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Onde andam os adoradores do belo?

Onde andam os adoradores do belo?

Foi quando a sombra se alongou por toda a praça que a corrida chegou ao fim. É tão frágil a ilusão de controlar a natureza. Vem uma sombra pelo final da tarde e estamos de volta à origem. Vi a pele de uma deusa arrepiar-se de frio. Quando ela vestiu o casaco ocultando o branco imaculado da camisa rendada acabou a magia. O touro tropeçou nas próprias pernas, deslizou na terra à procura da salvação.Não me falem de aficionados esclarecidos. De erros humanos. Quando a sombra tapou por completo a meia-lua de sol que iluminava a arena o meu sangue foi aos tropeções, como o último da tarde, refugiar-se nos curros do coração.Que bonita é a praça Palha Blanco em dia de tourada. Um poema de-bruado no topo com versos antigos. Onde andam os adoradores do belo? Uma tarde de domingo numa tourada é uma viagem no tempo. Cavalos, touros, divindades refulgentes como os príncipes das histórias de infância. Heróis. As lendas que se podem construir no carrocel dos volteios. Gestos de esculturas gregas. Cheiros do princípio do mundo.Um jovem a cavalo inclina-se para beijar a face de outro homem num gesto público de afecto. Um grupo aguenta unido a investida do animal. Um toureiro acaricia o dorso do toiro com mãos de terno amante. Ouve-se o respirar de sentimentos sob o manto da sombra. Relampejam-nos na memória desenhos de cor. Memórias recentes de sol a pino. Um pássaro estende as asas entre o céu e a terra.Há uma mancha de sangue que escorre num tom escuro pela tela de um pintor. Uma banda toca debaixo de um toldo branco. Um leque que se abre. Uma mantilha negra que desliza pelos ombros nus de uma mulher. Fecho os sentidos à fealdade. Abraço a beleza trágica da vida. E sou agredido à saída pela violência do mundo. Alberto Bastos
Onde andam os adoradores do belo?

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