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As touradas podiam resumir-se às pegas

Foi a primeira vez que entrei numa praça de toiros para ver uma corrida. Estava acima de tudo receosa, embora não soubesse explicar porquê. À minha volta o ambiente era de festa. Brava, entenda-se. Por momentos quis sentir o que eles sentiam: emoção, ansiedade e expectativa, muita expectativa. Mas eu só tinha uma certeza: eu não vou gostar disto, nunca gostei e nem acredito que estou aqui para ver uma corrida de toiros. Ao toque da corneta entrou o primeiro animal com 555 kg. O público aplaudiu, eu fiquei à espera.O cavaleiro António Ribeiro Telles começou a lidar o toiro, o público aplaudia e a Banda do Ateneu Artístico Vilafranquense tocava (soube depois que em sinal de uma boa prestação). Entrou depois o jovem Manuel Telles Bastos e eu não compreendia. Fixava o meu olhar no toiro que num primeiro momento vira como um animal imponente e agora via um animal indefeso e cansado. O sangue escorria pelo dorso do toiro, notavelmente incomodado com as bandarilhas que tinha espetadas. Perguntei-me então o que sentiam as pessoas que estavam à minha volta e que vibravam com cada espetadela. Fosse o que fosse, era bom, porque elas sorriam e tinham os olhos a brilhar. E por alguns instantes invejei-os por isso. Chegou a vez dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira. Fiquei ainda mais tensa, porque me recordei das imagens televisivas em que forcados “voavam” e se magoavam com frequência. Fechei os olhos, confesso. Na segunda pega voltei a fechar os olhos, mas senti uma emoção que não estava à espera.A farda, o alinhamento na arena antes da pega e a depois, a confusão total. Um amontoado de corpos em cima do toiro sem o magoarem. O meu coração acelerou e fechei os olhos. Passei então a seguir com atenção os movimentos dos forcados. A descontracção, pelo menos aparente, entre pegas, os exercícios antes da entrada na arena e o apelo à intervenção divina. Desta vez não fechei os olhos e acabei por ver o que temia: um dos elementos acabou por sair ferido. Apesar disso, gostei da sensação que me provocou a pega. Acelerou o meu ritmo cardíaco e fez-me vibrar.O toureio a pé de José Luís Gonçalves não despertou no público a emoção que eu estava à espera, e creio que eles também. Já com o espanhol Javier Valverde os aficionados fizeram-se ouvir. Para mim foi enfadonho. Provavelmente não entendi a beleza da arte do toureio a pé. Nem a cavalo. Não entendi porque o público se divertia a ver um animal a ser espetado. Nem porque gostavam os toureiros e os cavaleiros de espetar as bandarilhas. Não entendi, mas respeito. Por mim, as touradas poderiam resumir-se às pegas. Sara Cardoso

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