Como é que assistiu ao definhamento da indústria de Tomar? Essa situação teve uma razão política, por causa das nacionalizações. A Mendes Godinho tinha um banco. Por via da nacionalização do banco, a empresa também foi nacionalizada. Começou aí o descalabro…A fábrica de papel da Matrena é outra história triste.A Matrena foi também pela via da crise na indústria de papel e porque morreu o antigo dono. Depois veio outro indivíduo pegar naquilo, quiseram fazer a fábrica nova…E aí deram um passo maior que a perna?Pois. Tramou toda a gente. Ficaram lá 650 mil contos que nem era dinheiro meu, era dinheiro que o banco me emprestou. E tive de estar a pagar juros a 25%... Depois não tive dinheiro para pagar em 1991, tive de pedir carência ao banco e só consegui pagar aquilo em 1999. Paguei ao todo um milhão e 200 mil contos.Sem ter realizado nada?Nada! Está lá a fábrica… E nem sequer as coisas que lá pus pude ir buscar. Isso atrapalhou-me muito a vida. Esse dinheiro naquela altura… Só em relação à Matrena foi mais de um milhão de contos. Mas houve mais casos onde fiquei credor que foi outro tanto, como a Valura, a Fonseca e Filhos.Como é que conseguiu aguentar o barco?Só à conta de muito trabalho, muito sacrifício e de ter outros negócios.É por isso também que não é uma pessoa esbanjadora?Exacto.Nunca pensou fazer uma extravagância como comprar um Ferrari, por exemplo?Não. Raramente compro um carro novo. O meu carro actual custava 27 mil contos novo e comprei-o por 18.500 contos com 35 mil quilómetros. Importei-o. Mesmo em termos de equipamento, compro muito usado.Não entra em extravagâncias mas gosta de viajar. Falava há pouco que gosta de ir ao Brasil?Tenho ido ao Brasil com regularidade e a maior parte das vezes é através de ofertas que me fazem de empresas. Gosto imenso de lá ir.Não tem lá negócios?Não. Cheguei a pensar em investir lá. Mas acabou não se concretizar.