial diplomacia) resolve levianamente implantá-la em Alhandra provocando, deste modo, uma violenta reacção popular que, embora irracional, era previsível para qualquer pessoa com dois dedos de testa!

Há alguns anos tive oportunidade de escrever uma curiosa crónica, denominada “A Tripla Ignorância”, respeitante a um desses episódios bizarros com que a nossa classe política tantas vezes nos brinda. Passava-se, o mesmo, na Assembleia Municipal do Entroncamento e tinha a ver com os aí considerados três níveis de ignorância, demonstrados na altura, pelo Presidente da Câmara e pelo líder da oposição: a ignorância em si mesma, a ignorância da ignorância e, ainda (não menos importante), a ignorância da gravidade da ignorância!Ora parece que as asneiras autárquicas, apresentam uma peculiar tendência para surgir em triplicado. Foi o que aconteceu recentemente em Vila Franca de Xira, onde a Presidente Rosinha foi responsável por um episódio burlesco, que teve tanto de ingénuo como de rocambolesco e, especialmente, de gravoso para as finanças municipais.A história conta-se em duas penadas: a Câmara encomendou uma escultura abstracionista destinada a ser colocada frente à praça de touros da cidade. Ora, à boa maneira do “provincianismo portuga”, os aficcionados vilafranquenses receberam mal a natureza abstracta da obra. Perante tal situação, e sem coragem para assumir a opção tomada, a Presidente da Câmara lá pensou que, para grandes males grandes remédios, encomendou de imediato uma outra escultura (esta, concerteza, mais realista) e recambiou a rejeitada para a vila de Alhandra! Só visto! Um mimo de clarividência, firmeza e contenção de custos!O que é impressionante ver é como algumas pessoas, pelos vistos com jeito para tudo na vida menos para presidentes de câmara, conseguem atingir tal desiderato e manter-se aí, às vezes, durante décadas!Não há dúvida que os imperativos de adequação à função, têm de estar, de facto, muito subvertidos pela lógica dominante do carreirismo partidário! Vejamos: se já era grave encomendar uma escultura sem aferir previamente as sensibilidades da “aficion” local (até tendo em conta a natureza algo prosaica da mesma), bem pior é que, face a tais resistências (que teremos que considerar normais num mundo em que os critérios artísticos evoluem rapidamente) se tenha acobardado e, populisticamente, optado por encomendar outra escultura (sobrecarregando o erário público em mais alguns milhares ou dezenas de milhares de contos) tudo isto à conta de um indesculpável erro duplo de gestão! Pois é! Depois surgem as asfixias económicas, as esgotadas capacidades de endividamento, as falências técnicas, etc.,...E afinal, sem grandes resultados, porque Rosinha ainda não tinha esgotado o seu prolífero acervo de disparates e, em vez de procurar um local alternativo adequado para colocar a dita escultura (o que, face à conjuntura criada, tinha de ser tratado com especial diplomacia) resolve levianamente implantá-la em Alhandra provocando, deste modo, uma violenta reacção popular que, embora irracional, era previsível para qualquer pessoa com dois dedos de testa! Pois é, Senhora Presidenta, não me diga que não tem ninguém que lhe explique que o comportamento das massas não é, muitas vezes, racional (mas sim emocional), e que o caso em presença tinha, neste sentido, todas as condições para ser visto como uma inqualificável afronta à auto-estima comunitária!Porquê?! Eu explico!Porque se tenderia, entre outras coisas, a considerar (como se considerou) que tal constituía uma segunda escolha! A entender que se a dita não serviu para Vila Franca também não serve para Alhandra! Que se fosse uma coisa boa não a mandavam para ali! Que é uma ofensa para os aficcionados e para todos os alhandrenses! Que não estão ali para receber o lixo dos outros! Que aquilo é uma vergonha e que estão mas é a gozar com o pagode! E,.. por aí diante!É tão difícil perceber isto? Eu sei que ser-se intelectualmente limitado não é forçosamente obrigatório para se vir a ser autarca neste país! Não há nenhuma lei que o obrigue, é um facto! Mas começo a desconfiar que, de uma forma ou doutra, tal constitui muitas vezes condição necessária, se não suficiente, para o “normal” e usual exercício do cargo!A avaliar por certas decisões, estou até convencido que existem pessoas que devem pensar que a cabeça existe apenas para servir de remate ao pescoço!

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